Europa sofre pressão para manter acesso de empresas dos EUA a contratos de defesa

Secretário de Estado alerta que exclusão dos norte-americanos em compras militares será vista de forma negativa pelo governo Trump

Em meio ao avanço do plano europeu ReArm, que prevê uma nova fase de investimentos em defesa, o secretário de Estado norte-americano, Marco Rubio, alertou países da União Europeia (UE) de que Washington reagirá negativamente caso empresas EUA sejam deixadas de fora das licitações. A mensagem foi transmitida em uma reunião no dia 25 de março com os chanceleres da Lituânia, Letônia e Estônia, segundo fontes ouvidas pela agência Reuters.

Durante o encontro, Rubio afirmou que os EUA desejam continuar fornecendo equipamentos militares a países europeus e que qualquer tentativa de exclusão seria mal recebida pelo governo norte-americano. Dois participantes da reunião interpretaram a fala como uma referência direta às novas diretrizes propostas pela UE, que visam priorizar fabricantes do bloco.

A preocupação de Washington gira em torno do ReArm Europe, proposta da Comissão Europeia que prevê um fundo de 150 bilhões de euros para financiar projetos de defesa — muitos deles com preferência por fornecedores internos. A proposta busca reduzir a dependência de armamentos de fora do continente, especialmente em meio às incertezas sobre o compromisso dos EUA com a Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte).

Soldados dos EUA e de países europeus membros da Otan (Foto: x.com/US_EUCOM)

Rubio planeja reforçar essa mensagem em sua visita a Bruxelas nesta semana, onde participará da reunião de ministros das Relações Exteriores de países da aliança militar transatlântica. “É um ponto que o secretário já levantou e continuará levantando”, disse um alto funcionário do Departamento de Estado.

Apesar de o Departamento de Estado ter expressado apoio ao fortalecimento das capacidades de defesa europeias, a exclusão de empresas dos EUA preocupa. “A cooperação industrial transatlântica no setor de defesa torna a Aliança mais forte”, disse um porta-voz. A Lituânia preferiu não comentar, e os governos de Letônia e Estônia não responderam às solicitações da Reuters.

Segundo fontes diplomáticas europeias, o tom da diplomacia norte-americana se intensificou nas últimas semanas, à medida que a UE acelerou os passos para consolidar a indústria de defesa do bloco. “Eles estão irritados com a proposta do ReArm e com o fato de que os EUA estão sendo excluídos”, disse uma fonte europeia de alto escalão.

A incerteza sobre a confiabilidade dos EUA como fornecedor militar levanta também preocupações sobre o chamado “botão de desligamento”. Alguns analistas alertam que Washington pode, em caso de crise política, limitar o uso de sistemas de defesa avançados vendidos a aliados, seja por meio de bloqueios em softwares críticos ou restrições no fornecimento de peças e munições.

Embora líderes políticos minimizem essa possibilidade, um oficial europeu da indústria de defesa, citado pelo site Politico, apontou que, “com sistemas como HIMARS (sistema de foguetes de artilharia de alta mobilidade) e Patriot, o verdadeiro controle dos EUA vem da entrega de munições e reposição de peças”.

Exportação de armas facilitada

Paralelamente, a administração Trump também prepara medidas para facilitar a exportação de armamentos por empresas dos EUA. Segundo fontes do governo e da indústria citadas com exclusividade pela Reuters, o presidente deve assinar ainda nesta semana uma ordem executiva que flexibiliza as regras atuais e aumenta os valores mínimos para que o Congresso revise as vendas internacionais de armas e equipamentos militares.

A medida, inspirada em proposta legislativa do atual assessor de segurança nacional Michael Waltz, beneficiaria gigantes do setor como Lockheed Martin, RTX e Boeing. No caso da venda de armas para outros países, o limite de venda que exige uma revisão do Congresso subiria de US$ 14 milhões para US$ 23 milhões para armas, e de US$ 50 milhões para US$ 83 milhões para equipamentos complementares e treinamento com finalidade militar.

Os limites seriam ainda mais altos para países da Otan, enquanto aliados estratégicos, como Japão, Austrália e Israel, teriam prazos de notificação reduzidos para apenas 15 dias, fortalecendo o plano de expansão comercial do setor de defesa dos EUA.

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