Atenta às sanções ocidentais, Huawei tira parte de seus funcionários da Rússia

Gigante chinesa de telecomunicações transfere para o Cazaquistão seu centro de operações focado nas ex-repúblicas soviéticas

Num claro sinal de que teme ser afetada pelas sanções ocidentais impostas a Moscou pela guerra na Ucrânia, a Huawei, gigante chinesa do setor de telecomunicações, começou a realocar funcionários que trabalhavam na Rússia para países da Ásia Central, sobretudo Cazaquistão e Uzbequistão. As informações são do jornal russo Vedomosti.

“Alguns desses funcionários são gerentes e chefes de divisões da Huawei da China, que foram enviados à Rússia no início do ano e posteriormente redirecionados a outros países da CEI (Comunidade dos Estados Independentes)”, disse uma fonte que não se identificou, citando o grupo de países que faziam parte da antiga União Soviética.

A medida é uma forma de evitar problemas sobretudo com a União Europeia (UE), que junto dos EUA liderou os esforços para sancionar a Rússia como punição pela agressão à Ucrânia. Assim, o Cazaquistão se tornará o novo centro da empresa chinesa para coordenar negócios nas ex-repúblicas soviéticas, de acordo com Denis Kuskov, CEO da agência de pesquisa Telecom Daily.

“A Huawei ouve claramente os sinais dos EUA e está construindo uma infraestrutura de duas camadas: realocando todas as operações para a CEI enquanto entrega mercadorias para a Rússia por meio de importações paralelas”, disse Mikhail Burmistrov, chefe da empresa de pesquisa de mercado Infoline-Analytics

Prédio da Huawei em ShenZhen, na China (Foto: Wikimedia Commons)
Por que isso importa?

Desde o início da guerra na Ucrânia, no dia 24 de fevereiro, a China deixa clara sua oposição às sanções impostas à Rússia. No final de março, com a guerra tendo recém completado um mês, o porta-voz do Ministério das Relações Exteriores Zhao Lijian afirmou que Beijing “desaprova a solução de problemas por meio de sanções e se opõe ainda mais a sanções unilaterais e jurisdições de longo alcance que não têm base no direito internacional”.

Segundo Zhao, a China não admite ser forçada a “escolher um lado ou adotar uma abordagem simplista de amigo ou inimigo. Devemos, em particular, resistir ao pensamento da Guerra Fria e ao confronto do bloco”.

Entretanto, de lá para cá, as empresas chinesas começam a notar que talvez seja inviável manter os laços comerciais com Moscou sem pagar um alto preço. As três maiores empresas de petróleo da China foram aconselhadas a suspender os investimentos na Rússia. Igualmente, dois dos maiores bancos de crédito chineses deixaram de oferecer a seus clientes opções de investimento em commodities russas.

Quem também passou a atuar em respeito às sanções foi a Union Pay. O sistema de pagamentos chinês era até então a única alternativa dos consumidores russos para realizar pagamentos no exterior, mas em agosto decidiu parar de aceitar transações realizadas com cartões emitidos por bancos da Rússia.

Em abril, a empresa chinesa já havia determinado aos bancos parceiros na Rússia que deixassem de emitir cartões com a bandeira Union Pay. Agora, até os cartões que estavam operantes deixaram de funcionar. Cidadãos russos relataram dificuldades para realizar pagamentos nos EUA, em Israel e em países de Europa, Ásia e Oriente Médio.

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