Em ação retaliatória, China anuncia a expulsão de um diplomata canadense

Beijing reagiu a movimento idêntico de Ottawa, que acusa o país asiático de ameaçar parentes de um parlamentar para pressioná-lo

A mais recente crise diplomática entre China e Canadá ganhou um novo capítulo nesta terça-feira (9), quando Beijing anunciou a expulsão de um diplomata canadense baseado em Xangai. Trata-se de uma ação retaliatória, vez que Ottawa adotou medida semelhante em meio a um escândalo envolvendo um parlamentar do país da América do Norte. As informações são da agência Reuters.

Segundo revelou o jornal Globe and Mail, parentes do político canadense Michael Chong, que vivem em Hong Kong, foram um alvo potencial de Beijing, que cogitava ameaçá-los como forma de pressionar o parlamentar a abandonar sua postura “anti-China”. Ele é autor de um projeto que classifica como genocídio a perseguição aos uigures na região chinesa de Xinjiang.

O caso foi descoberto e mantido em sigilo por dois anos pelo Serviço Canadense de Inteligência de Segurança (CSIS, na sigla em inglês), que o citou em um relatório de 2021. De acordo com o periódico canadense, o governo chinês teria buscado informações sobre os familiares do político em um possível esforço para fazer dele um “exemplo”, dissuadindo outros opositores a não agirem contra a China.

Instalações da embaixada do Canadá em Beijing (Foto: WikiCommons)

Nem mesmo Chong sabia do ocorrido, fato que o levou a divulgar, no dia 1º de maio deste ano, um comunicado oficial criticando o governo do primeiro-ministro Justin Trudeau.

“Estou profundamente desapontado ao descobrir, por meio de uma reportagem do Globe and Mail, que o governo Trudeau sabia há dois anos que um diplomata da RPC (República Popular da China), trabalhando no consulado em Toronto, tinha como alvo minha família em Hong Kong”, disse ele.

Chong condenou a inércia do governo de seu país, que até a semana passada permitia que o suposto autor das ameaças permanecesse no Canadá. “É óbvio e espantoso que o governo continue a fechar os olhos à ameaça de interferência estrangeira”, afirmou o político.

Foi somente na segunda-feira (8), uma semana após o caso se tornar público, que Ottawa agiu. “Não toleraremos nenhuma forma de interferência estrangeira”, disse a ministra canadense das Relações Exteriores Melanie Joly, que anunciou a expulsão de Wei e gerou a retaliação chinesa.

A resposta de Beijing veio com a expulsão de Jennifer Lynn Lalonde, cônsul canadense em Xangai, que tem até o dia 13 de maio para deixar a China. “Em resposta à provocação irracional do lado canadense, a China adotou medidas de retaliação correspondentes”, disse Wang Wenbin, porta-voz do Ministério das Relações Exteriores chinês.

Como já se tornou habitual em comunicados feitos por órgãos do governo, as palavras de Wang vieram acompanhadas de ameaças vagas, dizendo que, em caso de novas ações “imprudentes” do Canadá, a China “revidará com determinação e força, e o lado canadense deve arcar com todas as consequências”.

Por que isso importa?

A relação entre Ottawa e Beijing teve uma sensível piora desde o início dos casos de Michael Spavor e Michael Kovrig, cidadãos canadenses detidos na China em 2018 logo após a prisão no Canadá de Meng Wanzhou, executiva da Huawei acusada pelos EUA de espionagem industrial.

O governo canadense alega que seus dois cidadãos foram presos como retaliação, a fim de forçar Ottawa a libertar Meng, contra quem havia um mandado de prisão internacional solicitado pelos EUA. Em setembro de 2021, a executiva retornou à China, enquanto Spavor e Kovrig voltaram ao Canadá

Também pesa para a crise diplomática o veto imposto pelo Canadá à presença em sua rede 5G das empresas ZTE e Huawei, ambas da China. Além disso, Ottawa tem se aproximado cada vez mais de Taiwan, que Beijing considera parte de seu território. Dessa forma, qualquer relação diplomática direta com a ilha é considerada por Beijing uma agressão à sua integridade territorial.

Diante desse cenário, as trocas de farpas entre os governos chinês e canadense se tornaram frequentes. Em maio do ano passado, o CSIS entregou ao Parlamento local seu relatório de segurança referente ao ano de 2021. O documento destaca, entre outras questões, o aumento da espionagem chinesa no país.

O documento diz que Beijing muitas vezes faz uso de “indivíduos sem treinamento formal em inteligência que possuem conhecimentos relevantes no assunto”. São, por exemplo, cientistas e empresários recrutados por meio de programas de talentos estatais, como viagens patrocinadas e bolsas de estudo internacionais. Nesses casos, os beneficiários são posteriormente usados como espiões.

Outro modelo bastante relevante reportado pelo CSIS é o das campanhas de desinformação, atualmente uma especialidade justamente dos chineses e também da Rússia, aliada de Beijing. Tais manifestações passaram a ser notadas especialmente desde março de 2020, tendo como tema a pandemia de Covid-19.

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