O governo da Índia anunciou no sábado (2) que pretende construir uma nova base militar na ilha de Minicoy, parte do arquipélago de Lakshadweep. Trata-se de uma posição estratégica devido à proximidade com as ilhas Maldivas, cuja aliança com a China vem se fortalecendo e incomoda Nova Délhi. As informações são da agência Associated Press (AP).
O anúncio surge em meio a uma crise diplomática entre a Índia e o pequeno país insular. O auge dos problemas foi atingido no final de janeiro, quando as Maldivas autorizaram um navio chinês a ancorar em seu porto e enfureceram o governo indiano, segundo o qual tal movimentação chinesa tem fins militares.
O arquipélago de Lakshadweep, onde será erguida a nova base naval indiana, fica a 130 quilômetros das Maldivas, e a nova posição militar indiana por lá tende a irritar a China, que ainda não se manifestou.
“A base aumentará o alcance operacional e facilitará o esforço operacional da Marinha indiana em operações antipirataria e antinarcóticos no Mar da Arábia Ocidental. Também aumentará a capacidade da Marinha indiana como primeira resposta na região e aumentará a conectividade com o continente”, disse Nova Délhi em comunicado.
Embora o plano surja num momento de tensões elevadas na região, a Marinha da Índia argumenta que a base faz parte de um projeto amplo e mais antigo para “aumentar gradativamente a infraestrutura de segurança nas ilhas estrategicamente importantes.”
Índia x Maldivas
Nova Délhi também vislumbra um potencial turístico inexplorado nas praias de areia branca de Lakshadweep, o que geraria concorrência comercial com as ilhas Maldivas. O primeiro-ministro indiano, Narendra Modi, chegou a compartilhar nas redes sociais imagens suas caminhando e mergulhando ali, o que irritou o governo da nação insular.
A decisão de Modi de promover o turismo interno em detrimento das famosas praias e resorts das ilhas levou três ministros maldivos adjuntos a expressarem sua desaprovação nas redes sociais, o que desencadeou um movimento na Índia para boicotar o destino turístico.
A tensão atingiu um novo patamar quando o presidente das Maldivas, Mohamed Muizzu realizou uma visita à China, rival regional da Índia. Ao retornar, o líder anunciou planos audaciosos para libertar sua nação da dependência indiana em termos de instalações de saúde, medicamentos e importação de produtos essenciais.
Em uma mensagem indireta à Índia, Muizzu ainda ressaltou que o tamanho reduzido de seu país não concede a qualquer nação o direito de intimidá-lo, enfatizando o respeito firme da China pela integridade territorial das Maldivas.
Índia e China competem pela influência nas Maldivas. Enquanto Nova Délhi é uma parceira histórica, Beijing busca novos aliados para a Nova Rota da Seda (em inglês Belt and Road Initiative, ou BRI), iniciativa de infraestrutura voltada a espalhar a influência chinesa por todo o mundo liderada pelo presidente Xi Jinping.
Em um sinal claro de que não mudará seu posicionamento, Muizzu chegou a determinar que a Índia retire das Maldivas um pequeno afetivo militar ali mantido. Os soldados estão estacionados no país insular sob o argumento de que operam dois helicópteros e uma aeronave doados por Nova Délhi. Durante sua campanha eleitoral, o presidente, eleito em novembro, prometeu retirar essas tropas de lá.