Canadá bane as chinesas Huawei e ZTE de sua futura rede sem fio 5G

Decisão do governo Trudeau encerra impasse e vem carregada de implicações para a relação diplomática entre Beijing e Ottawa

A Huawei não será uma fornecedora de tecnologia dentro das futuras redes de 5G do Canadá. Na quinta-feira (19), o governo do primeiro-ministro Justin Trudeau bateu o martelo e baniu a gigante chinesa do país, seguindo a tendência de aliados de inteligência mais próximos, em particular os Estados Unidos. As informações são da Bloomberg.

Há tempos os conservadores da oposição vinham pressionando os liberais para que recusassem à corporação de telecomunicações chinesa um espaço na infraestrutura 5G do país, alegando temores de que, com as portas escancaradas, Beijing poderia espionar os canadenses com facilidade.

Na quinta, o ministro da Indústria, François-Philippe Champagne, disse que a Huawei representa uma “ameaça à segurança nacional do Canadá”. Os equipamentos da ZTE Corp também serão proibidos.

Prédio da Huawei no Canadá (Foto: Raysonho/Wikimedia Commons)

Com a determinação, as empresas canadenses terão até 2027 para remover equipamentos de ambas as companhias chinesa que eventualmente utilizem, conforme declarou o órgão governamental em comunicado.

“O governo está comprometido em maximizar os benefícios sociais e econômicos do 5G e o acesso a serviços de telecomunicações em grande escala, mas não à custa da segurança”, acrescentou a nota oficial.

A decisão de Trudeau levou mais de três anos para ser tomada, mesmo período em que as relações entre o Ottawa e Beijing ficaram estremecidas. A resolução teria sido postergada porque, caso uma proibição ocorresse à época, as tensões poderiam ser potencialmente ampliadas.

A atmosfera de piora na relação entre as nações veio na esteira da solução dos casos de Michael Spavor e Michael Kovrig, cidadãos canadenses detidos na China logo após a prisão de Meng Wanzhou, executiva da Huawei acusada pelos EUA de espionagem industrial. O incidente foi justamente uma das razões do governo canadense para adiar a decisão sobre as empresas que se tornarão provedores da rede de internet 5G alimentada por inteligência artificial (IA).

Em dezembro de 2021, o embaixador do Canadá na China anunciou sua saída do cargo após o fim da crise da Huawei. Foi no mandato de Dominic Barton que as duas nações viveram seus dias mais turbulentos em décadas, em razão das prisões.

Anúncio deve agradar Biden

Quem deverá ficar satisfeito com o anúncio do Canadá é Washington. A decisão mostra um alinhamento com o governo Joe Biden, que trabalhou para afastar seus pares da corporação chinesa. Em novembro do ano passado, o líder norte-americano assinou uma legislação com vistas a endurecer as restrições aplicadas às licenças para novos equipamentos requeridas por empresas que possam ser vistas como um risco ao país.  

Intitulada “Secure Equipment Act of 2021” (Lei de Equipamentos Seguros), a medida proíbe a Comissão Federal de Comunicações (FCC, da sigla em inglês), órgão regulador da área de telecomunicações e radiodifusão, de considerar ou autorizar o uso de produtos de empresas consideradas uma ameaça e que “representem um risco inaceitável para a segurança nacional”.

Com isso, Huawei e ZTE foram adicionadas ao mesmo rol “ingrato” em que já estavam as empresas Hytera, Hangzhou Hikvision e Zhejiang Dahua.

A embaixada chinesa no Canadá se pronunciou. Em comunicado, o órgão diplomático alegou que a lista é “infundada e viola os princípios de livre comércio e mercado”. E declarou que “a China tomará todas as medidas necessárias para proteger os interesses das empresas chinesas”.

Por que isso importa?

A Huawei tem enfrentado uma crescente desconfiança na construção de redes 5G em todo o mundo, com a implantação rejeitada em vários países. Austrália, Nova Zelândia, Estados Unidos e Reino Unido, por exemplo, já haviam banido a infraestrutura da fabricante por medo de que a China pudesse usá-la para espionagem

A desconfiança é baseada na suposta proximidade da companhia com o governo chinês. Autoridades ocidentais citam a Lei de Inteligência Nacional da China, de 2017, segundo a qual as empresas nacionais devem “apoiar, cooperar e colaborar com o trabalho de inteligência nacional”, o que poderia forçar particularmente a gigante da tecnologia a trabalhar a serviço do Partido Comunista Chinês (PCC).

Em 2020, parlamentares britânicos afirmaram em um relatório que a Huawei está “fortemente ligada ao Estado e ao PCC, apesar de suas declarações em contrário”.

E os riscos de segurança são ainda mais elevados na rede 5G, vez que a nova tecnologia incorpora softwares responsáveis por um processamento dos dados pessoais dos clientes e outras informações confidenciais.

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