Estatal chinesa vence licitação para revitalização de porto internacional nas Ilhas Salomão

Nação do Pacífico concedeu um contrato multimilionário a uma empresa estatal chinesa para modernizar um porto internacional em Honiara em um projeto financiado pelo Banco Asiático de Desenvolvimento

Os laços entre Honiara e Beijing estão cada vez mais estreitos. As Ilhas Salomão assinaram um contrato multimilionário com uma empresa estatal chinesa para modernizar um porto internacional na capital. Segundo detalhou uma autoridade do país insular nesta quarta-feira (22), o projeto é financiado pelo Banco Asiático de Desenvolvimento (ADB, da sigla em inglês). As informações são da agência Reuters.

“Isso vai melhorar o antigo porto internacional em Honiara e dois cais domésticos nas províncias”, disse Mike Qaqara, funcionário do ministério de desenvolvimento de infraestrutura das Ilhas Salomão.

O acordo de reconstrução do porto faz parte de um projeto de US$ 170 milhões financiado pelo ADB para melhorar estradas e o cais. A China Civil Engineering Construction Company (CCECC) recebeu o contrato após ser o único participante de uma licitação competitiva, acrescentou Qaqara.

“Isso resultará na reabilitação do antigo porto internacional de Honiara, na construção do porto doméstico de Honiara e mais dois portos provinciais”, disse o governo das Ilhas Salomão em um comunicado.

O primeiro-ministro das Ilhas Salomão, Manasseh Sogavare (Foto: WikiCommons)

Tal aproximação entre as nações é motivo de preocupação entre Washington e seus aliados. Isso porque as Ilhas Salomão, um território estrategicamente crucial, estão no olho do furacão de uma disputa diplomática que coloca EUA, Austrália e outros parceiros no Indo-Pacífico de um lado e Beijing de outro. 

A principal razão dos temores surgiu no final de março do ano passado, quando vazou uma carta de intenções indicando que a China planejava estabelecer uma base militar nas Ilhas Salomão. Depois disso, um acordo de segurança com a China foi confirmado pelo premiê Manasseh Sogavare

Procurando afastar as preocupações dos governos ocidentais quanto a uma hipotética militarização chinesa dentro da nação insular, Qaqara detalhou à reportagem que “não haverá expansão” do projeto. Tanto as Ilhas Salomão quanto a China negam que seu pacto de segurança permita a construção de uma base naval.

Enquanto isso, a estratégia de Washington para frear as ambições da China na região do Indo-Pacífico segue a toda, tanto que a embaixada nas Ilhas Salomão foi reaberta em fevereiro. Nesta semana, inclusive, uma delegação dos EUA visita Honiara. O mesmo faz uma delegação chinesa.

Acesso

O anúncio nas Ilhas Salomão gerou esperadas reações em Camberra.

“O governo australiano monitora de perto os desenvolvimentos que podem impactar nosso interesse nacional. O Ministério de Desenvolvimento de Infraestrutura das Ilhas Salomão disse que não haverá expansão do porto para uso duplo”, disse um porta-voz do Departamento de Relações Exteriores e Comércio da Austrália nesta quarta.

Peter Connolly, um um ex-oficial militar australiano, falou de suas impressões sobre o pacto de segurança entre Honiara e Beijing. Para ele, os cais são essenciais para o desenvolvimento econômico das Ilhas Salomão, mas poderiam se tornar instalações de “uso duplo”, dando acesso à marinha chinesa à região.

“Não se trata de bases, mas de acesso”, disse Connolly, que pesquisa os projetos de infraestrutura da China no Pacífico pela Universidade Nacional Australiana (ANU, da sigla em inglês).

Por que isso importa?

As Ilhas Salomão vivem um período de intensa agitação social, que especialistas associam a questões étnicas e históricas, à corrupção estatal e ao movimento do governo para estreitar laços com a China. Há três anos, o governo local trocou a aliança diplomática com Taiwan por uma com Beijing.

Para James Batley, um ex-alto comissário australiano para as Ilhas Salomão e especialista em assuntos sobre Ásia-Pacífico da Universidade Nacional Australiana, o desagrado da população em relação à aproximação com a China serviu como gatilho para a desordem popular que explodiu em novembro de 2021.

“Não é política externa em si, mas acho que essa mudança diplomática alimentou as queixas pré-existentes e, em particular, a sensação de que os chineses interferiram na política nas Ilhas Salomão, que o dinheiro chinês de alguma forma fomentou a corrupção, distorceu a forma como a política funciona nas Ilhas Salomão”, disse Batley.

A relação comercial com a China é considerada particularmente predatória pela população local. Mais da metade de todos os frutos do mar, madeira e minerais extraídos do Pacífico em 2019 foi para a China. A estimativa é de que esse processo tenha movimentado US$ 3,3 bilhões, apontou uma análise de dados comerciais do jornal britânico The Guardian.

Para alimentar e gerenciar a população de quase 1,4 bilhão de habitantes, a China tirou do Pacífico mais recursos do que os dez países da região juntos. Nas Ilhas Salomão e em Papua Nova Guiné, por exemplo, mais de 90% do total de madeira exportada foi para os chineses.

Os dados não levam em consideração as exportações ilícitas. Nas Ilhas Salomão, pelo menos 70% das toras são exportadas de madeira ilegal. A falta de leis na China contra esse tipo de importação absorvem o envio devido à alta demanda e proximidade com a região.

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