Investimento reduzido esconde a influência crescente da China nas nações do Pacífico

Estudo aponta que Beijing escolhe bem os países onde deposita dinheiro e, assim, desempenha papel 'descomunal' em cada um deles

Desde 2008, Beijing investiu US$ 3,9 bilhões em nações insulares do Pacífico, um valor pequeno para os padrões chineses. Apesar disso, a influência do país na região é grande, resultado de uma estratégia que acompanha o interesse cada vez menor dos governos locais em firmar parcerias com a China. É o que aponta um estudo do think tank australiano Instituto Lowy, cujas conclusões foram reproduzidas pela agência Associated Press (AP).

Segundo o relatório fruto do estudo, o investimento reduzido da China “reflete uma mudança estratégica para reduzir o risco, cimentar os laços políticos e aumentar os retornos de capital.”

Os valores escondem uma estratégia que vem funcionando bem. “Como a China apenas fornece ODF (financiamento oficial para o desenvolvimento) a um subconjunto de países do Pacífico, pode desempenhar um papel descomunal nestes países, o que desmente a sua participação moderada no financiamento regional total.”

É o caso das Ilhas Salomão, com quem Beijing firmou no ano passado um acordo de segurança com a perspectiva de que uma base militar chinesa seja instalada ali. A influência chinesa na pequena nação insular é crescente, a ponto de Honiara ter suspendido temporariamente, em agosto de 2022, todas as visitas de embarcações norte-americanas a seus portos.

Primeiro-ministro de Vanuatu, Bob Loughman (3º à direita) e membros de gabinete se reúnem com o ministro das Relações Exteriores chinês Wang Yi (4º à esquerda) (Foto: reprodução/Xinhua)
Presença militar

No final de 2022, Hayley Channer, ex-funcionária do governo australiano, afirmou em artigo para a revista Foreign Policy que “a China aumentará muito seu alcance militar e alcance para intimidar aliados dos EUA, como Austrália e Nova Zelândia“, se for bem-sucedida em seu projeto de expansão militar na região do Pacífico.

Timothy Heath, pesquisador sênior de defesa internacional do think tank norte-americano RAND Corporation, reforçou o alerta em entrevista à rede CNN. “As ilhas ficam em uma passagem importante para navios e navios mercantes dos EUA e da Austrália”, disse ele. “Se a China pudesse estabelecer direitos de bases [militares], poderia enviar navios de guerra e aeronaves temporariamente para as ilhas. [Seus] navios e aviões poderiam ameaçar navios e aeronaves americanos e australianos que passassem”.

Para conter o avanço chinês, Channer pregou que é o momento de “Austrália e seus aliados liderarem, e não perseguirem, infraestrutura e investimentos no Pacífico. Caso contrário, eles estão presos em um jogo que não podem mais jogar.”

E Camberra faz bem seu papel como parceira dos vizinhos, tendo fornecido 40% da ajuda financeira aos países insulares do Pacífico desde 2008, segundo o relatório do Instituto Lowy. A China, por sua vez, é apenas a terceira na lista, com apenas 9%, logo abaixo do Banco Asiático do Desenvolvimento.

Em 2021, ano em que os valores foram levantados pela última vez, Beijing forneceu apenas US$ 241 milhões aos parceiros regionais. A queda é brutal se comparada a dados de duas décadas atrás, quando a China detinha cerca de um terço dos investimentos.

Ao menos em parte, os valores reduzidos atuais podem ser explicados pela ação eficiente de contenção dos aliados ocidentais, sobretudo os Estados Unidos, que têm alertado para a armadilha da dívida que por vezes acompanha o investimento chinês.

“O que está muito claro é que o interesse dos governos do Pacífico em empréstimos chineses, especificamente empréstimos para infraestrutura, diminuiu. Está sendo superado”, afirmou Riley Duke, investigador do Instituto Lowy. 

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