China mobiliza as Forças Armadas em exercício de grande escala e aumenta a pressão sobre Taiwan

Exercícios simulam cerco por mar e ar, com ataques a alvos estratégicos e propaganda contra Lai Ching-te

Com manobras coordenadas por terra, mar e ar, a China iniciou na terça-feira (1º) um dos maiores exercícios militares dos últimos anos nos arredores de Taiwan, aumentando a tensão no Estreito e mirando diretamente o novo presidente taiwanês. A movimentação é interpretada como uma resposta direta ao que Beijing chama de “provocações” de Lai Ching-te, contestando sua postura de rejeição à soberania chinesa sobre a ilha. As informações são do jornal The Washington Post.

O Exército de Libertação Popular (ELP) anunciou que o treinamento envolve simulações de bloqueio marítimo e aéreo, além de ataques a alvos navais e terrestres. A operação é conduzida pelo Comando do Teatro Oriental e inclui a participação de unidades do Exército, Marinha, Força Aérea e força de foguetes. Segundo analistas, trata-se de uma demonstração concreta de capacidade para uma eventual invasão.

“Ameaça real”, foi como definiu Huang Chung-ting, pesquisador do Instituto de Pesquisa em Defesa Nacional e Segurança, com sede em Taipé. “Para ser mais concreto quanto à ameaça que esses exercícios chineses representam para Taiwan, deveríamos chamá-los de uma operação de pré-invasão.”

Ele afirmou ainda que, ao focar em Taiwan e responsabilizar diretamente o presidente, Beijing promove uma “guerra cognitiva” que tenta anestesiar a população frente aos riscos crescentes.

Veículos anfíbios da China durante manobra militar: cruciais para eventual invasão (Foto: eng.chinamil.com.cn)

Além da mobilização militar, a China intensificou a ofensiva verbal. Propagandas circularam com mensagens como “fechando o cerco aos separatistas de Taiwan”, acompanhadas de animações nas quais Lai é retratado como um “parasita” que termina destruído em chamas.

O Escritório de Assuntos de Taiwan, ligado ao governo chinês, classificou os exercícios como “punição severa” pelas ações recentes do líder taiwanês, acusando-o de ser “antipaz, antidemocracia, anti-humanidade e anti-intercâmbio”.

De acordo com a agência Reuters, o Ministério da Defesa de Taiwan disse que relatou que ao menos 71 aeronaves militares chinesas e 13 navios da Marinha participaram das manobras, embora não tenham sido detectados disparos reais.

O porta-voz do Ministério, Sun Li-fang, disse ainda que as Forças Armadas de Taiwan elevaram seu nível de prontidão para garantir que a China não “transforme exercícios em combate” e “lance um ataque repentino contra nós”. Já a porta-voz da presidência taiwanesa, Kuo Ya-hui, afirmou que “a determinação de Taiwan em manter a paz e a estabilidade no Estreito de Taiwan permanece inalterada.”

Ainda não há informações sobre a duração dos exercícios. Diferentemente de ocasiões anteriores, o Comando do Teatro Oriental não especificou zonas de exclusão nem anunciou prazo para o fim das manobras.

Por que isso importa?

Taiwan é uma questão territorial sensível para a China, e a queda de braço entre Beijing e o Ocidente por conta da pretensa autonomia da ilha gera um ambiente tenso, com a ameaça crescente de uma invasão pelas forças armadas chinesas a fim de anexar formalmente o território taiwanês.

Nações estrangeiras que tratem a ilha como nação autônoma estão, no entendimento de Beijing, em desacordo com o princípio “Uma Só China“, que também vê Hong Kong como parte da nação chinesa.

Embora não tenha relações diplomáticas formais com Taiwan, assim como a maioria dos demais países, os EUA são o mais importante financiador internacional e principal parceiro militar de Taipé. Tais circunstâncias levaram as relações entre Beijing e Washington a seu pior momento desde 1979, quando os dois países reataram os laços diplomáticos.

A China, em resposta à aproximação entre o rival e a ilha, endureceu a retórica e tem adotado uma postura belicista na tentativa de controlar a situação. Jatos militares chineses passaram a realizar exercícios militares nas regiões limítrofes com Taiwan e habitualmente invadem o espaço aéreo taiwanês, deixando claro que Beijing não aceitará a independência formal do território “sem uma guerra“.

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