ONU alerta para o agravamento da violência de gangues em Porto Príncipe

Entre janeiro e o final de junho, foram registrados 934 assassinatos, 684 feridos e 680 sequestros na capital do Haiti

O Ocha (Escritório de Direitos Humanos da ONU) se disse profundamente preocupado com o agravamento da violência dentro e ao redor da capital do Haiti, Porto Príncipe, e com o aumento dos abusos das gangues fortemente armadas contra comunidades locais vulneráveis.

A coordenadora humanitária da ONU no país, Ulrika Richardson, afirmou que as pessoas estão sofrendo na região. No entanto, a insegurança está impedindo as agências humanitárias de entrarem na área.

Ela destaca que a ONU está pronta para prestar assistência a crianças, mulheres e homens afetados pelo fogo cruzado da violência dos grupos armados assim que os parceiros humanitários puderem ter acesso seguro às zonas afetadas.

O recente aumento nos combates entre gangues rivais no bairro de Cité Soleil, na capital, levou à morte de 99 pessoas, com 135 feridos, segundo dados divulgados pelo Ocha no Haiti. Com a escalada de violência, na sexta-feira, o Conselho de Segurança aprovou a prolongação do mandato do Escritório Integrado da ONU no Haiti (Binuh) até 15 de julho de 2023.

Violência afastou população das ruas da capital Porto Príncipe (Foto: Minujusth/Leonora Baumann)

De acordo com o porta-voz do Escritório de Direitos Humanos, Jeremy Laurence, a renovação “fortalecerá a resposta internacional coletiva à crise de direitos humanos que se desenrola no país, bem como facilitará a entrega de ajuda humanitária”. Ele pediu às autoridades do Haiti a garantia de que os direitos fundamentais sejam protegidos e “colocados na frente e no centro de suas respostas à crise”. 

Para o porta-voz, a luta contra a impunidade e a violência sexual, juntamente com o fortalecimento do monitoramento e denúncia de atos contra os direitos humanos deve continuar sendo uma prioridade.

Vítimas civis

Segundo dados da agência da ONU, entre janeiro e o final de junho, foram registrados 934 assassinatos, 684 feridos e 680 sequestros em toda a capital. Durante um período de cinco dias, de 8 a 12 de julho, pelo menos mais 234 pessoas foram mortas ou feridas em violência relacionada a gangues na área de Cité Soleil.

Jeremy Laurance afirma que a maioria das vítimas não estava diretamente envolvida em gangues e foi alvo direto de elementos de gangues. Também foram recebidas novas denúncias de violência sexual.

Relatos apontam que algumas gangues estão recorrendo a táticas extremas para controlar os habitantes locais, como negar acesso a água potável e comida. A avaliação das agências da ONU é de que isso resultou na piora da desnutrição na região.

A violência também agravou a escassez de combustível, já que o principal depósito de combustível está localizado em Cité Soleil, e os custos de transporte aumentaram acentuadamente.

De acordo com o Escritório de Direitos Humanos, a situação socioeconômica e o impasse político desencadearam protestos nas ruas. A insegurança deixou muitos moradores impedidos de saírem de casas e levou empresas a encerrar as atividades.

Sofrimento diário

De acordo com um relatório divulgado pelo Ocha, em menos de uma semana, pelo menos 2,5 mil pessoas foram forçadas a fugir de suas casas por causa dos combates. Vinte pessoas foram dadas como desaparecidas. 

A agência afirma que, com a continuação dos combates, mais pessoas sofrerão e serão forçadas a fugir diariamente, muitas vezes arriscando suas vidas.

Cité Soleil, com uma população de cerca de 300 mil habitantes, é um dos bairros mais pobres da capital haitiana, onde as gangues ganharam mais influência nos últimos anos.

O Ocha afirma que “uma grande proporção da população está presa em Cité Soleil enquanto as gangues tentam exercer sua influência”, acrescentando que “as pessoas em algumas áreas não têm acesso a comida ou água desde 8 de julho”. 

Com a situação, uma criança em cada cinco já sofre de desnutrição grave, “uma taxa bem acima dos limites de emergência”.

Conteúdo adaptado do material publicado originalmente pela ONU News

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