Solidariedade da Bolívia à China após terremoto causa revolta em Taiwan

Abalo sísmico de magnitude 7,2 que atingiu a ilha na semana passada deixou pelo menos 10 pessoas mortas e mais de mil feridos

O ministro das Relações Exteriores de Taiwan lançou críticas à Bolívia no sábado (6), após o país sul-americano expressar solidariedade à China por conta do terremoto que atingiu o Condado de Hualien, costa leste da ilha. As informações são do site Hong Kong Free Press.

O abalo sísmico, com magnitude de 7,2 – o mais forte em território taiwanês em 25 anos – deixou pelo menos 10 mortos e mais de 1,1 mil feridos na última quarta-feira (3). Mais de 20 edifícios desabaram. Graças aos rígidos códigos de construção e à prontidão para desastres, uma catástrofe ainda maior foi evitada.

Pelo X, antigo Twitter, o ministro das Relações Exteriores de Taiwan, Joseph Wu, criticou a Bolívia em uma postagem no sábado, acusando o país sul-americano de agir como um “fantoche perverso e expansionista” da República Popular da China. Em sua declaração, Wu enfatizou que assim como Taiwan, “a Bolívia não faz parte da China comunista”.

Um prédio residencial e comercial na cidade de Hualien colapsou (Foto: WikiCommons)

O Ministério das Relações Exteriores de Taiwan condenou a declaração de La Paz, acusando-a de seguir o governo autoritário chinês ao “disseminar comentários falsos que desrespeitam a soberania” da ilha. Beijing continua a reivindicar Taiwan como parte de seu território, apesar de ser uma democracia autônoma.

Taiwan, que tem apenas 12 aliados diplomáticos, acusa Beijing de usar ameaças ou promessas de ajuda econômica para impedir que outros países o reconheçam como uma nação soberana.

Por que isso importa?

Taiwan é uma questão territorial sensível para a China, e a queda de braço entre Beijing e o Ocidente por conta da pretensa autonomia da ilha gera um ambiente tenso, com a ameaça crescente de uma invasão pelas Forças Armadas chinesas a fim de anexar formalmente o território taiwanês.

Nações estrangeiras que tratem a ilha como nação autônoma estão, no entendimento de Beijing, em desacordo com o princípio “Uma Só China“, que também vê Hong Kong como parte da nação chinesa.

Embora não tenha relações diplomáticas formais com Taiwan, assim como a maioria dos demais países, os EUA são o mais importante financiador internacional e principal parceiro militar de Taipé. Tais circunstâncias levaram as relações entre Beijing e Washington a seu pior momento desde 1979, quando os dois países reataram os laços diplomáticos.

A China, em resposta à aproximação entre o rival e a ilha, endureceu a retórica e tem adotado uma postura belicista na tentativa de controlar a situação. Jatos militares chineses passaram a realizar exercícios militares nas regiões limítrofes com Taiwan e habitualmente invadem o espaço aéreo taiwanês, deixando claro que Beijing não aceitará a independência formal do território “sem uma guerra“.

A crise ganhou contornos mais dramáticos após a visita da presidente da Câmara dos Representantes dos EUA, Nancy Pelosi, à ilha em 2022. Foi a primeira pessoa ocupante do cargo a viajar para Taiwan em 25 anos, atitude que mexeu com os brio de Beijing. Em resposta, o exército da China realizou um de seus maiores exercícios militares no entorno da ilha, com tiros reais e testes de mísseis em seis áreas diferentes.

O treinamento serviu como um bloqueio eficaz, impedindo tanto o transporte marítimo quanto a aviação no entorno da ilha. Assim, voos comerciais tiveram que ser cancelados, e embarcações foram impedidas de navegar por conta da presença militar chinesa.

Desde então, aumentou consideravelmente a expectativa global por uma invasão chinesa. Para alguns especialistas, caso do secretário de Defesa dos EUA Lloyd Austin, o ataque “não é iminente“. Entretanto, o secretário de Estado Antony Blinken afirmou em outubro “que Beijing está determinada a buscar a reunificação em um cronograma muito mais rápido”.

As declarações do chefe da diplomacia norte-americana vão ao encontro do que disse o presidente chinês Xi Jinping no 20º Congresso do Partido Comunista Chinês (PCC). “Continuaremos a lutar pela reunificação pacífica”, disse ele ao assegurar seu terceiro mandato à frente do país. “Mas nunca prometeremos renunciar ao uso da força. E nos reservamos a opção de tomar todas as medidas necessárias”.

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