Ações provocativas de navios da China ampliam a tensão com o vizinho Vietnã

Segundo analista, incursões pela ZEE vietnamita são uma forma de Beijing reivindicar seu controle sobre o Mar da China Meridional

A quantidade de navios chineses enviados à zona econômica exclusiva (ZEE) do Vietnã no Mar da China Meridional, que se estende a até 200 milhas náuticas da costa do país, aumentou nos últimos meses. A atuação provocativa das embarcações prejudica as operações vietnamitas de gás e petróleo na região e amplia a tensão entre os dois países, segundo informa a rede Voice of America.

O mais recente incidente, no dia 10 de junho, envolveu uma patrulha chinesa que acompanhou um luxuoso navio de passageiros. “Eles passaram cerca de 30 horas na ZEE do Vietnã, principalmente dentro e entre as operações de petróleo e gás”, disse Ray Powell, que lidera o Projeto Myoushu sobre o Mar da China Meridional na Universidade de Stanford, nos EUA.

Segundo o especialista, o episódio foi uma forma de Beijing comunicar a Hanói que “tem jurisdição sobre essas águas”. O objetivo maior, afirma ele, é normalizar a situação “a ponto de o Vietnã não reagir ou protestar mais.”

Navios de guerra da marinha chinesa durante treinamento militar (Foto: eng.chinamil.com.cn)

Nos dias que antecederam a visita dos dois navios, outros casos já haviam sido registrados. Um deles, em 8 de junho, com o maior navio da guarda costeira chinesa, o 5901. Outro, mais longo, durou entre 7 de maio e 4 de junho, quando uma suposta embarcação de pesquisa da China passou quase um mês na região, em determinados momentos escoltada por até 12 barcos da guarda costeira.

No caso do navio de pesquisas, o Xiang Yang Hong 10, a ação provocativa fica clara pela rota. O destino da embarcação era a ilha artificial de Fiery Cross, onde Beijing realiza atualmente obras de militarização. Porém, em vez de seguir em linha reta, o navio desviou o caminho e passou a cerca de 85 milhas náuticas de Nha Trang, cidade na costa centro-sul do Vietnã.

“Foi apenas mais uma maneira de eles mostrarem que podem cruzar a ZEE do Vietnã sempre que quiserem”, disse Powell. “Não há razão para passar por lá a não ser enviar uma mensagem.”

A pesca é outro problema no Mar da China Meridional. Em fevereiro,  um pesqueiro vietnamita foi abordado por uma embarcação chinesa e teve todo o produto de sua pesca confiscado. O incidente teria ocorrido perto das Ilhas Paracel, ou Hoang Sa para o Vietnã, um arquipélago controlado por Beijing e reivindicado também por Taiwan e Vietnã.

Os casos recentes levaram Hanói a se manifestar, algo incomum mesmo diante do crescente assédio chinês. No dia 18 de maio, o porta-voz do Ministério das Relações Exteriores vietnamita, Pham Thu Hang, instou a China a retirar o navio de pesquisa, os barcos da guarda costeira e os pesqueiros e “respeitar a soberania e os direitos jurisdicionais do Vietnã.”

Nguyen The Phuong, professor de relações internacionais da Universidade de Economia e Finanças da cidade vietnamita de Ho Chi Minh, afirma que não há muito mais que o governo de seu país possa fazer. “Qualquer pequeno passo em falso do lado vietnamita pode escalar o conflito”, disse. “É extremamente difícil.”

Por que isso importa?

Na última década, o Mar da China Meridional tem sido palco de inúmeras disputas territoriais entre a China e outros reclamantes do Sudeste Asiático, bem como de uma disputa geopolítica com os Estados Unidos quanto à liberdade de navegação nas águas contestadas. 

Os chineses ampliaram suas reivindicações sobre praticamente todo o Mar da China Meridional e ali ergueram bases insulares em atóis de coral ao longo dos últimos dez anos. Washington deu sua resposta com o envio de navios de guerra à região, no que classifica como “missões de liberdade de operação”.

Embora os EUA não tenham reivindicações territoriais na área, há décadas o governo norte-americano tem enviado navios e aeronaves da Marinha para realizar patrulhas, com o objetivo de promover a navegação livre nas vias marítimas ​​internacionais e no espaço aéreo.

Segundo o comandante dos EUA no Indo-Pacífico, almirante John C. Aquilino, a razão da presença de Washington na região é “prevenir a guerra por meio da dissuasão e promover a paz e a estabilidade, inclusive envolvendo aliados e parceiros americanos em projetos com esse objetivo”.

Já a atuação de Beijing, de acordo com o almirante, é preocupante. “Acho que nos últimos 20 anos testemunhamos o maior acúmulo militar desde a Segunda Guerra Mundial pela República Popular da China”, afirmou. “Eles avançaram todas as suas capacidades, e esse acúmulo de armamento está desestabilizando a região”.

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