Promotor que investigava ataque de facção a estúdio de TV no Equador é assassinado

Um dia antes de ser morto, Cézar Suárez afirmou que não havia recebido proteção policial, embora tivesse interrogado 13 detidos

O promotor César Suárez, que liderava a investigação sobre o recente ataque transmitido ao vivo contra uma estação de televisão pública no Equador, foi baleado e morto à luz do dia em Guayaquil na quarta-feira (17). O procurador antimáfia, renomado por suas investigações em casos de corrupção e narcotráfico de grande repercussão no país, teve o carro que dirigia alvejado por criminosos, segundo informações da procuradora-geral Diana Salazar. As informações são da agência Al Jazeera.

Diana manifestou pesar pela morte de Suárez em sua conta no X, antigo Twitter, destacando a dificuldade de lidar com a “perda de um colega na batalha contra o crime organizado.” Ela se comprometeu a manter o trabalho em memória do promotor, do país e da justiça.

Na semana passada, homens armados interromperam uma transmissão ao vivo da emissora de televisão local TC, dando início a uma escalada de violência que distanciou o país de seu passado tranquilo e o colocou como um dos locais mais perigosos da América Latina.

César Suárez era um importante promotor antimáfia (Foto: Fiscalía General del Estado Ecuador/Divulgação)

Foram detidos 13 indivíduos suspeitos de envolvimento no ataque à estação de televisão, e a atual crise de segurança colocou o Equador em estado de “conflito armado interno”. Foram registradas fugas da prisão de importantes chefes do narcotráfico e uma série de outras ações violentas realizadas por poderosos grupos criminosos que controlam o mercado de drogas.

Segundo relatos da mídia local, Suárez foi baleado enquanto se deslocava para o seu escritório. Imagens que circulam nas redes sociais mostram seu veículo parado em uma movimentada via de Guayaquil com perfurações de bala. Em uma entrevista ao jornal El Universo um dia antes de sua morte, a vítima declarou não ter recebido proteção policial, apesar de ter interrogado os 13 detidos pelo ataque à emissora, segundo a rede BBC.

O assassinato de Suárez apresenta indícios de execução, conforme informou a polícia. Em declaração oficial, o ministro da Defesa, Gian Carlo Loffredo, repudiou toda forma de violência como resposta ao conflito e reafirmou o compromisso do governo com a justiça.

Suárez também estava conduzindo uma investigação sobre o caso Metástase, que revelou vínculos entre narcotraficantes e funcionários públicos no país. O processo envolvia um traficante de drogas local que alegadamente recebeu tratamento privilegiado por parte das autoridades.

Não está claro se a morte do promotor está conectada à investigação sobre o ataque à estação de televisão.

Suspeitos detidos

Nesta quinta-feira (18), a polícia do Equador disse que prendeu dois suspeitos ligados ao assassinato de Suárez. A prisão, confirmada pelo general César Augusto Zapata Correa, resultou na apreensão de armas, veículos e trajes, conforme divulgado pelo militar em seu perfil na rede social X.

Entenda

O caos equatoriano teve a fagulha acesa no início da pandemia de Covid-19, em março de 2020. O coronavírus deixou marcas profundas na economia e na segurança do Equador. Enquanto muitas empresas fechavam e pessoas perdiam o emprego, a segurança do país foi impactada, algo que ficou evidente pelo aumento de crimes violentos e atividades relacionadas ao tráfico de drogas.

Em 2023, as mortes violentas no Equador ultrapassaram oito mil, quase o dobro de 2022, segundo a agência Reuters. O governo atribui esse aumento à expansão de facções que impulsionam o tráfico de cocaína, desestabilizando socialmente amplas regiões de um país espremido entre os dois maiores produtores mundiais da droga, a Colômbia e o Peru.

O cenário violento afetou até mesmo a política, com o assassinato de Fernando Villavicencio, um candidato anticorrupção durante a eleição presidencial do ano passado.

Dentro das prisões equatorianas, facções aproveitam a falta de controle estatal para ampliar seu poder, resultando em crescente violência e centenas de mortes. O país apresenta níveis históricos de insegurança, que chegam a 40 homicídios por cem mil habitantes. Guayaquil, a maior cidade costeira equatoriana, é considerada a mais perigosa, com seus portos sendo centros de contrabando de drogas.

Foi nesse cenário que o presidente Daniel Noboa iniciou seu mandato em outubro do ano passado, com a promessa de enfrentar os chamados “narcos”. À época, ele apresentou o “Plano Fênix” de segurança, envolvendo uma nova unidade de inteligência, armas táticas para as forças policiais, prisões de alta confiabilidade e reforço de segurança em portos e aeroportos.

Atualizando a situação para janeiro de 2024, em meio ao caos, Noboa designou 22 facções ligadas ao tráfico de drogas como grupos terroristas e determinou a realização de operações militares para neutralizá-las. O anúncio ocorreu nas redes sociais logo após criminosos invadirem a TC Televisión, com sede em Guayaquil.

Segundo Fernando Carrión, especialista em segurança do Instituto Latino-Americano de Ciências Sociais em Quito, diversas facções se insurgem contra a abordagem rigorosa do novo presidente, que busca minar o controle dos criminosos sobre as prisões através de propostas que incluem a militarização das penitenciárias, o aumento das sentenças e o isolamento de líderes poderosos.

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