Homem teria sido morto por acionar a buzina do carro em apoio a protestos no Irã

Yahya Rahimi é um dos mais de 300 mortos em meio à brutal repressão do governo do Irã aos protestos populares

Yahya Rahimi é um dos mais de 300 mortos em meio à brutal repressão do governo do Irã aos protestos populares que tomaram as ruas do país desde setembro. O que separa o caso dele dos demais é o fato de que a morte supostamente ocorreu pelo simples fato de o homem ter acionado a buzina do carro em apoio aos manifestantes. As informações são da rede Radio Free Europe (RFE).

O grupo de direitos humanos Hengaw, sediado na Noruega e focado nos assuntos do Curdistão, publicou um vídeo que mostra o momento em que Yahya é morto. As imagens, abaixo, podem ser perturbadoras para pessoas mais sensíveis.

Os ativistas alegam que o homem guiava o próprio veículo e acionou a buzina em meio aos protestos. Primeiro, agentes de segurança à paisana atacaram o veículo com paus, quebrando os vidros. Depois, o barulho de um disparo de arma de fogo pode ser ouvido. A imagem então mostra Yahya morto dentro do carro.

O governo iraniano alega que manifestantes fizeram o disparo fatal, mas a família acusa Teerã. “Agentes da República Islâmica danificaram o carro dele, mas não o deixaram em paz”, disse o pai da vítima, Ahmad Rahimi. “Poucos passos depois, eles o martirizaram”.

Segundo Ahmad, o governo recomendou aos familiares que reconhecessem Yahya como membro da Guarda Revolucionária Islâmica (IRGC, na sigla em inglês). Assim, os manifestantes levariam a culpa, o homem morreria como mártir e os parentes receberiam benefícios estatais. O pai diz ter recusado a oferta.

Criança no cenário de destruição em meio aos protestos no Irã (Foto: reprodução/Twitter)
Por que isso importa?

Os protestos populares tomaram as ruas do Irã após a morte de Mahsa Amini, uma jovem de 22 anos que visitava Teerã, capital do país, quando foi abordada pela “polícia da moralidade” por não usar “corretamente” o hijab, o véu obrigatório para as mulheres. Sob custódia, ela desmaiou, entrou em coma e morreu três dias depois.

Os protestos começaram no Curdistão, província onde vivia Mahsa, e depois se espalharam por todo o país, com gritos de “morte ao ditador” e pedidos pelo fim da república islâmica. As forças de segurança iranianas passaram a reprimir as manifestações de forma violenta, com relatos de dezenas de mortes.

No início de outubro, a ONG Human Rights Watch (HRW) publicou um relatório que classifica o regime iraniano como “corrupto e autocrático”, denunciando uma série de abusos cometidos pelas forças de segurança na repressão aos protestos populares.

De acordo com a ONG, em ao menos 13 cidades do Irã foram registrados casos de uso de força excessiva ou letal. O relatório cita vídeos divulgados na internet que mostram agentes estatais usando rifles, espingardas e revólveres indiscriminadamente contra a multidão, “matando e ferindo centenas”.

Além dos mortos e feridos, a ONG destaca os casos de “centenas de ativistas, jornalistas e defensores de direitos humanos” que, mesmo de fora dos protestos, acabaram presos pelas autoridades. E cita também o corte dos serviços de internet, com plataformas de mídia social bloqueadas em todo o país desde o dia 21 de setembro, por ordem do Conselho de Segurança Nacional do Irã.

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