Militar que lidera coalizão vê EI mais fraco após ataque ‘desesperado’ a presídio sírio

Ao menos 175 jihadistas foram mortos na ação de tomada de uma prisão na Síria, que tinha como objetivo libertar membros do EI

O Estado Islâmico (EI) “sentenciou à morte” muitos de seus próprios combatentes e se enfraqueceu em função do ataque à prisão de Ghwayran, em al-Hasakah, na Síria, na última quinta-feira (20). A afirmação foi feita pelo major-general John W. Brennan Jr., comandante da força de coalização liderada pelos EUA e composta por mais de 30 países, cuja missão é combater o EI na Síria e no Iraque.

Ao menos 175 jihadistas foram mortos na ação de tomada da prisão, que tinha como objetivo libertar membros do EI ali detidos. A ação foi combatida pelas Forças Democráticas Sírias (FDS), que contaram com o suporte da coalizão e conseguiram cercar a área e conter a invasão, evitando assim uma fuga em massa de terroristas.

“Em sua tentativa desesperada de mostrar relevância, o EI sentenciou à morte muitos dos seus que participaram deste ataque”, disse Brennan Jr, relatando também que os jihadistas executaram agentes prisionais durante a ação. “Muitos detidos do EI apreenderam armas de guardas prisionais que eles assassinaram. E, posteriormente, envolveram forças de reação rápida das FDS”.

Segundo o militar, as forças de segurança, ao contrário dos extremistas, agiram dentro dos limites do razoável. “A coalizão tomou grandes medidas para garantir o tratamento humano dos detidos. Mas, quando os detidos do EI pegaram em armas, eles se tornaram uma ameaça ativa e foram posteriormente engajados e mortos pelos ataques aéreos das FDS e da coalizão”.

John W. Brennan Jr., militar no comando da coalizão que combate o Estado Islâmico (Foto: Wikimedia Commons)

Brennan Jr destacou ainda a ação da coalizão no Iraque, onde derrotou o EI em 2017, enquanto as FDS cumpriram o mesmo papel na Síria, em 2019. “A coalizão respondeu ao pedido de ajuda em 2014, quando o EI devastou a região, controlando centenas de milhares de quilômetros de território, e 8 milhões de civis inocentes foram vítimas de sua brutalidade. A coalizão degradou, desmantelou e, finalmente, destruiu o califado territorial do EI em 2017″.

Mesmo derrotado, o grupo ainda é uma ameaça, pois mantém células adormecidas que realizam ataques esporádicos e busca novos integrantes. Mas isso tende a diminuir, segundo o militar. “Devido à capacidade severamente degradada, a sobrevivência futura do EI depende de sua capacidade de reabastecer as fileiras por meio de tentativas mal concebidas, como o ataque a Hasakah. A convite da República do Iraque, continuaremos a aconselhar, ajudar e permitir que nossas forças parceiras garantam que o EI não possa se regenerar no Iraque ou na Síria”, disse.

Portugal e Espanha na mira

O EI revelou recentemente planos ousados para atacar Portugal e Espanha e conquistar, assim, o território que os muçulmanos denominam Al Andaluz, antigo domínio islâmico do Califado Omíada que compreende praticamente toda a Península Ibérica. As intenções foram publicadas em um editorial do jornal Al Naba, publicação semanal que o grupo lançou em 2014.

Para executar seu plano, o grupo aposta no uso de crianças-soldado. São jovens raptados sobretudo por facções do EI na África e treinadas para engrossar as fileiras de grupos como o  ISWAP (Estado Islâmico da África Ocidental), atuante no nordeste da Nigéria e que recentemente divulgou um vídeo na internet com dezenas de criança-soldado treinando e executando soldados nigerianos.

O grupo extremista aposta na capacidade de os jovens ingressarem nos países ibéricos junto das ondas de migrantes que tentam entrar na Europa pela costa, sobretudo através da Espanha, mas também de Portugal. Na publicação, o EI afirmou que as crianças são a “geração do empoderamento” e uma “bomba-relógio” a ser preparada, de acordo com o jornal Correio da Manhã.

Por que isso importa?

