Governo chinês vasculha celulares e monitora jornalistas durante visita a Xinjiang

Agentes de segurança seguiram o grupo e censuraram imagens; viagem foi organizada para construir narrativa favorável a Beijing

O governo chinês impôs um rígido controle sobre a delegação de jornalistas tailandeses que visitou Xinjiang nesta semana, como parte de uma viagem organizada por Beijing para construir uma narrativa positiva sobre as condições dos uigures que li vivem. Os convidados foram acompanhados por agentes de segurança chineses, que exigiram revisar todas as imagens capturadas e ordenaram a exclusão de fotos que não receberam aprovação oficial. As informações são da rede Radio Free Asia (RFA).

O grupo acompanhou o vice-primeiro-ministro tailandês, Phumtham Wechayachai, em uma viagem de três dias a Kashgar, Xinjiang, em meio às críticas internacionais sobre a deportação de 40 uigures da Tailândia para a China no final de fevereiro. Durante o tour, agentes de segurança chineses controlaram de perto a atividade dos jornalistas, de acordo com Pranot Vilapasuwan, diretor de notícias do jornal tailandês Thairath.

Cidade de Urumqi, em Xinjiang, na China (Foto: WikiCommons)

“Os jornalistas tailandeses foram escoltados por funcionários de segurança, que também solicitaram revisar as imagens antes de permitir que fossem enviadas de volta à Tailândia”, revelou Pranot em publicação no Facebook. Além disso, os repórteres foram orientados a borrar os rostos dos uigures e de seus familiares, bem como dos oficiais chineses, ou a evitar capturar imagens desses indivíduos por completo.

A supervisão sobre os jornalistas começou antes mesmo da viagem. Pranot relatou que os profissionais foram submetidos a entrevistas com autoridades tailandesas como parte de um processo de triagem, sugerindo que o controle sobre a cobertura da visita foi planejado com antecedência. “Isso significa que as agências de segurança estavam filtrando a mídia”, afirmou Pranot durante um programa do Thairath online.

A visita aconteceu após fortes críticas de governos ocidentais e organizações de direitos humanos sobre a deportação dos uigures. Os EUA chegaram a impor restrições de visto a autoridades tailandesas envolvidas na operação. Apesar das acusações de cooperação indevida com Beijing, autoridades tailandesas defenderam a medida com base em promessas chinesas de que os deportados não seriam maltratados.

A presença dos jornalistas e do vice-primeiro-ministro tailandês em Xinjiang não passou despercebida por críticos, que alegam que toda a operação foi orquestrada pela China para controlar a narrativa internacional. Segundo Sunai Phasuk, pesquisador sênior da Human Rights Watch (HRW), tudo sobre a visita foi “encenado” e “gerenciado” pelo governo chinês para mascarar as violações contra os uigures.

Tags: