Navio da Guarda Costeira dos EUA não recebe autorização para atracar nas Ilhas Salomão

Episódio ocorre em meio à disputa por influência entre a China e o Ocidente na pequena nação insular do Pacífico

Uma embarcação da Guarda Costeira dos EUA não conseguiu atracar nas Ilhas Salomão porque o governo local não respondeu a um pedido de reabastecimento de combustível e provisões. As informações são da agência Reuters.

O USCGC Oliver Henry realizava uma operação de combate à pesca ilegal quando fez o pedido para atracar em Honiara, algo que teria sido acertado previamente. Diante da falta de resposta, rumou para Papua Nova Guiné, onde foi autorizado a parar.

“O governo das Ilhas Salomão não respondeu ao pedido do governo dos EUA de autorização diplomática para o navio reabastecer em Honiara”, disse Kristin Kam, oficial de relações públicas da Guarda Costeira dos EUA no Havaí. “O Departamento de Estado dos EUA está em contato com o governo das Ilhas Salomão e espera que todas as autorizações futuras sejam fornecidas aos navios dos EUA”.

Informações sugerem que o mesmo teria ocorrido com uma embarcação britânica de patrulha, o HMS Spey, que igualmente participava da operação. O governo do Reino Unido, porém, se recusou a comentar o assunto. “Por razões de segurança operacional, não discutimos detalhes”, disse um porta-voz da marinha britânica.

A operação de combate à pesca ilegal é coordenada pela agência pesqueira do Fórum das Ilhas do Pacífico, um bloco de 17 nações da região. Austrália, EUA Nova Zelândia e França habitualmente colaboram, enviando embarcações para patrulhar as zonas de exclusão econômica (ZEEs) de Fiji, Papua Nova Guiné, Ilhas Salomão e Vanuatu.

Embarcação USCGC Oliver Henry da Guarda Costeira dos EUA (Foto: npfc.int/reprodução)
Disputa por influência

O episódio ocorre em meio à disputa por influência entre a China e o Ocidente na pequena nação insular. No final de março, vazou uma carta de intenções indicando que Beijing planejava estabelecer uma base militar nas Ilhas Salomão, o que fez soar o alarme na vizinha Austrália e em seus aliados no Indo-Pacífico.

No documento, uma empresa chinesa de engenharia “demonstra intenção de estudar a oportunidade de desenvolver projetos navais e de infraestrutura em terrenos arrendados para a Marinha do Exército de Libertação Popular, para a Província de Isobel, com direitos exclusivos por 75 anos”.

Na mesma época em que a carta veio a público, o premiê das Ilhas Salomão, Manasseh Sogavare, confirmou que estava prestes a assinar um acordo de segurança com a China. Na ocasião, ele definiu como “insultantes” as preocupações australianas e neozelandesas de que o pacto poderia causar instabilidade na segurança da região.

Pouco depois do anúncio, o porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da China, Wang Wenbin, afirmou que o acordo já havia sido assinado, de acordo com o jornal britânico Guardian. Ele não especificou quando e onde ocorreu a assinatura, que também foi confirmada pela embaixada chinesa em Honiara.

Por que isso importa?

As Ilhas Salomão vivem um período de intensa agitação social, que especialistas associam a questões étnicas e históricas, à corrupção estatal e ao movimento do governo para estreitar laços com a China. Há três anos, o governo local trocou a aliança diplomática com Taiwan por uma com Beijing.

Para James Batley, um ex-alto comissário australiano para as Ilhas Salomão e especialista em assuntos sobre Ásia-Pacífico da Universidade Nacional Australiana, o desagrado da população em relação à aproximação com a China serviu como gatilho para a desordem popular que explodiu em novembro de 2021.

“Não é política externa em si, mas acho que essa mudança diplomática alimentou as queixas pré-existentes e, em particular, a sensação de que os chineses interferiram na política nas Ilhas Salomão, que o dinheiro chinês de alguma forma fomentou a corrupção, distorceu a forma como a política funciona nas Ilhas Salomão”, disse Batley.

A relação comercial com a China é considerada particularmente predatória pela população local. Mais da metade de todos os frutos do mar, madeira e minerais extraídos do Pacífico em 2019 foi para a China. A estimativa é de que esse processo tenha movimentado US$ 3,3 bilhões, apontou uma análise de dados comerciais do jornal britânico The Guardian.

Para alimentar e gerenciar a população de quase 1,4 bilhão de habitantes, a China tirou do Pacífico mais recursos do que os dez países da região juntos. Nas Ilhas Salomão e em Papua Nova Guiné, por exemplo, mais de 90% do total de madeira exportada foi para os chineses.

Os dados não levam em consideração as exportações ilícitas. Nas Ilhas Salomão, pelo menos 70% das toras são exportadas de madeira ilegal. A falta de leis na China contra esse tipo de importação absorvem o envio devido à alta demanda e proximidade com a região.

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