Presidente eleito mantém Paraguai como único país sul-americano alinhado com Taiwan

Santiago Peña renovou vínculo diplomático com a ilha autogovernada durante encontro com a líder local Tsai Ing-wen

Presidente eleito do Paraguai, Santiago Peña sustentou as projeções feitas antes e durante o pleito de abril no país sul-americano e renovou o vínculo diplomático com Taiwan. Ele firmou o compromisso durante visita à ilha autogovernada, onde se encontrou com a líder local Tsai Ing-wen. As informações são da agência Associated Press (AP).

No encontro, Peña reafirmou “nosso compromisso como paraguaios de estar ao lado do povo taiwanês pelos próximos cinco anos”. Assim, a nação sul-americana se sustenta como a única do continente e uma entre 13 de todo o mundo a manter o alinhamento com a ilha em detrimento da China, que considera Taiwan parte do seu território.

O anúncio de Peña não é novidade, vez que ele e o Partido Colorado, pelo qual se elegeu, já haviam prometido sustentar os quase 70 anos de alinhamento com Taiwan. Porém, durante a campanha eleitoral, o então candidato disse que seu plano de governo previa a ampliação do comércio com a China.

Peña (esq.) e Tsai Ing-wen (dir.): aliança desafia a China (Foto: Makoto Lin/Office of the President)

Trata-se de uma questão delicada no Paraguai e bastante debatida na eleição. É puxada pelo lobby agrícola do país, que figura entre os dez maiores exportadores de carne bovina do mundo e é o quarto maior exportador de soja.

O volume comercial entre Assunção e Beijing dobrou nos últimos oito anos e é muito maior do que entre o país sul-americano e os EUA, segundo o Comtrade da ONU (Organização das Nações Unidas), um repositório de dados do comércio internacional. No entanto, isto é impulsionado pelas importações, vez que as exportações a partir do Paraguai rumo à economia número dois do mundo continuam minúsculas.

Na visita, porém, Peña ignorou Beijing e prometeu ampliar as relações comerciais com a ilha. “Trabalharei nos próximos anos para transmitir ao povo de Taiwan, principalmente à comunidade empresarial, que investir no Paraguai não apenas responde a um interesse diplomático, mas também responde ao benefício econômico mútuo de ambas as nações”, disse ele.

Tsai, por sua vez, fez uma referência velada à China em seu discurso. “Diante da expansão do autoritarismo, esperamos que Taiwan e o Paraguai permaneçam juntos na linha de frente da democracia livre e contribuam para a estabilidade e o desenvolvimento global”, disse ela.

Influência na américa Latina

O compromisso renovado por Peña representa um revés em meio a inúmeras vitórias chinesas na América Latina, onde o governo de Xi Jinping vem aumentando cada vez mais sua influência. Recentemente, quem deixou a relação com Taiwan e direcionou-a a Beijing foi Honduras. O governo chinês tinha esperança de fazer o mesmo após o pleito paraguaio.

A situação levou a presidente taiwanesa Tsai Ing-wen a viajar para Guatemala e Belize no início do ano a fim de dar um gás na relação com os dois últimos parceiros da América Central, sinalizando esforços de seu governo para impedir que novas rupturas diplomáticas aconteçam.

Na visão de David Castrillon-Kerrigan, professor-pesquisador sobre questões relacionadas à China na Universidade Externado da Colômbia, não é só Taiwan que vem sendo derrotada na América Latina. Segundo ele, governo dos EUA está “perdendo o controle” da América Latina.

“Para países como Honduras, não reconhecer o governo de Beijing significava perder oportunidades”, disse Castrillon-Kerrigan, destacando uma situação que agora se repete no Paraguai. “Os Estados Unidos estão definitivamente perdendo influência em todas as frentes, especialmente na frente econômica, mas também diplomática, política e culturalmente.”

Entre 2005 e 2020, os chineses investiram mais de US$ 130 bilhões na América Latina, segundo o Instituto de Paz dos Estados Unidos. O comércio entre a China e a região também disparou, devendo chegar a mais de US$ 700 bilhões até 2035.

Tamanho poder de influência chinês também vem da iniciativa multibilionária Nova Rota da Seda (BRI, na sigla em inglês, de Belt And Road Initiative), que ofereceu aos países em desenvolvimento portos, usinas de energia, ferrovias e outras infraestruturas, financiados por empréstimos concedidos a taxas de mercado. Em meio às tensões crescentes com Washington, essa cifra astronômica investida na América Latina parece dar a Beijing o retorno político esperado.

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