Líder uigur morre em prisão na região de Xinjiang, na China

Morte de Shirzat Bawudun ocorreu em meio a uma campanha de encarceramento em massa que, desde 2017, deteve até 1,8 milhão de uigures e outras minorias muçulmanas

Um ex-alto funcionário uigur da região de Xinjiang, no oeste da China, morreu na prisão quatro anos após ter sido condenado à morte por acusações de “separatismo” e “terrorismo”, de acordo com um agente penitenciário e uma fonte familiarizada com o caso. As informações são da rede Radio Free Asia.

Shirzat Bawudun era ex-vice-secretário do Comitê de Assuntos Políticos e Jurídicos do Partido Comunista Chinês (PCC) na Região Autônoma Uigur de Xinjiang. Ele foi detido em novembro de 2018 sob suspeita de ser considerado “suspeito” e foi formalmente preso no mês seguinte, após as autoridades concluírem que ele havia cometido um crime.

Bawudun, ex-alto funcionário uigur em Xinjiang, foi condenado à morte com pena suspensa em 2021, junto com Sattar Sawut, outro líder da etnia. Críticos afirmam que as sentenças mostram que até uigures leais ao PCC foram alvos da repressão. Não se sabe quando Bawudun faleceu, mas uma fonte disse que, no final de julho, sua família foi informada de sua morte na prisão após solicitar uma videoconferência.

Panorama de Urumqi, capital de Xinjiang, com as montanhas de Yamalik ao fundo (Foto: Wikimedia Commons)

A família Bawudun ficou surpresa e descreveu a morte de Shirzat como “misteriosa”, já que em sua última videoconferência, em março, ele aparentava estar saudável. Um funcionário da prisão Turpan Dahiyan confirmou que os funcionários foram informados da morte, mas a causa não foi revelada.

As autoridades não revelaram aos familiares de Shirzat Bawudun detalhes sobre sua morte, apenas informaram que ele “faleceu na prisão” e pediram que não solicitassem mais visitas.

Bawudun foi preso durante uma campanha de encarceramento em massa que, desde 2017, atingiu até 1,8 milhão de uigures e minorias muçulmanas. Ele e Sawut foram os primeiros altos funcionários a receber sentenças de morte.

Bawudun, que foi diretor do Tribunal Superior da região e membro da Conferência Consultiva Política da Região Autônoma Uigur de Xinjiang, foi acusado em 2021 de “planejar a divisão do país”, “participar do Movimento Islâmico do Turquestão Oriental” e “fornecer informações ilegais a pessoas fora da China”.

A província autônoma de Xinjiang, antes da conquista chinesa, era conhecida como Turquestão Oriental e chegou a abrigar um reino.

Por que isso importa?

A província de Xinjiang faz fronteira com países da Ásia Central, com quem divide raízes linguísticas e étnicas. Ali vive a comunidade uigur, uma minoria muçulmana de raízes turcas que sofre perseguição do governo chinês, com acusações de abusos diversos.

Os uigures, cerca de 11 milhões, enfrentam discriminação da sociedade e do governo chinês e são vistos com desconfiança pela maioria han, que responde por 92% dos chineses. Denúncias dão conta de que Beijing usa de tortura, esterilização forçada, trabalho obrigatório e maus tratos para realizar uma limpeza étnica e religiosa em Xinjiang.

Em agosto de 2022, a ONU divulgou um aguardado relatório que fala em “graves violações dos direitos humanos” cometidas em Xinjiang. O documento destaca “padrões de tortura ou maus-tratos, incluindo tratamento médico forçado e condições adversas de detenção”, bem como “alegações de incidentes individuais de violência sexual e de gênero”.

O relatório, porém, não citou a palavra “genocídio” usada por alguns países ocidentais. O governo do presidente Joe Biden, dos EUA, foi o primeiro a usar o termo para descrever as ações da China em relação aos uigures. Em seguida, Reino Unido e Canadá também passaram a usar a designação, e a Lituânia se juntou ao grupo mais recentemente.

A China nega as acusações de que comete abusos em Xinjiang e diz que as ações do governo na região têm como finalidade a educação contraterrorismo, a fim de conter movimentos separatistas e combater grupos extremistas religiosos que eventualmente venham a planejar ataques terroristas no país. Beijing costuma classificar as denúncias como “a mentira do século”.

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