Yahya Rahimi é um dos mais de 300 mortos em meio à brutal repressão do governo do Irã aos protestos populares que tomaram as ruas do país desde setembro. O que separa o caso dele dos demais é o fato de que a morte supostamente ocorreu pelo simples fato de o homem ter acionado a buzina do carro em apoio aos manifestantes. As informações são da rede Radio Free Europe (RFE).
O grupo de direitos humanos Hengaw, sediado na Noruega e focado nos assuntos do Curdistão, publicou um vídeo que mostra o momento em que Yahya é morto. As imagens, abaixo, podem ser perturbadoras para pessoas mais sensíveis.
اختصاصی ههنگاو
— Hengaw Human Rights Organization (@HengawO) October 9, 2022
تیم حقوقی ههنگاو در نتیجه تحقیقات و دریافت تصویری دیگر از زمان بروز حادثه توانسته هویت شخص کشته شده در داخل خودرو پراید در اثر شلیک مستقیم نیروهای امنیتی را احراز کند. برای اطلاعات بیشتر گزارش تحقیقی ههنگاو را بخوانید. #مهسا_امینی pic.twitter.com/PNw4azagwe
Os ativistas alegam que o homem guiava o próprio veículo e acionou a buzina em meio aos protestos. Primeiro, agentes de segurança à paisana atacaram o veículo com paus, quebrando os vidros. Depois, o barulho de um disparo de arma de fogo pode ser ouvido. A imagem então mostra Yahya morto dentro do carro.
O governo iraniano alega que manifestantes fizeram o disparo fatal, mas a família acusa Teerã. “Agentes da República Islâmica danificaram o carro dele, mas não o deixaram em paz”, disse o pai da vítima, Ahmad Rahimi. “Poucos passos depois, eles o martirizaram”.
Segundo Ahmad, o governo recomendou aos familiares que reconhecessem Yahya como membro da Guarda Revolucionária Islâmica (IRGC, na sigla em inglês). Assim, os manifestantes levariam a culpa, o homem morreria como mártir e os parentes receberiam benefícios estatais. O pai diz ter recusado a oferta.
Por que isso importa?
Os protestos populares tomaram as ruas do Irã após a morte de Mahsa Amini, uma jovem de 22 anos que visitava Teerã, capital do país, quando foi abordada pela “polícia da moralidade” por não usar “corretamente” o hijab, o véu obrigatório para as mulheres. Sob custódia, ela desmaiou, entrou em coma e morreu três dias depois.
Os protestos começaram no Curdistão, província onde vivia Mahsa, e depois se espalharam por todo o país, com gritos de “morte ao ditador” e pedidos pelo fim da república islâmica. As forças de segurança iranianas passaram a reprimir as manifestações de forma violenta, com relatos de dezenas de mortes.
No início de outubro, a ONG Human Rights Watch (HRW) publicou um relatório que classifica o regime iraniano como “corrupto e autocrático”, denunciando uma série de abusos cometidos pelas forças de segurança na repressão aos protestos populares.
De acordo com a ONG, em ao menos 13 cidades do Irã foram registrados casos de uso de força excessiva ou letal. O relatório cita vídeos divulgados na internet que mostram agentes estatais usando rifles, espingardas e revólveres indiscriminadamente contra a multidão, “matando e ferindo centenas”.
Além dos mortos e feridos, a ONG destaca os casos de “centenas de ativistas, jornalistas e defensores de direitos humanos” que, mesmo de fora dos protestos, acabaram presos pelas autoridades. E cita também o corte dos serviços de internet, com plataformas de mídia social bloqueadas em todo o país desde o dia 21 de setembro, por ordem do Conselho de Segurança Nacional do Irã.