Facção do Estado Islâmico reivindica ataque com mais de 50 mortos no Paquistão

Explosão atingiu comício de um partido paquistanês ligado ao Taleban, que é rival do grupo extremista responsável pelo atentado

O ataque terrorista que deixou ao menos 54 pessoas mortas no Paquistão no domingo (30) foi realizado pelo Estado Islâmico-Khorasan (EI-K), grupo extremista proveniente do Afeganistão que na segunda-feira (31) reivindicou a autoria. As informações são da agência Associated Press (AP).

Através de seu site de propaganda, o Amaq, a organização extremista disse que um de seus seguidores usou um colete explosivo para atacar um comício eleitoral do partido Jamiat Ulema Islam que tinha cerca de mil pessoas presentes. A sigla ultraconservadora apoia o Taleban, grupo radical que atualmente governa o Afeganistão e é o principal inimigo do EI-K.

Segundo autoridades locais, ao menos 54 pessoas morreram, entre elas cinco crianças. Cerca de outras 200 pessoas se feriram no violento ataque.

A explosão ocorreu na cidade de Bajur, na província de Khyber Pakhtunkhwa, noroeste do Paquistão e perto da fronteira com o Afeganistão. Trata-se de uma região com forte presença de grupos extremistas, onde também atua o Tehrik-e Taliban Pakistan (TTP), popular Taleban do Paquistão.

O atentado ocorre em meio à corrida eleitoral no Paquistão, cujo pleito deve ocorrer entre outubro e dezembro deste ano. O partido Jamiat Ulema Islam é liderado pelo clérigo Fazlur Rehman, aliado também do primeiro-ministro Shehbaz Sharif, que assumiu o poder em abril de 2022 ao derrubar o antecessor Imran Khan através de uma manobra política.

Inicialmente apontado como suspeito, o TTP prontamente descartou relação com o ataque, mais tarde reivindicado pelo EI-K. Por sua vez, o Taleban afegão manifestou pesar pelas mortes, com seu porta-voz Zabihullah Mujahid dizendo que “tais crimes não podem ser justificados de forma alguma.”

Combatentes do Estado Islâmico-Khorasan no Afeganistão (Foto: reprodução de vídeo)
Por que isso importa?

Embora tenha ganhado notoriedade somente após o Taleban ascender ao poder, o EI-K não é novo no cenário afegão. O grupo extremista opera no Afeganistão desde 2015 e surgiu na esteira da criação do EI do Iraque e da Síria. Foi formado originalmente por membros de grupos do Paquistão que migraram para fugir da crescente pressão das forças de segurança paquistanesas.

Agora que a ocupação estrangeira no Afeganistão terminou e que o antigo governo foi deposto pelo Taleban, os principais alvos do EI-K têm sido a população civil e os próprios talibãs, tratados como apóstatas pelo Khorasan, sob a acusação de que abandonaram a jihad por uma negociação diplomática.

Os ataques suicidas são a principal marca do EI-K, que habitualmente tem uma alta taxa de mortes por atentado. O mais violento de todos ocorreu durante a retirada de tropas dos EUA e da Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte), quando as bombas do grupo mataram 182 pessoas na região do aeroporto de Cabul.

Não há diferença substancial entre EI e EI-K, somente o local de origem, a região de Khorasan, originalmente parte do Irã.

No Brasil

Episódios recentes mostram que o Brasil é visto como porto seguro pelos extremistas. Em dezembro de 2013, levantamento do site The Brazil Business indicava a presença de ao menos sete organizações terroristas no Brasil: Al-Qaeda, Jihad Media Battalion, Hezbollah, Hamas, Jihad Islâmica, Al-Gama’a Al-Islamiyya e Grupo Combatente Islâmico Marroquino.

Em 2001, uma investigação da revista Veja mostrou que 20 membros terroristas de Al-Qaeda, Hamas e Hezbollah viviam no país, disseminando propaganda terrorista, coletando dinheiro, recrutando novos membros e planejando atos violentos.

Em 2016, duas semanas antes do início dos Jogos Olímpicos no Rio, a PF prendeu um grupo jihadista islâmico que planejava atentados semelhantes aos dos Jogos de Munique em 1972. Dez suspeitos de serem aliados ao Estado Islâmico foram presos e dois fugiram.

Mais recentemente, em dezembro de 2021, três cidadãos estrangeiros que vivem no Brasil foram adicionados à lista de sanções do Tesouro Norte-americano. Eles são acusados de contribuir para o financiamento da Al-Qaeda, tendo inclusive mantido contato com figuras importantes do grupo terrorista.

Para o tenente-coronel do exército brasileiro André Soares, ex-agente da Abin (Agência Brasileira de Inteligência), os recentes anúncios do Tesouro causam “preocupação enorme”, vez que confirmam a presença do país no mapa das organizações terroristas islâmicas.

“A possibilidade de atentados terroristas em solo brasileiro, perpetrados não apenas por grupos extremistas islâmicos, mas também pelo terrorismo internacional, é real”, diz Soares, mestre em operações militares e autor do livro “Ex-Agente Abre a Caixa-Preta da Abin” (editora Escrituras). “O Estado e a sociedade brasileira estão completamente vulneráveis a atentados terroristas internacionais e inclusive domésticos, exatamente em razão da total disfuncionalidade e do colapso da atual estrutura de Inteligência de Estado vigente no país”. Saiba mais.

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