Nos últimos anos, o EI se enfraqueceu financeira e militarmente. Em 2017, o exército iraquiano anunciou ter derrotado a organização no país, com a retomada de todos os territórios que ela dominava desde 2014. O grupo, que chegou a controlar um terço do Iraque, hoje mantém apenas células adormecidas que lançam ataques esporádicos, quase sempre focados em agentes do governo. Já as Forças Democráticas Sírias (FDS), apoiadas pelos EUA, anunciaram em 2019 o fim do “califado” criado pela organização extremista na Síria.

De acordo com um relatório do Conselho de Segurança da ONU (Organização das Nações Unidas), publicado em julho de 2021, a prioridade do EI atualmente é “o reagrupamento e a tentativa de ressurgir” em seus dois principais domínios, Iraque e Síria, onde ainda mantém cerca de 10 mil combatentes ativos. O documento sugere, ainda, que o grupo teve considerável perda financeira, devido a dois fatores: as operações antiterrorismo no mundo e a má gestão de fundos por parte de seus líderes.

Paralelamente à derrocada do EI, a pandemia de Covid-19 reduziu o número de ataques terroristas em regiões sem conflito, devido a fatores como a redução do número de pessoas em áreas públicas. Entretanto, grupos jihadistas têm se fortalecido em zonas de conflito, e isso pode causar um impacto na segurança global conforme as regras de restrição à circulação são afrouxadas.

Esse cenário permitiu ao EI, particularmente, ganhar uma sobrevida, fazendo uso sobretudo do poder da internet. À medida em que as restrições relacionadas à pandemia diminuem gradualmente, há uma elevada ameaça de curto prazo de ataques inspirados no grupo fora das zonas de conflito. São ações empreendidas por atores solitários ou pequenos grupos que foram radicalizados e incitados através da internet.

Atualmente, o principal reduto do EI é o continente africano, onde consegue se manter relevante graças ao recrutamento online e à ação de grupos afiliados regionais. A expansão do grupo em muitas regiões da África desde o início de 2021 é alarmante e pode marcar a retomada de força da organização.

No Brasil

Casos mostram que o Brasil é um porto seguro para extremistas. Em dezembro de 2013, levantamento do site The Brazil Business indicava a presença de ao menos sete organizações terroristas no Brasil: Al Qaeda, Jihad Media Battalion, Hezbollah, Hamas, Jihad Islâmica, Al-Gama’a Al-Islamiyya e Grupo Combatente Islâmico Marroquino.

Em 2001, uma investigação da revista VEJA mostrou que 20 membros terroristas de Al-Qaeda, Hamas e Hezbollah viviam no país, disseminando propaganda terrorista, coletando dinheiro, recrutando novos membros e planejando atos violentos.

Em 2016, duas semanas antes do início dos Jogos Olímpicos no Rio, a PF prendeu um grupo jihadista islâmico que planejava atentados semelhantes aos dos Jogos de Munique em 1972. Dez suspeitos de serem aliados ao Estado Islâmico foram presos e dois fugiram.

Mais recentemente, em dezembro de 2021, três cidadãos estrangeiros que vivem no Brasil foram adicionados à lista de sanções do Tesouro Norte-americano. Eles são acusados de contribuir para o financiamento da Al-Qaeda, tendo inclusive mantido contato com figuras importantes do grupo terrorista.

Para o tenente-coronel do Exército Brasileiro André Soares, ex-agente da Abin (Agência Brasileira de Inteligência), o anúncio do Tesouro causa “preocupação enorme”, vez que confirma a presença do país no mapa das organizações terroristas islâmicas.

“A possibilidade de atentados terroristas em solo brasileiro, perpetrados não apenas por grupos extremistas islâmicos, mas também pelo terrorismo internacional, é real”, diz Soares, mestre em operações militares e autor do livro “Ex-Agente Abre a Caixa-Preta da Abin” (editora Escrituras). “O Estado e a sociedade brasileira estão completamente vulneráveis a atentados terroristas internacionais e inclusive domésticos, exatamente em razão da total disfuncionalidade e do colapso da atual estrutura de Inteligência de Estado vigente no país”. Saiba mais.

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