A pior recessão em 100 anos na América Latina, causada pelo novo coronavírus, pode empurrar um total de 73 milhões de pessoas para a pobreza. Destas, 28 milhões podem cair na miséria. O cálculo foi apresentado em relatório divulgado pela ONU (Organização das Nações Unidas) nesta quinta (8).
A entidade teme um aumento das convulsões sociais na região em decorrência desse salto no número de pessoas pobres. Em 2019, nações como o Chile, Colômbia, Peru, República Dominicana, Equador e Bolívia foram sacudidas por protestos – que podem voltar com força com a nova crise econômica.
Antes da pandemia, observa o relatório, o modelo de desenvolvimento latino-americano e caribenho já enfrentava “limitações estruturais”. Entre elas estão baixo crescimento, altíssima desigualdade social e pauta exportadora limitada a produtos de baixo valor agregado, o que historicamente legou à região crises cambiais e de dívida.
Também há alta informalidade no mercado de trabalho, desastres naturais – também causados por mudanças climáticas – e devastação institucionalizada dos biomas da região. A alta taxa de homicídios da América Latina, que afeta o Brasil e outros países como Honduras e Venezuela, também é fator que emperra o desenvolvimento.
Respostas duradouras
Para a ONU, “os custos da desigualdade na região tornaram-se insustentáveis”. O primeiro passo, diz o relatório, é aumentar a transparência dos governos para consolidar a democracia. Isso significa aprimorar mecanismos de prestação de contas e de inclusão.
A entidade também recomenda um compromisso “sério” contra a corrupção e o crime organizado. A criação de empregos e de sistemas de proteção social, de sustentabilidade ambiental, de incentivo às micro e pequenas empresas e de tributação que retire parte da carga sobre os mais pobres são fundamentais.
Esses avanços não ocorrerão em um cenário de protestos e crise econômica grave. Por isso, diz o relatório, será preciso acordos nacionais a respeito de “políticas públicas, transparência, estado de direito e democracia”.