Países da Otan reduzem compra de armas dos EUA diante de futuro incerto da aliança

Empresas americanas perdem espaço no mercado de defesa de aliados, que buscam evitar a dependência militar de Washington

A relação entre os EUA e seus aliados da Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte) enfrenta um momento crítico. Com a política externa do governo Donald Trump marcada por declarações agressivas e incertezas quanto ao compromisso americano com a aliança, países-membros começam a reconsiderar a compra de armamentos fabricados por empresas norte-americanas. Sinal disso é o recente plano da Comissão Europeia de 150 bilhões de euros para aquisição de equipamentos militares, priorizando fornecedores europeus. As informações são do site Politico.

A mudança reflete a crescente preocupação de que a dependência de armas dos EUA pode comprometer a autonomia sobretudo da Europa em caso de novos atritos políticos. Trump repetidamente questiona se deveria cumprir sua obrigação de defender membros da Otan, além de ter suspendido a ajuda militar e o compartilhamento de inteligência com a Ucrânia. Essas ações geraram um alerta em diversas capitais europeias, que agora buscam reforçar suas próprias indústrias de defesa.

Representantes de países da Otan, março de 2025 (Foto: Nato/Flickr/divulgação)

Entre os países que revisam seus planos de compra, Portugal e Canadá avaliam se devem seguir adiante com a aquisição do caça americano F-35. A Suécia, por sua vez, tenta aumentar as exportações de seu modelo JAS-39 Gripen como alternativa. Em meio a esse cenário, a Dinamarca se prepara para decidir entre um sistema de defesa aérea europeu, o SAMP/T NG, e o MIM-104 Patriot, produzido nos EUA. O resultado da escolha dinamarquesa pode indicar até que ponto os países da Otan estão dispostos a reduzir a presença de equipamentos americanos em suas forças armadas.

A incerteza sobre a confiabilidade dos EUA como fornecedor militar também levanta preocupações sobre o chamado “botão de desligamento”. Alguns analistas alertam que Washington pode, em caso de crise política, limitar o uso de sistemas de defesa avançados vendidos a aliados, seja por meio de bloqueios em softwares críticos ou restrições no fornecimento de peças e munições.

Embora líderes políticos minimizem essa possibilidade, um oficial europeu da indústria de defesa apontou que, “com sistemas como HIMARS (sistema de foguetes de artilharia de alta mobilidade) e Patriot, o verdadeiro controle dos EUA vem da entrega de munições e reposição de peças”.

Apesar das tensões, alguns países ainda enxergam os Estados Unidos como um parceiro indispensável. O ministro da Defesa da Polônia, Władysław Kosiniak-Kamysz, reafirmou recentemente a importância do relacionamento transatlântico, enquanto a Alemanha adotou uma posição intermediária, buscando um “equilíbrio” entre equipamentos americanos e europeus. “Estamos aprendendo que, pelo menos por enquanto, devemos confiar mais em nós mesmos”, afirmou o ministro da Defesa alemão, Boris Pistorius.

Enquanto a Europa avança para fortalecer sua própria base industrial de defesa, as empresas americanas tentam reagir. O setor de defesa dos EUA teme que uma redução na venda de armamentos para aliados possa enfraquecer sua posição global e pressionar a economia doméstica.

“As exportações militares internacionais sustentam diretamente a indústria de defesa americana”, alertou Dak Hardwick, da Associação da Indústria Aeroespacial dos EUA. Para os fabricantes de armas dos Estados Unidos, o desafio agora é convencer os aliados de que, apesar das turbulências políticas, seus equipamentos continuam sendo a melhor opção.

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