Colombianos que lutaram na Ucrânia tornam-se prisioneiros russos após deportação venezuelana

Reportagem revela que dois soldados colombianos que lutaram na Ucrânia estão atualmente detidos em Moscou, supostamente depois de terem sido extraditados para a Rússia pelo governo de Maduro

Após anos de relações tensas entre Venezuela e Colômbia, marcadas inicialmente por Hugo Chávez e Álvaro Uribe, e posteriormente por Nicolás Maduro e Iván Duque, os dois países finalmente começaram a se aproximar com a eleição de Gustavo Petro, o primeiro presidente de esquerda colombiano. No entanto, por conta da suspeita de fraude no país vizinho, Petro condiciona o reconhecimento dos resultados eleitorais na Venezuela à divulgação de “dados desagregados e verificáveis” e propôs uma nova votação, rejeitada por governo e oposição. Isso trouxe novos problemas, segundo o Latin Times.

Nesse cenário, uma revelação do jornal The New York Times ameaça intensificar ainda mais as tensões entre Colômbia e Venezuela, ampliando o conflito para um contexto geopolítico mais amplo.

A reportagem aponta que dois soldados colombianos que lutaram pela Ucrânia estão atualmente detidos em Moscou, após supostamente terem sido extraditados para a Rússia pelo regime de Maduro. Os soldados, José Medina e Alejandro Ante, foram presos ao chegarem em Moscou, após desaparecerem no mês passado na Venezuela, país conhecido por seus fortes laços com a Rússia.

Membro da Agrupações de Forças Especiais Antiterroristas Urbanas (AFEAU), divisão de combate ao terror do exército colombiano (Foto: WikiCommons)

Os combatentes colombianos apareceram em um vídeo da mídia estatal russa na sexta-feira (30), onde a polícia secreta da Rússia os interrogou sobre sua participação nas Forças Armadas Ucranianas. Eles haviam servido na Ucrânia por oito a dez meses. Na quinta-feira (29), um tribunal de Moscou decidiu mantê-los presos, acusando-os de serem mercenários, o que infringe tanto as leis russas quanto as normas internacionais.

Familiares dos dois militares colombianos confirmaram à reportagem que os homens no vídeo, sendo arrastados por agentes de segurança e depois interrogados, eram Medina e Ante.

Os dois homens foram vistos pela última vez em Caracas no dia 18 de julho, quando voltavam dos campos de batalha na Ucrânia. Medina enviou um vídeo para sua esposa antes de compartilhar sua localização no aeroporto de Caracas e, em seguida, ficou incomunicável.

O governo venezuelano não comentou sobre a detenção e extradição dos soldados colombianos. É o primeiro caso conhecido de combatentes estrangeiros da Ucrânia sendo presos em um terceiro país e enfrentando acusações. Rússia e Ucrânia recrutaram estrangeiros para suas forças militares, com muitos sendo atraídos pelos incentivos financeiros, e os colombianos foram valorizados por sua experiência em combate. Isso porque o Exército da Colômbia lida com o narcotráfico, grupos rebeldes e organizações criminosas que operam em áreas de conflito e controle territorial por décadas, tornando seus soldados uns dos mais experientes do mundo.

Estrangeiros em Kiev

Soldados colombianos aposentados começaram a trabalhar no exterior por volta do ano de 2000 como contratados militares dos EUA, protegendo infraestrutura no Iraque e atuando como instrutores nos Emirados Árabes Unidos. Alguns também participaram de operações no Iêmen contra os rebeldes Houthis, apoiados pelo Irã.

No início de 2022, autoridades de Kiev divulgaram que cerca de 20 mil pessoas de 52 países estavam na Ucrânia, inclusive brasileiros. Agora, embora não revelem números precisos, afirmam que o perfil dos combatentes mudou, mantendo em segredo quantos estão no campo de batalha.

Inicialmente, a maioria dos voluntários vinha de países pós-soviéticos ou de língua inglesa, o que facilitava sua integração ao Exército ucraniano, especialmente se falassem russo ou inglês. No último ano, o Exército estabeleceu uma infraestrutura com recrutadores, instrutores e oficiais operacionais que falam espanhol.

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