O anúncio do governo norte-americano de que fornecerá a Taiwan um pacote bilionário de armas de defesa irritou a China, que prometeu adotar “contramedidas resolutas” e também realizou novas manobras militares no entorno da ilha.
O pacote aprovado pelos EUA tem como destaque um avançado sistema de defesa antiaérea usado com sucesso pela Ucrânia na guerra contra a Rússia, segundo relatou a agência Reuters na semana passada. Assim, Washington diz respeitar sua própria lei, que, embora reconheça o princípio “Uma Só China”, obriga o governo a fornecer a Taiwan os meios necessários para se defender de uma eventual invasão.
Além dos sistemas de defesa antiaérea, avaliados em em US$ 1,16 bilhão, o pacote é completado por um sistema de radares de R$ 828 milhões, totalizando US$ 2 bilhões em ajuda.
“Esta venda proposta atende aos interesses nacionais, econômicos e de segurança dos EUA ao apoiar os esforços contínuos do destinatário para modernizar suas Forças Armadas e manter uma capacidade defensiva confiável”, disse o Pentágono em comunicado. “A venda proposta ajudará a melhorar a segurança do destinatário e auxiliará na manutenção da estabilidade política, do equilíbrio militar e do progresso econômico na região.”
O Ministério da Defesa de Taiwan celebrou especialmente a entrega do Sistema Nacional Avançado de Mísseis Superfície-Ar (NASAMS), que Kiev tem adotado com sucesso para se defender dos bombardeios russos.
Beijing reagiu nesta segunda-feira (28), com uma manifestação divulgada por seu Ministério das Relações Exteriores. “A China condena fortemente e se opõe firmemente a isso e apresentou protestos sérios aos EUA”, diz declaração de um porta-voz reproduzida pela rede CNN. “Tomaremos contramedidas resolutas e adotaremos todas as medidas necessárias para defender firmemente a soberania nacional, a segurança e a integridade territorial.”
O governo chinês também adotou medidas práticas após o anúncio, estabelecendo uma “patrulha de combate” no entorno de Taiwan no domingo (27), com aviões e navios de guerra, conforme relato da Reuters. A movimentação porém, foi consideravelmente menor que a do exercício realizado há 15 dias, quando mais de 150 aeronaves e embarcações foram despachados por Beijing.
Por que isso importa?
Taiwan é uma questão territorial sensível para a China, e a queda de braço entre Beijing e o Ocidente por conta da pretensa autonomia da ilha gera um ambiente tenso, com a ameaça crescente de uma invasão pelas forças armadas chinesas a fim de anexar formalmente o território taiwanês.
Nações estrangeiras que tratem a ilha como nação autônoma estão, no entendimento de Beijing, em desacordo com o princípio “Uma Só China“, que também vê Hong Kong como parte da nação chinesa.
Embora não tenha relações diplomáticas formais com Taiwan, assim como a maioria dos demais países, os EUA são o mais importante financiador internacional e principal parceiro militar de Taipé. Tais circunstâncias levaram as relações entre Beijing e Washington a seu pior momento desde 1979, quando os dois países reataram os laços diplomáticos.
A China, em resposta à aproximação entre o rival e a ilha, endureceu a retórica e tem adotado uma postura belicista na tentativa de controlar a situação. Jatos militares chineses passaram a realizar exercícios militares nas regiões limítrofes com Taiwan e habitualmente invadem o espaço aéreo taiwanês, deixando claro que Beijing não aceitará a independência formal do território “sem uma guerra“.
A crise ganhou contornos mais dramáticos após a visita da presidente da Câmara dos Representantes dos EUA, Nancy Pelosi, à ilha em 2022. Foi a primeira pessoa ocupante do cargo a viajar para Taiwan em 25 anos, atitude que mexeu com os brio de Beijing. Desde então, a tensão cresce até que, em outubro de 2024, a China realizou um de seus maiores exercícios militares no entorno da ilha.
O treinamento mostrou que Beijing tem condições de impor um bloqueio eficaz, impedindo tanto o transporte marítimo quanto a aviação no entorno da ilha. Trata-se de uma hipótese que vem sendo levantada há tempos por analistas, pois permitira à China sufocar Taiwan sem necessariamente iniciar uma guerra. Se colocada em prática, a medida aceleraria o consumo de materiais essenciais e levaria Taiwan ao colapso, jogando para os aliados ocidentais a decisão de abrir fogo ou não.
Apesar das alternativas apresentadas nas recentes manobras militares, uma invasão militar segue no radar chinês. “Estamos dispostos a lutar pela perspectiva de reunificação pacífica com a máxima sinceridade e empenho”, disse Chen Binhua, porta-voz do Gabinete de Assuntos de Taiwan na China, citado pela agência Reuters. “Mas nunca nos comprometeremos a renunciar ao uso da força”, adicionou.