Emissora da Rússia é sancionada por tentar interferir na eleição presidencial dos EUA

Washington diz que a RT, financiada pelo Estado russo, recruta influenciadores norte-americanos para difundir desinformação

O governo norte-americano acusou a emissora russa RT, antiga Russia Today, de tentar interferir nas eleições presidenciais dos EUA marcadas para novembro, cuja disputa está entre o ex-presidente Donald Trump e a atual vice-presidente Kamala Harris.

A denúncia gerou dois indiciamentos de funcionários da RT por lavagem de dinheiro, segundo relato da agência Reuters, e sanções impostas pelo Departamento do Tesouro norte-americano a dez indivíduos e duas entidades. O órgão governamental publicou um comunicado listando os sancionados, entre os quais se destaca a editora-chefe da emissora Margarita Simonyan.

De acordo com o Tesouro, agentes a serviço de Moscou usam ferramentas como a inteligência artificial generativa (IA) para viabilizar campanhas de desinformação a fim de “minar a confiança nos processos e instituições eleitorais dos Estados Unidos”.

O presidente Vladimir Putin e a editora-chefe da RT Margarita Simonyan (Foto: Kremlin/WikiCommons)

O papel da RT, de acordo com Washington, é recrutar secretamente influenciadores norte-americanos “desavisados” para fortalecer a operação de influência. A fim de mascarar seu envolvimento, a emissora teria usado uma empresa de fachada, escondendo também o papel do governo russo no plano.

“A ação de hoje ressalta os esforços contínuos do governo dos EUA para responsabilizar atores patrocinados pelo Estado por atividades que visam deteriorar a confiança pública em nossas instituições”, disse a secretária do Tesouro Janet Yellen. “O Tesouro não vacilará em nosso compromisso de salvaguardar nossos princípios democráticos e a integridade de nossos sistemas eleitorais.”

As medidas levaram a uma resposta de Moscou, segundo quem os EUA realizam uma campanha para tentar silenciar todas as vozes dissidentes e demonizar a Rússia, jogando os eleitores norte-americanos contra o país.

“Quando as autoridades recorrem a formas tão primitivas de influenciar seus eleitores, isso é o declínio das ‘democracias liberais'”, disse a porta-voz do Ministério das Relações Exteriores Maria Zakharova, de acordo com a Reuters. “Haverá uma resposta.”

Ela ainda se antecipou a eventuais novas medidas e disse que futuras ações também receberão reações equivalentes. “Alertamos que tentativas de expulsar jornalistas russos do território dos Estados Unidos, criar condições inaceitáveis ​​para seu trabalho ou quaisquer outras formas de obstrução de suas atividades, inclusive com o uso de ferramentas de visto, se tornarão a base para a tomada de medidas retaliatórias simétricas e/ou assimétricas contra a mídia americana.”

A desinformação russa e a guerra da Ucrânia

A denúncia do governo norte-americano se soma a outras feitas anteriormente contra o governo russo que também envolvem a RT. Os alvos não são apenas os EUA, mas também países da União Europeia (UE) e até o Brasil. Além dos veículos estatais de notícias, caso da citada emissora, redes sociais e o corpo diplomático russo são outros canais usados para difundir desinformação.

Um estudo do Laboratório de Pesquisa Forense Digital do think tank Atlantic Council, divulgado em março deste ano, revelou que o principal objetivo de Moscou vinha sendo difundir um discurso anti-Ucrânia e pró-Kremlin, numa tentativa de “minar o apoio ocidental e o moral interno ucraniano.”

“Na guerra de propaganda, a Rússia permanece totalmente empenhada em conduzir operações de informação em todo o mundo, apostando no longo prazo para sobreviver a qualquer unidade entre os aliados da Ucrânia e persistir até que a Ucrânia perca a vontade de lutar”, diz o relatório fruto do estudo, que tem um capítulo especialmente dedicado à América Latina.

O Brasil surge em destaque no capítulo latino-americano, segundo o qual o embaixador russo por aqui, Alexey Labetskiy, foi citado por sites e blogs nacionais em 176 artigos publicados entre 1º de janeiro de 2023 e 23 de outubro de 2023. As falas dele se concentram na narrativa do Kremlin de que “a invasão da Ucrânia foi uma operação especial para desnazificar o país”.

Embora a RT seja citada, no caso brasileiro se destaca a atuação da agência Sputnik Brasil, que chegou a ter seu fechamento anunciado em março do ano passado, sob a justificativa de que as sanções ocidentais a impediam de efetuar os pagamentos dos salários dos funcionários. Porém, o veículo seguiu no ar, embora tenha mudado seu endereço online em julho do ano passado.

“As narrativas de promoção da capacidade militar russa foram o tema mais abordado pela Sputnik Brasil em todo o período analisado”, segundo o relatório. Os relatos da agência estatal analisados destacam o despreparo e a incapacidade das Forças Armadas ucranianas na guerra, em contraste com a eficiência das tropas e dos equipamentos militares de Moscou..

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