Relatório alerta os EUA para o risco de conflitos simultâneos com China e Rússia

Documento foi preparado em um contexto de tensões com Beijing e de agravamento da rixa com Moscou devido à invasão da Ucrânia

Com base em um incisivo relatório, um grupo bipartidário nomeado pelo Congresso dos EUA recomendou que o país esteja preparado para possíveis guerras simultâneas com Rússia e China. Tal estado de prontidão militar envolveria o fortalecimento das forças convencionais, reforço de alianças e aprimoramento do programa de modernização de armas nucleares. As informações são da agência Reuters.

O documento de 145 páginas, organizado pela Comissão de Postura Estratégica (SPC, da sigla em inglês), foi divulgado em um momento de tensões com Beijing, devido a questões como a de Taiwan, e com Moscou, por conta da invasão da Ucrânia, que já se arrasta há quase 19 meses.

Um alto funcionário envolvido no relatório não revelou se os documentos de inteligência indicavam alguma cooperação em armas nucleares entre chineses e russos. No entanto, segundo ele, as autoridades norte-americanas estão preocupadas com a possibilidade de que haja alguma coordenação final entre esses dois países que estabeleceram uma “aliança sem limites” há um ano, o que leva à ideia de um cenário de dois conflitos.

Um míssil balístico intercontinental desarmado Minuteman III é lançado durante um teste operacional em outubro de 2020 nos EUA (Foto: WikiCommons)

Essas conclusões poderiam desafiar a estratégia de segurança nacional dos EUA, que visa a vitória em um conflito e, ao mesmo tempo, desencoraja outro, exigindo gastos significativos com defesa. O apoio do Congresso a esses aumentos de despesas é incerto.

A presidente democrata, Madelyn Creedon, ex-vice-diretora da agência que supervisiona as armas nucleares dos EUA, e o vice-presidente, Jon Kyl, um ex-senador republicano, afirmam que, apesar das limitações orçamentárias, a nação deve fazer esses investimentos.

Kyl argumentou que tanto o presidente quanto o Congresso devem explicar ao povo que o aumento nos gastos com a defesa é “um pequeno preço a pagar” para evitar uma possível guerra nuclear envolvendo Washington, Beijing e Moscou.

Essa visão contrapõe a posição do presidente dos EUA, Joe Biden, que acredita que o arsenal nuclear atual norte-americano é suficiente para dissuadir os rivais.

A Associação de Controle de Armas corrobora com o raciocínio do chefe da Casa Branca, e respondeu ao relatório afirmando que o arsenal existente no país é mais do que necessário para manter uma dissuasão eficaz contra qualquer ofensiva nuclear inimiga.

Ameaças a curto prazo

O relatório adverte que as ameaças vindas da China e da Rússia se intensificarão entre 2027 e 2035. Portanto, é crucial tomar decisões agora para garantir que o país esteja preparado.

No caso de Beijing, a Comissão baseou suas análises na previsão do Pentágono, que estima que os chineses poderão ter 1,5 mil ogivas nucleares nos próximos 12 anos.

A China está  expandindo rapidamente suas capacidades de armas nucleares enquanto busca desafiar os EUA para o papel de poder militar supremo, disse um artigo publicado em A Referência em janeiro. Esse objetivo pode nunca ser alcançado, mas a ascensão da China como potência global é uma imagem que o Partido Comunista Chinês (PCC) não hesita em exibir.

O documento da SPC também enfatiza a importância de financiar completamente o programa de modernização das armas nucleares dos EUA, que começou em 2010 e foi estimado em cerca de 400 bilhões de dólares até 2046, para atualizar ogivas, sistemas de lançamento e infraestrutura a tempo.

Outras sugestões incluem o aumento de armas nucleares táticas na Ásia e na Europa, planejamento para implantar ogivas de reserva dos EUA e a produção adicional de bombardeiros stealth B-21 e submarinos nucleares da classe Columbia, além dos números atualmente planejados.

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