Hong Kong volta a assediar parentes de exilados perseguidos pelo governo chinês

Detidos são familiares de cidadãos que vivem no exterior e são acusados de defender a democracia e a independência do território

As forças de segurança de Hong Kong detiveram temporariamente, na quinta-feira (20), mais familiares de exilados perseguidos pelo governo chinês. As vítimas são parentes de dois cidadãos que vivem no exterior e foram alvo de mandados de prisão com oferta de recompensa, acusados de defender a democracia e a independência do território em relação à China. As informações são da rede Radio Free Asia (RFA).

Um alvo das autoridades foi o irmão do sindicalista Mung Siu-tat, levado para depor junto da esposa e do filho. Suspeito de manter contato com o dissidente, ele é acusado de “ajudar fugitivos a continuarem se envolvendo em atos que colocam em risco a segurança nacional”, de acordo com um porta-voz da polícia local.

Também foram temporariamente detidos pelas autoridades, sob as mesmas acusações, os pais, o irmão e a cunhada de Dennis Kwok, um ex-parlamentar da oposição que atualmente reside nos Estados Unidos.

Agentes da polícia de Hong Kong em ação, julho de 2023 (Foto: facebook.com/HongKongPoliceForce)

Há dez dias, a polícia de Hong Kong agiu da mesma maneira contra os pais e o irmão de Nathan Law, um ativista local exilado que vive na Austrália. Conforme relatos da mídia local, eles foram retirados de suas residências para interrogatório no dia 11 de julho e liberados horas mais tarde. Na quinta, mais uma vez, ninguém ficou preso após prestar depoimento.

O fato ocorre na esteira da emissão de mandados com oferta de recompensa por informações que levem à prisão de oito dissidentes, com prêmio que chega a um milhão de dólares de Hong Kong (R$ 623 mil). Os alvos dos mandados vivem atualmente em países ocidentais como EUA, Reino Unido e Austrália.

Além de Law, Mung e Kwok, são procurados outros cinco ativistas que deixaram Hong Kong fugindo da perseguição das autoridades locais. São eles Finn Lau, que vive do Reino Unido, Ted Hui e Kevin Yam, atualmente na Austrália, Anna Kwok e Elmer Yuen, exilados nos EUA.

Embora não tenha prendido ninguém, a polícia do território semiautônomo informou que a perseguição aos parentes dos dissidentes não terminou. “Esta operação ainda está em andamento, e outras ações policiais, incluindo prisões, não podem ser descartadas”, disse o porta-voz.

Por que isso importa?

Após ser transferido do domínio britânico para o chinês, em 1997, Hong Kong passou a operar sob um sistema mais autônomo e diferente do restante da China. Entretanto, apesar da promessa inicial de que as liberdades individuais seriam respeitadas, a submissão a Beijing sempre foi muito forte, o que levou a protestos em massa por independência e democracia em 2019.

A resposta de Beijing aos protestos veio com autoritarismo, representado pela lei de segurança nacional, que deu ao governo de Hong Kong poder de silenciar a oposição e encarcerar os críticos. A normativa legal classifica e criminaliza qualquer tentativa de “intervir” nos assuntos locais como “subversão, secessão, terrorismo e conluio”. Infrações graves podem levar à prisão perpétua.

No final de julho de 2021, um ano após a implementação da lei, foi anunciado o primeiro veredito de uma ação judicial baseada na nova normativa. Tong Ying-kit, um garçom de 24 anos, foi condenado a nove anos de prisão sob as acusações de praticar terrorismo e incitar a secessão.

O incidente que levou à condenação ocorreu em 1º de julho de 2020, o primeiro dia em que a lei vigorou. Tong dirigia uma motocicleta com uma bandeira preta na qual se lia “Liberte Hong Kong. Revolução dos Nossos Tempos”, slogan usado pelos ativistas antigoverno nas manifestações de 2019.

Os críticos ao governo local alegam que os direitos de expressão e de associação têm diminuído cada vez mais, com o aumento da repressão aos dissidentes graças à lei. Já as autoridades de Hong Kong reforçam a ideia de que a normativa legal é necessária para preservar a estabilidade do território

O Reino Unido, por sua vez, diz que ela viola o acordo estabelecido quando da entrega do território à China. Isso porque havia uma promessa de que as liberdade individuais, entre elas eleições democráticas, seriam preservadas por ao menos 50 anos. Metade do tempo se passou, e Beijing não cumpriu sua parte no acordo. Muito pelo contrário.

Nos últimos anos, os pedidos por democracia foram silenciados, a liberdade de expressão acabou e a perspectiva é de que isso se mantenha por um “longo prazo”. Nas palavras do presidente Xi Jinping, “qualquer interferência deve ser eliminada”.

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