Investigação associa a misteriosa Síndrome de Havana a uma unidade da inteligência russa

Serviço de espionagem militar teria desenvolvido uma arma de energia direcionada não letal usada contra cidadãos dos EUA

Em 2016, funcionários do governo norte-americano em Cuba foram acometidos por sintomas misteriosos e sem causa identificada, como dor de cabeça, enjoo e tontura. Batizado de Síndrome de Havana, o problema vem sendo investigado desde então, sob a suspeita de se tratar de um ataque inimigo. No início de 2022, um estudo coordenado pela Agência Central de Inteligência (CIA) dos EUA concluiu ser “improvável” a ligação da Rússia com a anomalia. Agora, porém, uma investigação do site The Insider, em parceria com o programa 60 Minutes e a revista Der Spiegel, indica que Moscou está, sim, por trás das ocorrências.

Com base em documentos interceptados, depoimentos de testemunhas e registros de viagens, a investigação conseguiu associar a Síndrome de Havana à Unidade 29155 do GRU, o serviço de inteligência militar russo, responsável por realizar missões ultrassecretas e altamente sensíveis.

Bandeira cubana do alto de Havana (Foto: Andrew Wragg/Flickr)

A Unidade 29155 esteve ligada ao envenenamento de Sergei Skripal, um ex-oficial da inteligência russa que desertou para o Ocidente e foi morto na Inglaterra em 2018. Na Moldávia, agentes do destacamento tentaram desestabilizar o país e impedir que se aproximasse da União Europeia (UE). Já na Bulgária tentaram matar um traficante de armas que fornecia equipamento à Ucrânia, enquanto em Montenegro planejaram um golpe de Estado fracassado.

“Seu escopo é global para a condução de operações letais e atos de sabotagem”, disse ao The Insider um ex-oficial de alto escalão da CIA com experiência em lidar com a Rússia. “A missão deles é encontrar, consertar e finalizar, tudo em apoio aos sonhos imperiais de Vladimir Putin.”

Os sintomas que acometeram os funcionários norte-americanos teriam sido causados por um artefato desenvolvido pelo GRU e empunhado por agentes da Unidade 29155. Muitos deles teriam inclusive recebido promoções e prêmios do Kremlin por sua contribuição no desenvolvimento de “armas acústicas não letais”.

Os investigadores também conseguiram posicionar alguns desses agentes e outros funcionários da Unidade 29155 em locais e datas compatíveis com os das ocorrências. Um agente do GRU, Albert Averyanov, foi inclusive identificado pela mulher de um funcionário da embaixada norte-americana em Tbilisi, na Geórgia. Ele a teria observado fixamente, de dentro de um carro, poucos dias antes de ela começar a sentir os sintomas, que a acompanham desde então.

Os casos não foram registrados somente em Havana. Há ocorrências em diversas partes do mundo, com maior incidência na Europa e na Ásia, e até 200 norte-americanos podem ter sido atingidos. A Síndrome de Havana pode ter vitimado funcionários do governo dos EUA na China, no Vietnã, na Colômbia, na Áustria, na Sérvia, na Suíça e na França. Na Alemanha, autoridades revelaram que desde agosto de 2021 está em andamento um processo que analisa o “suposto ataque com arma sônica”.

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