Brasil estava na rota do Estado Islâmico em plano para assassinar o ex-presidente George W. Bush

Cidadão iraquiano preso em Columbus teria colaborado com os planos para o atentado, uma vingança pela Guerra do Iraque

O FBI (Serviço Federal de Investigação, da sigla em inglês), dos EUA, revelou na terça-feira (24) que prendeu um homem acusado de planejar, a mando do Estado Islâmico (EI), um atentado contra a vida do ex-presidente norte-americano George W. Bush. E o Brasil fez parte da rota do grupo extremista na tentativa de viabilizar o atentado frustrado, de acordo com o jornal The New York Times.

O acusado é Shihab Ahmed Shihab Shihab, cidadão iraquiano preso em Columbus, Estado de Ohio. Ele teria trabalhado para tentar colocar nos Estados Unidos imigrantes ilegais que ajudariam na ação, uma vingança pela Guerra do Iraque iniciada pelo ex-presidente durante sua gestão. O ingresso de quatro iraquianos, todos membros do EI, ocorreria através de uma rota que passa pelo Brasil.

De acordo com o FBI, Shihab se descreveu como um “soldado à espera de instruções da liderança no Catar”. Ele é acusado de planejar o fornecimento de material para apoiar o atentado e também de crimes ligados à imigração ilegal. No processo de preparação do crime, o iraquiano teria visitado a residência de Bush em Dallas, Estado do Texas, para analisar a segurança do local.

George W. Bush foi presidente dos EUA entre 2001 e 2009 (Foto: Wikimedia Commons)

O plano foi descoberto com a ajuda de dois informantes infiltrados no movimento extremista, sendo que um deles serve ao FBI há mais de uma década. A uma dessas fontes, o iraquiano teria dito que “não se importava se morresse, pois ficaria orgulhoso”. Na visão do terrorista, Bush foi responsável por “fragmentar” o Iraque ao invadi-lo em 2003.

Entre as evidências coletadas estão conversas de áudio gravadas e trocas de mensagens de texto pelo WhatsApp. Um dos informantes prometeu ajudar Shihab a colocar os imigrantes ilegais nos EUA através de uma rota que parte do Brasil.

O homem preso pelo FBI, por sua vez, ingressou em território norte-americano em setembro de 2020, com um visto de turista obtido com a ajuda de um contato na Embaixada dos EUA no Iraque. Ele chegou a pedir asilo no país e também cogitou se casar com uma norte-americana para obter a cidadania.

Shihab disse aos dois informantes que tinha conexões com o EI, tendo participado de operações para matar soldados dos EUA no Iraque entre 2003 a 2006. Também disse que transportou veículos e armas da Síria para o Iraque e que era parente do antigo líder do grupo extremista, Abu Bakr al-Baghdadi, morto na Síria em 2019.

Por que isso importa?

Nos últimos anos, o EI se enfraqueceu financeira e militarmente. Em 2017, o exército iraquiano anunciou ter derrotado a organização no país, com a retomada de todos os territórios que ela dominava desde 2014. O grupo, que chegou a controlar um terço do Iraque, hoje mantém apenas células adormecidas que lançam ataques esporádicos, quase sempre focados em agentes do governo. Já as FDS (Forças Democráticas Sírias), uma milícia curda apoiada pelos EUA, anunciaram em 2019 o fim do “califado” criado pela organização extremista na Síria.

Em janeiro deste ano, o grupo sofreu mais um duro golpe quando o exército norte-americano anunciou ter matado Abu Ibrahim al-Hashimi al-Qurashi, principal líder da facção. Durante uma operação antiterrorismo dos EUA na Síria, ele explodiu uma bomba que carregava junto ao corpo, matando também mulheres e crianças que o acompanhavam. O evento foi semelhante a outro, em 2019, que terminou com a morte do líder anterior da organização extremista, Abu Bakr al-Baghdadi.

De acordo com um relatório do Conselho de Segurança da ONU (Organização das Nações Unidas) publicado em fevereiro de 2022, as perdas territoriais e de pessoal transformaram o EI, que antes controlava boas partes da Síria e do Iraque, em “uma insurgência principalmente rural, resistindo à pressão antiterrorista sustentada pelas forças da região”.

