Estado Islâmico reivindica ataque contra missa católica que gerou manifestação do papa

Dois homens armados invadiram uma igreja em Istambul, na Turquia, e atiraram contra os fieis, deixando um homem morto

O atentado terrorista contra a Igreja de Santa Maria, em Istambul, na Turquia, ocorrido no domingo (29), foi realizado pelo Estado Islâmico (EI), que assumiu a autoria pouco após o ataque. Uma pessoa morreu na ação do grupo extremista, que levou inclusive a uma manifestação de pesar do papa Francisco. As informações são do jornal The New York Times.

De acordo com Davut Gul, governador de Istambul apontado pelo presidente turco Recep Tayyip Erdogan, “dois agressores mascarados” invadiram a igreja durante a missa de domingo e “atiraram em uma pessoa que foi morta.”

O grupo de inteligência SITE, que monitora a atividade extremista global, foi o primeiro a noticiar que o EI reivindicou a autoria. Segundo a própria organização terrorista, o atentado ocorreu em resposta a uma convocação feita a seus seguidores, para que ataquem judeus e cristãos em todo o mundo.

Operação da polícia da Turquia contra membros do Estado Islâmico em Ancara, fevereiro de 2021 (Foto: Reprodução/Anadolu Agency)

Após o ataque, o ministro das Relações Exteriores da Itália, Antonio Trajani, usou a rede social X, antigo Twitter, para condenar a violência. “Manifesto as minhas condolências e firme condenação pelo covarde ataque na Igreja de Santa Maria”, disse ele, acrescentando que a diplomacia italiana a acompanha os desdobramentos do caso.

O papa Francisco usou o mesmo canal para lamentar. “Expresso a minha proximidade à comunidade da Igreja de Santa Maria Draperis, em Istambul, que sofreu um ataque armado durante a missa, matando uma pessoa e ferindo várias outras”, disse ele.

Na sequência do ocorrido, o ministro do Interior da Turquia, Ali Yerlikaya, disse que os dois suspeitos do ataque haviam sido capturados. Ele ainda identificou a vítima fatal como Tuncer Cihan e expressou “condolências à família e parentes do nosso cidadão que perdeu a vida.”

Por que isso importa?

O Estado Islâmico (EI) passa por um processo de enfraquecimento que começou com a derrota da organização em seus dois principais redutos. No Iraque, o exército iraquiano retomou todos os territórios que o grupo dominava desde 2014. Já as FDS (Forças Democráticas Sírias), uma milícia curda apoiada pelos EUA, anunciaram em 2019 o fim do “califado” criado pela facão extremista na Síria.

De acordo com relatório divulgado em agosto de 2023 pela ONU (Organização das Nações Unidas), o EI “continua a comandar entre cinco mil e sete mil membros em todo o Iraque e na República Árabe da Síria, a maioria dos quais combatentes.” No entanto, “adotou deliberadamente uma estratégia para reduzir os ataques, a fim de facilitar o recrutamento e a reorganização.”

Atualmente, a maioria dos líderes do EI permanece no noroeste da Síria, mas “o grupo realocou algumas figuras-chave para outros lugares.” Um continente de forte presença da organização é a África, com afiliados locais representando uma ameaça constante aos governos da região.

Um desses afiliados é o Estado Islâmico no Grande Saara (EIGS), que ampliou sua área de atuação, com aumento de ataques no Mali e, em menor escala, em Burkina Faso e no Níger. Recentemente, tem feito esforços para estabelecer “um corredor para a Nigéria para fins logísticos, de abastecimento e recrutamento, possivelmente em colaboração com o ISWAP” (Estado Islâmico da África Ocidental).

A avaliação da equipe de monitoramento da ONU, entregue ao Conselho de Segurança no final de julho, surge em meio a mais um momento crucial da luta contra o terrorismo. Desde fevereiro de 2022, o EI sofreu diversos duros golpes, com três líderes da organização mortos em operações de combate ao terrorismo.

O mais recente deles foi Abu al-Hussein al-Husseini al-Qurashi, morto em abril. O governo turco reivindicou a ação, embora a própria organização terrorista alegue que o comandante morreu em confronto com o Hayat Tahrir Al-Sham (HTS), uma organização extremista associada à Al-Qaeda e listada pelo governo norte-americano como terrorista.

“Apesar do progresso feito no direcionamento de suas operações financeiras e quadros de liderança, a ameaça representada pelo Daesh (sigla árabe para se referir ao grupo) e suas afiliadas regionais permaneceu alta e dinâmica nas amplas áreas geográficas onde está presente”, diz o relatório, citando a África como uma região de particular preocupação.

Terrorismo no Brasil

Episódios recentes mostram que o Brasil é visto como porto seguro pelos extremistas e é, também, um possível alvo de ataques. Em dezembro de 2013, levantamento do site The Brazil Business indicava a presença de ao menos sete organizações terroristas no Brasil: Al-Qaeda, Jihad Media Battalion, Hezbollah, Hamas, Jihad Islâmica, Al-Gama’a Al-Islamiyya e Grupo Combatente Islâmico Marroquino.

Em 2016, duas semanas antes do início dos Jogos Olímpicos no Rio, a PF prendeu um grupo jihadista islâmico que planejava atentados semelhantes aos dos Jogos de Munique em 1972. Dez suspeitos de serem aliados ao EI foram presos e dois fugiram.

Mais tarde, em dezembro de 2021, três cidadãos estrangeiros que vivem no Brasil foram adicionados à lista de sanções do Tesouro Norte-americano. Eles foram acusados de contribuir para o financiamento da Al-Qaeda, tendo inclusive mantido contato com figuras importantes do grupo terrorista.

A ameaça voltou a ser evidenciada com a prisão, em outubro de 2023, de três indivíduos supostamente ligados ao Hezbollah que operavam no Brasil. Eles atuavam com a divulgação de propaganda do grupo extremista e planejavam atentados contra entidades judaicas.

Para o tenente-coronel do exército brasileiro André Soares, ex-agente da Abin (Agência Brasileira de Inteligência), tais episódios causam “preocupação enorme”, vez que confirmam a presença do país no mapa das organizações terroristas islâmicas.

“A possibilidade de atentados terroristas em solo brasileiro, perpetrados não apenas por grupos extremistas islâmicos, mas também pelo terrorismo internacional, é real”, diz Soares, mestre em operações militares e autor do livro “Ex-Agente Abre a Caixa-Preta da Abin” (editora Escrituras).

A opinião é compartilhada por Barbara Krysttal, gestora de políticas públicas e analista de inteligência antiterrorismo.

“O Brasil recorrentemente, nos últimos dez, cinco anos, tem tido um aumento significativo de grupos terroristas assediando jovens e cooptando adultos jovens para fazer parte de ações terroristas no mundo todo”, disse ela, que também vê o país sob ameaça de atentados. “Sim, é um polo que tem possibilidade de ser alvo de ações terroristas.”

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