Em agosto de 2020, o Twitter começou a marcar perfis usados por jornais, estações de rádio e de televisão sob controle ou com financiamento direto de determinados Estados e governos, fazendo o mesmo com seus editores e diretores. Passados quase três anos, a plataforma acabou com a medida e, com isso, beneficiou regimes autoritários, que agora têm maior facilidade para promover desinformação na internet. As informações são da agência Associated Press.
O rótulo de veículo estatal nos perfis teve início poucos meses antes das eleições dos EUA, num movimento da rede social para tentar limitar a influência estrangeira em um momento tido como delicado, atenta também ao tráfego de fake news e toda a confusão vista no pleito de 2016 que levou Donald Trump ao poder.
Começava ali uma política que levou o Twitter a marcar como pró-governo veículos como o RT.com (site de notícias controlado por Moscou) e o Global Times (tabloide estatal chinês em inglês), chegando a medidas ainda mais severas contra a mídia russa após a invasão da Ucrânia pelas tropas de Vladimir Putin.
Sob nova direção desde outubro do ano passado, após a compra pelo bilionário Elon Musk, as contas do Twitter operadas pela mídia estatal de Rússia, China e Irã estão se beneficiando dessas mudanças recentes na plataforma, disseram pesquisadores na segunda-feira (24). Segundo eles, as mudanças supostamente têm facilitado a conquista de novos seguidores e a ampliação da disseminação de propaganda e desinformação para um público mais amplo por esses governos.
A Reset, uma ONG sediada no Reino Unido que monitora o uso de mídias sociais por governos autoritários para disseminar propaganda, afirma que as contas da mídia estatal russa tiveram um aumento de 33% nas visualizações desde que as mudanças no algoritmo do Twitter entraram em vigor, totalizando mais de 125 mil views por postagem.
Entre as postagens com maior número de visualizações estão algumas que trazem pontos de vista controversos sobre temas sensíveis, como o papel da CIA (inteligência norte-americana) no ataque de 11 de setembro de 2001 aos EUA, acusações contra líderes ucranianos de corrupção por acúmulo de ajuda estrangeira e a justificativa de que a invasão russa à Ucrânia ocorreu porque Washington estaria desenvolvendo e planejando liberar uma arma biológica ou um potencial novo coronavírus de “biolaboratórios” em toda a Ucrânia.
Antes das mudanças, que também favoreceram desde neonazistas que tinham as contas suspensas até o discurso de ódio e a desinformação sobre a Covid-19, os usuários interessados na propaganda do Kremlin tinham que buscar especificamente a conta ou seu conteúdo. Sob as novas regras da plataforma, o material pode ser recomendado ou promovido como qualquer outro.
“Os usuários do Twitter não precisam mais procurar conteúdo patrocinado pelo Estado para vê-lo na plataforma; pode apenas ser servido a eles”, disse o Digital Forensic Research Lab (DRFLab), laboratório que identifica contas com comportamentos “inautênticos e coordenados” e validou as informações levantadas pela Reset.
As agências de notícias estatais pertencentes ao Irã e à China também registraram aumentos comparáveis em suas taxas de interação após as mudanças no Twitter, disse a Reset.