Putin culpa política externa dos EUA por conflito entre Israel e o Hamas

Presidente russo diz que Washington 'monopolizou' a diplomacia do conflito 'sem levar em conta os interesses palestinos'

O conflito em curso no Oriente Médio, desencadeado por um ataque do Hamas que levou a uma dura resposta de Israel, só ocorreu devido a falhas na política externa dos Estados Unidos. Esta é a opinião do presidente da Rússia, Vladimir Putin, manifestada na terça-feira (10) durante encontro com o primeiro-ministro iraquiano Mohammed Shia’ Al Sudan. As informações são do jornal The Moscow Times.

“Penso que muitos concordarão comigo que este é um exemplo claro do fracasso da política dos EUA no Oriente Médio”, afirmou Putin, acrescentando que Washington tentou “monopolizar a regulação [do conflito], mas infelizmente não se preocupou em encontrar compromissos aceitáveis ​​para ambos os lados.”

O líder russo foi mais específico, declarando que a política externa norte-americana pende para o lado de Israel. “Apresentou ideias sobre como deveria ser feito e pressionou os dois lados. Cada vez, porém, sem levar em conta os interesses fundamentais do povo palestino”, prosseguiu. 

O presidente Vladimir Putin durante conferência de imprensa em Moscou (Foto: Kremlin.ru)

Embora estas tenham sido as primeiras palavras de Putin sobre o conflito, a posição do governo russo já estava clara antes disso. O ex-presidente Dmitry Medvedev, atualmente vice-presidente do Conselho de Segurança da Rússia, fez análise semelhante logo após a agressão do Hamas.

“Em vez de trabalharem ativamente no estabelecimento de um acordo palestino-israelense, estes idiotas interferiram nos nossos assuntos e fornecem aos ‘neonazis’ ajuda em grande escala, colocando os dois povos intimamente relacionados um contra o outro”, disse ele referindo-se aos Estados Unidos, em post na rede social X, antigo Twitter.

Por sua vez, o Ministério das Relações Exteriores da Rússia chegou a acusar Washington de dificultar a formação de um grupo que seria capaz de negociar a paz entre israelenses e palestinos, o qual seria formado por Moscou, Washington, a União Europeia (UE) e a ONU (Organização das Nações Unidas).

Através do Telegram, a pasta declarou ainda que “a Rússia tem laços de longa data com os palestinos, mas também existem relações com Israel, onde há muitos compatriotas.”

Quem também falou em favor dos palestinos foi o líder checheno Ramzan Kadyrov, importante aliado de Putin. Em vídeo publicado no Telegram, ele se dirigiu aos “líderes das nações muçulmanas” e disse que seu governo “apoia a Palestina”.

“Somos contra esta guerra, que, ao contrário de outros conflitos, pode evoluir para algo maior”, disse ele. “Se necessário, as nossas unidades estão prontas para agir como uma força de manutenção da paz para restaurar a ordem e combater quaisquer desordeiros.”

A Rússia, Israel e o Hamas

Episódios recentes geram questionamento quanto ao papel da Rússia no Oriente Médio. Em março deste ano, o Hamas disse ter enviado uma delegação a Moscou, onde os líderes da organização teriam se encontrado com o ministro das Relações Exteriores Sergei Lavrov.

“A liderança do movimento visitou Moscou e conheceu Sergei Lavrov. Foi uma visita importante que destaca o papel do movimento com muitos atores globais”, disse Saleh al-Arouri, vice-chefe do gabinete político do Hamas, segundo o site Al-Monitor.

Visitas semelhantes haviam ocorrido outras duas vezes, em maio e setembro de 2022, de acordo com artigo do think tank norte-americano Center for European Policy Analysis (CEPA).

O texto destaca, ainda, manifestação do Hamas feita após a agressão, que sugere a participação de nações aliadas nos preparativos para o ataque: “O grupo disse que o seu ataque foi apoiado pelo Irã e outros países, mas não os identificou.”

Paralelamente, a relação entre Rússia e Israel vai de mal a pior. Em julho do ano passado, o Ministério da Justiça russo determinou o fechamento da filial local da Sohnut (Agência Judaica para Israel), organização sem fins lucrativos que processa a imigração de judeus para Israel.

A ação contra a agência, que tem sede em Jerusalém, evidenciou o incômodo de Moscou com as críticas de Israel à agressão russa à Ucrânia. Entre elas, uma feita pelo ex-premiê Yair Lapid, que em abril de 2022 acusou Moscou de consumar crimes de guerra, condenando o que chamou de “visões terríveis em Bucha”, citando um massacre atribuído às tropas da Rússia contra civis ucranianos.

O próprio Lavrov esteve na mira do governo israelense ao fazer comentários antissemitas em maio. “E se Zelensky for judeu? O fato não nega os elementos nazistas na Ucrânia. Acredito que Hitler também tinha sangue judeu. Isso não significa absolutamente nada… os antissemitas mais ardentes geralmente são judeus”, disse à época o ministro, fala que gerou indignação em Israel.

Na ocasião, autoridades israelenses chamaram os comentários de falsidade “imperdoável”, enraizada em erros históricos e teorias de conspiração delirantes, que degradaram os horrores do Holocausto nazista e transformaram vítimas em perpetradores.

Tags: