Invasão de Taiwan envolveria diretamente os EUA e levaria à derrota da China, aponta simulação

Think tank projeta o conflito e diz que ele prejudicaria "a posição global dos Estados Unidos por muitos anos", com a marinha chinesa "em frangalhos"

As atuais projeções feitas por analistas indicam que a China deve esperar mais alguns anos até invadir Taiwan, o que não aconteceria antes de 2026. Uma simulação feita recentemente pelo think tank Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais (CSIS, na sigla em inglês), sediado em Washington, aponta ainda que o conflito decorrente da invasão custaria milhares de vidas, entre soldados chineses, taiwaneses e também japoneses e norte-americanos. E possivelmente mudaria o cenário geopolítico global.

O que chama a atenção é a previsão de que os EUA se envolveriam diretamente na guerra, diferente do que fazem atualmente na Ucrânia, onde são apenas fornecedores de armamento e treinamento a Kiev na luta contra a Rússia. “O que antes era impensável, um conflito direto entre os Estados Unidos e a China, agora se tornou uma discussão comum na comunidade de segurança nacional”, disse Mark Cancian, consultor sênior do programa de segurança do CSIS.

Paras obter os resultados, o think tank realizou a simulação do conflito 24 vezes, em busca de respostas para duas perguntas centrais: A invasão chinesa teria sucesso? Qual seria o custo para ambos os lados?

“A conclusão geral é a de que é improvável que a China tenha sucesso em uma invasão de Taiwan em 2026″, diz o relatório com o resultado da simulação.

Para que esse desfecho favorável a Taiwan se concretize, quatro condições seriam necessárias: Taiwan precisaria resistir bravamente; os EUA deveriam entrar no conflito rapidamente e com força total; as bases norte-americanas no Japão precisarem ser usadas; os EUA precisariam colocar em uso muitos mísseis de cruzeiro antinavio de longo alcance.

Entretanto, mesmo que a defesa de Taiwan fosse um sucesso, o prejuízo seria enorme dos dois lados. Em termos materiais, os EUA perderiam dezenas de navios e centenas de aeronaves. Já a marinha da China estaria “em frangalhos”, com “o núcleo de suas forças anfíbias quebrado”. As baixas humanas seriam de milhares de militares, com dezenas de milhares de soldados chineses feitos prisioneiros de guerra.

Em termos políticos e econômicos, os danos seriam igualmente terríveis. “As altas perdas prejudicariam a posição global dos Estados Unidos por muitos anos”, diz o relatório, que aponta os taiwaneses como os grandes prejudicados, apesar da vitória militar. “Embora as forças armadas de Taiwan estejam preservadas, elas estão gravemente degradadas e precisam defender uma economia gravemente danificada em uma ilha sem eletricidade e serviços básicos”.

Exército da China realiza exercício militar em agosto de 2021 (Foto: eng.chinamil.com.cn/Liu Fang)

O CSIS, porém, faz uma ressalva: a guerra não é uma certeza, embora o risco seja real. “A liderança chinesa pode adotar uma estratégia de isolamento diplomático, pressão de zona cinzenta ou coerção econômica contra Taiwan; mesmo que a China opte pela força militar, isso pode assumir a forma de um bloqueio em vez de uma invasão direta”, diz o documento.

Por que isso importa?

Taiwan é uma questão territorial sensível para a China, e a queda de braço entre Beijing e o Ocidente por conta da pretensa autonomia da ilha gera um ambiente tenso, com a ameaça crescente de uma invasão pelas forças armadas chinesas a fim de anexar formalmente o território taiwanês.

Nações estrangeiras que tratem a ilha como nação autônoma estão, no entendimento de Beijing, em desacordo com o princípio “Uma Só China“, que também vê Hong Kong como parte da nação chinesa.

Embora não tenha relações diplomáticas formais com Taiwan, assim como a maioria dos demais países, os EUA são o mais importante financiador internacional e principal parceiro militar de Taipé. Tais circunstâncias levaram as relações entre Beijing e Washington a seu pior momento desde 1979, quando os dois países reataram os laços diplomáticos.

A China, em resposta à aproximação entre o rival e a ilha, endureceu a retórica e tem adotado uma postura belicista na tentativa de controlar a situação. Jatos militares chineses passaram a realizar exercícios militares nas regiões limítrofes com Taiwan e habitualmente invadem o espaço aéreo taiwanês, deixando claro que Beijing não aceitará a independência formal do território “sem uma guerra“.

A crise ganhou contornos mais dramáticos após a visita da presidente da Câmara dos Representantes dos EUA, Nancy Pelosi, em agosto. Foi a primeira pessoa ocupante do cargo a viajar para Taiwan em 25 anos, atitude que mexeu com os brio de Beijing. Em resposta, o exército da China realizou um de seus maiores exercícios militares no entorno da ilha, com tiros reais e testes de mísseis em seis áreas diferentes.

O treinamento serviu como um bloqueio eficaz, impedindo tanto o transporte marítimo quanto a aviação no entorno da ilha. Assim, voos comerciais tiveram que ser cancelados, e embarcações foram impedidas de navegar por conta da presença militar chinesa.

Desde então, aumentou consideravelmente a expectativa global por uma invasão chinesa. Para alguns especialistas, caso do secretário de Defesa dos EUA Lloyd Austin, o ataque “não é iminente“. Entretanto, o secretário de Estado Antony Blinken afirmou em outubro “que Beijing está determinada a buscar a reunificação em um cronograma muito mais rápido”.

As declarações do chefe da diplomacia norte-americana vão ao encontro do que disse o presidente chinês Xi Jinping no recente 20º Congresso do Partido Comunista Chinês (PCC). “Continuaremos a lutar pela reunificação pacífica”, disse ele ao assegurar seu terceiro mandato à frente do país. “Mas nunca prometeremos renunciar ao uso da força. E nos reservamos a opção de tomar todas as medidas necessárias”.

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