Índia prepara construção de nova base militar perto de área sob influência da China

Instalações seriam erguidas em um arquipélago próximo às ilhas Maldivas, que têm ampliado sua aliança com Beijing

O governo da Índia anunciou no sábado (2) que pretende construir uma nova base militar na ilha de Minicoy, parte do arquipélago de Lakshadweep. Trata-se de uma posição estratégica devido à proximidade com as ilhas Maldivas, cuja aliança com a China vem se fortalecendo e incomoda Nova Délhi. As informações são da agência Associated Press (AP).

O anúncio surge em meio a uma crise diplomática entre a Índia e o pequeno país insular. O auge dos problemas foi atingido no final de janeiro, quando as Maldivas autorizaram um navio chinês a ancorar em seu porto e enfureceram o governo indiano, segundo o qual tal movimentação chinesa tem fins militares.

O arquipélago de Lakshadweep, onde será erguida a nova base naval indiana, fica a 130 quilômetros das Maldivas, e a nova posição militar indiana por lá tende a irritar a China, que ainda não se manifestou.

Fragata INS Satpura (F 48) da Marinha indiana, à esquerda (Foto: U.S. Indo-Pacific Command/Flickr)

“A base aumentará o alcance operacional e facilitará o esforço operacional da Marinha indiana em operações antipirataria e antinarcóticos no Mar da Arábia Ocidental. Também aumentará a capacidade da Marinha indiana como primeira resposta na região e aumentará a conectividade com o continente”, disse Nova Délhi em comunicado.

Embora o plano surja num momento de tensões elevadas na região, a Marinha da Índia argumenta que a base faz parte de um projeto amplo e mais antigo para “aumentar gradativamente a infraestrutura de segurança nas ilhas estrategicamente importantes.”

Índia x Maldivas

Nova Délhi também vislumbra um potencial turístico inexplorado nas praias de areia branca de Lakshadweep, o que geraria concorrência comercial com as ilhas Maldivas. O primeiro-ministro indiano, Narendra Modi, chegou a compartilhar nas redes sociais imagens suas caminhando e mergulhando ali, o que irritou o governo da nação insular.

A decisão de Modi de promover o turismo interno em detrimento das famosas praias e resorts das ilhas levou três ministros maldivos adjuntos a expressarem sua desaprovação nas redes sociais, o que desencadeou um movimento na Índia para boicotar o destino turístico.

A tensão atingiu um novo patamar quando o presidente das Maldivas, Mohamed Muizzu realizou uma visita à China, rival regional da Índia. Ao retornar, o líder anunciou planos audaciosos para libertar sua nação da dependência indiana em termos de instalações de saúde, medicamentos e importação de produtos essenciais.

Em uma mensagem indireta à Índia, Muizzu ainda ressaltou que o tamanho reduzido de seu país não concede a qualquer nação o direito de intimidá-lo, enfatizando o respeito firme da China pela integridade territorial das Maldivas.

Índia e China competem pela influência nas Maldivas. Enquanto Nova Délhi é uma parceira histórica, Beijing busca novos aliados para a Nova Rota da Seda (em inglês Belt and Road Initiative, ou BRI), iniciativa de infraestrutura voltada a espalhar a influência chinesa por todo o mundo liderada pelo presidente Xi Jinping.

Em um sinal claro de que não mudará seu posicionamento, Muizzu chegou a determinar que a Índia retire das Maldivas um pequeno afetivo militar ali mantido. Os soldados estão estacionados no país insular sob o argumento de que operam dois helicópteros e uma aeronave doados por Nova Délhi. Durante sua campanha eleitoral, o presidente, eleito em novembro, prometeu retirar essas tropas de lá.

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