O mais alto representante da União Europeia (UE) acusou nesta quinta-feira (28) a Rússia de usar gás natural para intimidar a vizinha Moldávia. A manifestação veio após o governo moldavo ter recorrido nesta semana a um abastecedor de fora do território russo pela primeira vez, após não chegar a um acordo de renovação de fornecimento com Moscou. As informações são da agência catari Al Jazeera.
As declarações de Josep Borrell, feitas durante uma entrevista coletiva ao lado da primeira-ministra da Moldávia, Natalia Gavrilita, em Bruxelas, podem piorar o clima nebuloso entre Moscou e o bloco, já que elas vêm na esteira da conturbada negociação entre Chisinau e Moscou sobre a questão do fornecimento de energia.
O gás natural que abastecia a Moldávia era proveniente da Rússia até setembro, acordo que foi quebrado quando as tratativas para renovação com a estatal russa Gazprom afundaram. Para continuar a enviar remessas de metros cúbicos aos vizinhos, foi estabelecida a exigência que a ex-república soviética quitasse suas dívidas, que somam 610 milhões de euros (US$ 709 milhões).
O contrato havia sido prorrogado por um mês ao preço mais alto de US$ 790 por metro cúbico. Borrell classificou o acréscimo proposto pela Gazprom como “uma consequência da armamentização do fornecimento de gás por Moscou”.
O diplomata acrescentou que as “características políticas” da situação deveriam ser consideradas, mas não trouxe evidências detalhadas que sustentassem a acusação de pressão russa.
“É um aumento acentuado (de preços) relacionado a problemas políticos, que requerem nosso apoio”, disse Borrell, referindo-se à doação de 60 milhões de euros (cerca de US$ 70 milhões) destinados pela UE para auxiliar a Moldávia em meio ao período de escassez do combustível natural.
Em sua conta no Twitter, Borrell garantiu ainda que “a UE continua a apoiar a Moldávia na ambiciosa agenda de reformas e no tratamento da Covid-19“.
Fruitful discussion with PM @natgavrilita and FM @nicupopescu at EU-#Moldova Association Council.
— Josep Borrell Fontelles (@JosepBorrellF) October 28, 2021
The EU continues supporting Moldova in pursuing the ambitious reform agenda, in dealing with the #COVID19 pandemic and in addressing the gas crisis.https://t.co/7jRZtP41Zg pic.twitter.com/sr6Z8JSMNR
Diante do entrave, a Moldávia fechou com a Polônia o abastecimento do combustível natural na terça-feira (26), em um novo acordo comercial que visa à diversificação no fornecimento de energia dentro de um dos países mais pobres do continente e que vive sob forte influência russa. A parceria foi selada uma semana depois que o parlamento do país declarou estado de emergência de 30 dias, decorrente da crise de gás que assola a Europa.
O Kremlin rejeita a acusação de politização. “Não há questões políticas aqui e não pode haver nenhuma”, disse o porta-voz do governo Dmitry Peskov em uma teleconferência com a imprensa na quarta-feira (27). E acrescentou: “Há uma demanda de gás, há uma oferta comercial junto com uma oferta de desconto e o problema do endividamento acumulado. Tudo isso é de caráter puramente comercial e não há politização aqui”.
Por que isso importa?
A disputa do gás entre as nações, na opinião de observadores internacionais, poderia ser interpretada com uma tentativa russa de estender seus tentáculos sobre a Moldávia, depois que um partido pró-União Europeia obteve uma vitória esmagadora nas eleições parlamentares de 11 de julho.
Em setembro, Yuriy Vitrenko, CEO da Naftogaz, maior empresa de petróleo e gás da Ucrânia, acusou a Gazprom de utilizar o gás natural como uma arma geopolítica.
Tida como uma das nações mais carentes do continente europeu, nos últimos anos, a situação na Moldávia se agravou com a pandemia de Covid-19. A ex-república soviética ainda enfrentou escândalos recentes de corrupção. Num deles, em 2014, aproximadamente US$ 1 bilhão desapareceram do sistema de três bancos nacionais, caso que até hoje não foi totalmente esclarecido.