A Coreia do Sul se aproxima de uma decisão histórica que pode não apenas destituir o presidente Yoon Suk-yeol, mas também redefinir o equilíbrio de forças no Indo-Pacífico. A Corte Constitucional do país está na reta final do julgamento que decidirá se confirma o impeachment aprovado pelo Parlamento em dezembro. No centro do processo, que terá veredito em março, está a polêmica sobre uma tentativa relâmpago de imposição da lei marcial pelo presidente e o crescente debate sobre a influência chinesa na política sul-coreana. As informações são da rede Voice of America (VOA).
Desde o início das audiências, em janeiro, o tema China ganhou força no julgamento, com a defesa de Yoon alegando que a oposição sabotou reformas cruciais na legislação antiespionagem, facilitando a atuação de agentes estrangeiros no país. A discussão foi intensificada após declarações do advogado de defesa do presidente, Cha Gi-hwan, que afirmou que Beijing manipula opinião pública, financia políticos pró-China e interfere no processo eleitoral.

O próprio Yoon acusou, em dezembro, “forças antiEstado” de operarem na Coreia do Sul, justificando assim sua tentativa de decretar lei marcial. Entre suas alegações, citou o caso de cidadãos chineses que usaram drones para filmar um porta-aviões dos EUA ancorado na cidade portuária de Busan. Além disso, criticou o bloqueio da oposição à ampliação da legislação antiespionagem, que substituiria a expressão “Estados inimigos” por “países estrangeiros”, incluindo assim China e outros atores suspeitos de atividades de inteligência clandestina.
A embaixada chinesa em Seul reagiu rapidamente. Em 10 de fevereiro, o embaixador Dai Bing rejeitou categoricamente as acusações de interferência política e eleitoral. “A China sempre manteve o princípio de não interferência nos assuntos internos de outros países”, escreveu no X, antigo Twitter.
Nos Estados Unidos, especialistas alertam que, se Yoon for removido do cargo, Beijing pode ampliar suas operações de influência na Coreia do Sul. Dennis Wilder, ex-dirigente da CIA, afirmou que “a China verá essa crise política como uma oportunidade para avançar sua agenda, enfraquecendo a democracia sul-coreana e favorecendo políticos mais alinhados a Beijing”.
A tensão também ressoa em Washington. O vice-presidente do Center for Asia Pacific Strategy, David Maxwell, defendeu que “o presidente Yoon está certo em chamar atenção para o que a China está fazendo” e sugeriu uma resposta coordenada entre EUA e Coreia do Sul para conter a interferência chinesa.
O impacto da destituição de Yoon também pode remodelar a política externa do país. Bruce Klingner, da Heritage Foundation, destacou que o principal líder da oposição, Lee Jae-myung, é cotado para disputar eleições caso o impeachment seja confirmado. “Suas declarações indicam uma política mais amigável à China e à Coreia do Norte, mais hostil ao Japão e menos focada no fortalecimento da aliança com os EUA”, disse Klingner.
A Casa Branca e o Pentágono acompanham a crise com preocupação. O secretário de Defesa dos EUA, Pete Hegseth, enfatizou a importância de manter uma cooperação estreita com aliados do Pacífico, como Coreia do Sul, Japão e Austrália, para enfrentar desafios impostos pela China. Em um cenário de incertezas, a próxima decisão da Corte Constitucional não determinará apenas o futuro de Yoon Suk-yeol, mas também o rumo das alianças e da segurança regional na Ásia-Pacífico.