Crianças estão entre as vítimas de crimes contra a humanidade na Nicarágua, diz ONU

Relatório indica que a repressão piorou no último ano e atinge menores de idade que acabam separados de seus familiares exilados

A ONU (Organização das Nações Unidas) voltou a acusar o governo da Nicarágua de “violações sistemáticas dos direitos humanos, equivalentes a crimes contra a humanidade.” Um novo relatório aponta que a situação piorou no último ano, atingindo inclusive crianças que acabam separadas dos familiares.

“O presidente [Daniel] Ortega, a vice-presidente [Rosario] Murillo e os altos funcionários do Estado identificados na investigação devem ser responsabilizados perante a comunidade internacional, assim como a Nicarágua, como um Estado que persegue o seu próprio povo, visando estudantes universitários, povos indígenas, pessoas afrodescendentes, camponeses e membros da Igreja Católica e de outras denominações cristãs”, disse Jan Simon, presidente do Grupo de Especialistas da ONU que elaborou o relatório.

O presidente da Nicarágua, Daniel Ortega, em foto de 2012 (Foto: Chancelaria do Equador)

O documento reforça denúncias anteriores, feitas inclusive pela própria ONU, e diz que a situação tem piorado, com métodos “mais refinados” adotados pelo regime. A repressão permitiu ao governo desmantelar a oposição, eliminando toda as vozes críticas e dissuadindo quaisquer mobilizações no sentido de estabelecer novos focos de dissidência.

“A Nicarágua está envolvida numa espiral de violência marcada pela perseguição de todas as formas de oposição política, seja real ou aparente, tanto a nível interno como externo”, afirmou Simon. “Além disso, o governo solidificou uma espiral de silêncio que incapacita qualquer oposição potencial.”

Os alvos são não apenas os opositores reais. Em muitas casos, acabam atingidas pessoas consideradas dissidentes em potencial, mesmo que não tenham agido efetivamente contra o governo. Ultimamente, nem mesmo a fuga do país livra os nicaraguenses da perseguição, com casos de cidadãos privados da nacionalidade e sem acesso aos serviços consulares no exterior.

Angela Buitrago, outra membro do Grupo de Especialistas, destaca ainda as “violações que impedem a reunificação familiar”, o que atinge inclusive menores de idade. Segundo o relatório, “muitas crianças foram separadas de pais que foram deportados ou proibidos de entrar na Nicarágua, e a algumas foram negados passaportes válidos para se juntarem aos pais.”

Com todo o poder centralizado nas mãos de Ortega, a ONU destaca a impunidade que impera nesses casos. Segundo o documento, “o governo garantiu que permanecerá numa bolha cada vez mais sólida para se perpetuar no poder e aniquilar qualquer pessoa que tente romper essa bolha.”

Além de instar a Nicarágua a libertar os presos políticos, dar fim às violações e realizar investigações “independentes e transparentes” para punir os perpetradores, o relatório também cobra a comunidade internacional para que adote medidas mais dura contra o regime nicaraguense. Pede, para tanto, sanções mais amplas contra “indivíduos e instituições envolvidas em violações dos direitos humanos.”

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