Dois congressistas norte-americanos, membros do Comitê Seleto da Câmara sobre o Partido Comunista Chinês (PCC), questionaram um órgão governamental dos EUA nesta semana a respeito de testes clínicos supostamente realizados por grandes empresas farmacêuticas do país em Xinjiang, na China, em parceria com o Exército de Libertação Popular (ELP). As informações são da rede Radio Free Asia (RFA).
Os deputado John Moolenaar, do Partido Republicano, e Raja Krishnamoorthi, do Democrata, enviaram uma carta à Administração de Alimentos e Medicamentos (FDA, na sigla em inglês), órgão do governo dos EUA, questionando sobre a prática, embora não tenham revelado os nomes das empresas suspeitas. Washington acusa Beijing de genocídio na região, onde vive a minoria étnica dos uigures.
“Por mais de uma década, parece que as empresas biofarmacêuticas dos EUA conduziram testes clínicos com organizações militares da China, e especificamente com centros médicos e hospitais afiliados ao Exército de Libertação Popular (ELP), para determinar a segurança e eficácia de novos candidatos a medicamentos antes da aprovação”, diz o documento
Na carta, os legisladores destacam rapidamente o lado humanitário. “Dada a repressão histórica e a discriminação médica contra minorias étnicas nesta região, há preocupações éticas significativas em torno da realização de ensaios clínicos [em Xinjiang].”
O questionamento central, entretanto, é focado em questões de segurança nacional. Segundo os deputados, a “propriedade intelectual crítica [norte-americana] corre o risco de ser transferida para o ELP ou ser cooptada sob a Lei de Segurança Nacional da República Popular da China (RPC).”
Dois hospitais que levam o nome o ELP são citados pelos congressistas como tendo sediado os testes, um deles para avaliar a eficácia de um medicamento contra Alzheimer. Os autores da carta afirmam que “a transferência de dados de ensaios clínicos em estágio inicial, incluindo a composição química do próprio medicamento, envolve dados extremamente sensíveis.”
Por que isso importa?
A província de Xinjiang faz fronteira com países da Ásia Central, com quem divide raízes linguísticas e étnicas. Ali vive a comunidade uigur, uma minoria muçulmana de raízes turcas que sofre perseguição do governo chinês, com acusações de abusos diversos.
Os uigures, cerca de 11 milhões, enfrentam discriminação da sociedade e do governo chinês e são vistos com desconfiança pela maioria han, que responde por 92% dos chineses. Denúncias dão conta de que Beijing usa de tortura, esterilização forçada, trabalho obrigatório e maus tratos para realizar uma limpeza étnica e religiosa em Xinjiang.
Em agosto de 2022, a ONU divulgou um aguardado relatório que fala em “graves violações dos direitos humanos” cometidas em Xinjiang. O documento destaca “padrões de tortura ou maus-tratos, incluindo tratamento médico forçado e condições adversas de detenção”, bem como “alegações de incidentes individuais de violência sexual e de gênero”.
O relatório, porém, não citou a palavra “genocídio” usada por alguns países ocidentais. O governo do presidente Joe Biden, dos EUA, foi o primeiro a usar o termo para descrever as ações da China em relação aos uigures. Em seguida, Reino Unido e Canadá também passaram a usar a designação, e a Lituânia se juntou ao grupo mais recentemente.
A China nega as acusações de que comete abusos em Xinjiang e diz que as ações do governo na região têm como finalidade a educação contraterrorismo, a fim de conter movimentos separatistas e combater grupos extremistas religiosos que eventualmente venham a planejar ataques terroristas no país. Beijing costuma classificar as denúncias como “a mentira do século”.