‘Gerações de haitianos’ estão em risco, adverte Guterres em meio à violência no país

Problema é também humanitário, e plano de resposta da ONU, que requer US$ 720 milhões, está apenas 23% financiado

No sábado (1º), em Porto Príncipe, o secretário-geral da ONU (Organização das Nações Unidas), António Guterres, expressou solidariedade ao povo do Haiti, que “enfrenta um ciclo terrível e mutuamente reforçador de crises”. Ele aproveitou a oportunidade para reforçar o pedido por uma força internacional para ajudar a Polícia Nacional no combate à violência das gangues.

O chefe da ONU expressou profunda preocupação com a extrema vulnerabilidade enfrentada pelo povo haitiano, especialmente mulheres e meninas, por causa de gangues armadas brutalmente violentas e “predatórias”, como as que cercam a capital, bloqueiam estradas principais e controlam o acesso a água, comida, e saúde.

“Condeno com a maior veemência a violência sexual generalizada que os bandos armados têm usado como arma para instilar o medo”, disse, apelando a toda a comunidade internacional para “colocar com urgência as vítimas e a população civil no centro da nossa preocupações e prioridades.”

Falando a repórteres na capital haitiana, Guterres disse que soluções políticas duradouras e totalmente representativas no Haiti seriam impossíveis sem uma melhoria drástica na situação de segurança.

“Cada dia conta. Se não agirmos agora, a instabilidade e a violência terão um impacto duradouro em gerações de haitianos”, alertou o secretário-geral, pedindo a todos os parceiros que aumentem seu apoio à polícia nacional na forma de financiamento, treinamento ou equipamento.

No entanto, tal assistência por si só pode não ser suficiente para restaurar a autoridade do Estado.

“Continuo instando o Conselho de Segurança a autorizar o envio imediato de uma força internacional robusta para auxiliar a Polícia Nacional do Haiti em sua luta contra as gangues”, enfatizou o chefe da ONU.

Haitianos fogem da polícia em protestos contra o governo na capital Porto Príncipe, Haiti, em novembro de 2020 (Foto: WikiCommons/Al-Jazeera)
Entente política para acabar com a crise

Durante sua visita de um dia à capital haitiana, o secretário-geral se reuniu com o primeiro-ministro Ariel Henry, o Alto Conselho de Transição, membros da sociedade civil e dos partidos políticos, falando a todos eles sobre a necessidade de ‘uma entente política para acabar com a crise’ .

“Apelo a todos os intervenientes para que criem as condições necessárias para o restabelecimento das instituições democráticas”, disse Guterres, convidando todas as partes envolvidas a “subir acima dos interesses pessoais e fazer concessões” permitindo a emergência de uma visão comum e estabelecendo uma solução viável e credível via eleitoral.

Ele elogiou as recentes conversações inter-haitianas, facilitadas pelo Grupo de Pessoas Eminentes da Cúpula da Comunidade do Caribe (Caricom), com o objetivo de chegar a um acordo sobre a formação de um governo de unidade nacional e a expansão do Alto Conselho de Transição.

“Apenas um diálogo nacional inclusivo, com a plena participação de mulheres e jovens, ajudará a acabar com a insegurança e encontrar soluções políticas duradouras”, disse Guterres, acrescentando que o Escritório Integrado das Nações Unidas no Haiti (BINUH) e toda a ONU continuariam a apoiar esses esforços.

‘Uma questão de justiça moral’

Enquanto estava em Porto Príncipe, o secretário-geral encontrou-se com homens e mulheres locais.

“Senti todo o esgotamento de um povo que há muito luta com uma cascata de crises e condições de vida inaceitáveis. Eu ouvi seu pedido de ajuda”, disse o chefe da ONU, lembrando que atualmente um em cada dois haitianos vive em extrema pobreza, passa fome e não tem acesso regular a água potável.

Com o povo haitiano enfrentando desafios tão graves, Guterres lamentou que o plano de resposta humanitária da ONU, que requer US$ 720 milhões para ajudar mais de três milhões de pessoas, seja financiado apenas em 23%. É “uma questão de solidariedade e justiça moral” que a comunidade internacional se levante, segundo ele.

O português elogiou especialmente a coragem e a dedicação dos trabalhadores humanitários que prestam assistência, apesar de muitos obstáculos, e pediu a todas as partes interessadas que defendam os direitos humanos e o direito internacional e garantam o acesso humanitário seguro e desimpedido às pessoas necessitadas no Haiti.

‘Não há solução sem o povo haitiano’

Somente o desenvolvimento inclusivo e sustentável ajudará a quebrar o ciclo histórico de crises, enfrentar os desafios humanitários e de segurança e criar um ambiente constitucional e político estável, afirmou o chefe da ONU.

“Nenhuma solução pode ser encontrada sem o povo haitiano”, continuou ele, reforçando que a dimensão dos problemas exige o apoio total da comunidade internacional.

Para colher isso e muito mais, o secretário-geral disse que segue no domingo para Trinidad e Tobago, onde participará da Caricom, que reúne os 20 países da região, entre outros.

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