Estado Islâmico faz ameaça sinistra e põe Nova York em alerta às vésperas de evento esportivo

Mensagem na internet sugere que o grupo atacará a Copa do Mundo de críquete: 'Vocês esperam pelos jogos. Nós esperamos por vocês'

Uma imagem publicada em seus canais de propaganda sugere que o Estado Islâmico-Khorasan (EI-K) planeja atacar a Copa do Mundo T20, evento esportivo de críquete sediado nos EUA e em seis países caribenhos. A ameaça colocou em alerta as autoridades de Nova York, que receberá uma das partida mais importantes da competição, entre Índia e Paquistão, no dia 9 de junho. As informações são da rede NBC.

O FBI, a polícia federal norte-americana, foi acionado para apurar a ameaça, que visa especificamente o jogo marcado para ocorrer no condado de Nassau, a leste da cidade de Nova York.

O EI-K usou suas redes para difundir uma imagem que mostra drones sobrevoando o Estádio Internacional de Críquete de Nassau, dentro do Parque Eisenhower, com um terrorista e uma bomba também retratados. “Você espera pelos jogos. Nós esperamos por você”, diz o pôster, que foi republicado por perfis diversos na rede social X, antigo Twitter.

Embora estejam em alerta, as autoridades norte-americanas dizem não acreditar que o grupo extremista realizará uma grande ação contra a competição. A avaliação é a de que a imagem foi difundida para incitar eventuais seguidores, os chamados “lobos solitários”, a agirem por conta própria.

A partida citada pelo grupo envolve enorme rivalidade dentro do críquete, por isso tende a receber um grande público. Também é esperado que mais de um bilhão de pessoas acompanhem o jogo pela televisão em todo o mundo, sobretudo nos dois países envolvidos.

A questão geopolítica ajuda a tornar o evento ainda mais propício a uma ação extremista. A Índia vive um momento de particular tensão entre a maioria hindu e a minoria muçulmana, alvo de perseguição ainda mais dura desde que o atual primeiro-ministro Narendra Modi assumiu o poder.

Já o Paquistão, uma nação majoritariamente islâmica, é palco frequente de ataques de facções do Estado Islâmico (EI). Foi lá, inclusive, que se originou o ramo da organização conhecido como EI-K, hoje baseado no Afeganistão e que fez a ameaça.

Nassau County International Cricket Stadium, em Nova York (Foto: divulgação/icc-cricket.com)
Nova ameaça global

Embora tenha ganhado notoriedade somente após o Taleban ascender ao poder, o EI-K não é novo no cenário global. Originário do Afeganistão, o grupo extremista opera desde 2015 e surgiu na esteira da criação do EI do Iraque e da Síria. Foi formado originalmente por membros de grupos do Paquistão que migraram para fugir da crescente pressão das forças de segurança paquistanesas. Não há diferença substancial entre as facções, somente o local de origem, a região de Khorasan, originalmente parte do Irã.

Após o fim da ocupação estrangeira no Afeganistão, o EI-K tornou-se mais ativo e é hoje o principal desafio de segurança do país. Seus principais alvos são membros de minorias étnicas xiitas e os próprios talibãs, tratados como apóstatas pela facção de Khorasan sob a acusação de que abandonaram a jihad por uma negociação diplomática.

Os ataques suicidas são a principal marca do EI-K, que habitualmente tem uma alta taxa de mortes por atentado. O mais violento de todos ocorreu durante a retirada de tropas dos EUA e da Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte), quando as bombas do grupo mataram 183 pessoas na região do aeroporto de Cabul em agosto de 2021.

Ultimamente, porém, os ataques do grupo cada vez mais atingem estrangeiros. “O EI-K expandiu sua lista de alvos e incluiu diplomatas, infraestrutura crítica e multidões em locais públicos”, disse em fevereiro do ano passado Mahmut Cengiz, professor da Universidade George Mason, nos EUA, em artigo publicado na revista Homeland Security Today

Em janeiro de 2023, um ataque suicida no Afeganistão deixou ao menos cinco pessoas mortas em uma região que abriga embaixadas estrangeiras, como as de China e Turquia. Já um hotel frequentado sobretudo por chineses foi atacado em dezembro de 2022, sem vítimas civis. Na ocasião, Beijing emitiu um comunicado para que seus cidadãos deixassem o país “o mais rápido possível”.

O fortalecimento interno permitiu ao EI-K se expandir internacionalmente. Segundo levantamento do site independente russo Important Stories, ao menos cinco países europeus impediram ataques da facção nos últimos anos: AlemanhaÁustriaEspanhaFrança e Holanda.

Quem não conseguiu conter a violência dos insurgentes foi a Rússia. No dia 22 de março, na casa de espetáculos Crocus City Hall, em Moscou, 144 morreram após quatro homens com rifles automáticos invadirem o local e dispararem contra a multidão. O EI-K assumiu a autoria.

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