A pandemia também continua a ser um desafio, pois impede as “viagens transfronteiriças, diminuindo as ameaças decorrentes de fluxos de combatentes em zonas de conflito e viagens terroristas mais amplas em zonas de não conflito”. Por outro lado, a estagnação do terrorismo em meio à onda de Covid-19 aumenta as “oportunidades de recrutamento e radicalização online”, criando a perspectiva de uma retomada futura das ações extremistas globais.

Outro risco que o grupo oferece é a presença de milhares de ex-combatentes em prisões e campos de deslocados em várias partes do mundo. Devolvê-los a seus países de origem e processá-los judicialmente é um desafio para os Estados-Membros da ONU, e os estabelecimentos que abrigam os extremistas são um potencial alvo de ataques para o EI. Exatamente como ocorreu na prisão de Ghwayran, na cidade de al-Hasakah, na Síria, invadida pelo grupo com a meta de libertar seguidores.

“Devido à capacidade severamente degradada, a sobrevivência futura do EI depende de sua capacidade de reabastecer as fileiras por meio de tentativas mal concebidas, como o ataque a Hasakah”, afirmou o major-general norte-americano John W. Brennan Jr., comandante da força de coalização liderada pelos EUA para combater o EI. Segundo ele, a ação na prisão síria gerou enorme prejuízo ao grupo terrorista, que “sentenciou à morte muitos dos seus que participaram deste ataque”.

Atualmente, o principal reduto do EI é o continente africano, onde consegue se manter relevante graças ao recrutamento online e à ação de grupos afiliados regionais. A expansão do grupo em muitas regiões da África desde o início de 2021 é alarmante e pode marcar sua retomada de força. No Sudeste Asiático, ao contrário, os países da região têm obtido sucesso significativo em interromper o terrorismo de facções afiliadas.

No Brasil

Casos mostram que o Brasil é um porto seguro para extremistas. Em dezembro de 2013, levantamento do site The Brazil Business indicava a presença de ao menos sete organizações terroristas no Brasil: Al Qaeda, Jihad Media Battalion, Hezbollah, Hamas, Jihad Islâmica, Al-Gama’a Al-Islamiyya e Grupo Combatente Islâmico Marroquino.

Em 2001, uma investigação da revista VEJA mostrou que 20 membros terroristas de Al-Qaeda, Hamas e Hezbollah viviam no país, disseminando propaganda terrorista, coletando dinheiro, recrutando novos membros e planejando atos violentos.

Em 2016, duas semanas antes do início dos Jogos Olímpicos no Rio, a PF prendeu um grupo jihadista islâmico que planejava atentados semelhantes aos dos Jogos de Munique em 1972. Dez suspeitos de serem aliados ao Estado Islâmico foram presos e dois fugiram.

Mais recentemente, em dezembro de 2021, três cidadãos estrangeiros que vivem no Brasil foram adicionados à lista de sanções do Tesouro Norte-americano. Eles são acusados de contribuir para o financiamento da Al-Qaeda, tendo inclusive mantido contato com figuras importantes do grupo terrorista.

Para o tenente-coronel do Exército Brasileiro André Soares, ex-agente da Abin (Agência Brasileira de Inteligência), o anúncio do Tesouro causa “preocupação enorme”, vez que confirma a presença do país no mapa das organizações terroristas islâmicas.

“A possibilidade de atentados terroristas em solo brasileiro, perpetrados não apenas por grupos extremistas islâmicos, mas também pelo terrorismo internacional, é real”, diz Soares, mestre em operações militares e autor do livro “Ex-Agente Abre a Caixa-Preta da Abin” (editora Escrituras). “O Estado e a sociedade brasileira estão completamente vulneráveis a atentados terroristas internacionais e inclusive domésticos, exatamente em razão da total disfuncionalidade e do colapso da atual estrutura de Inteligência de Estado vigente no país”. Saiba mais.

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