Militares atacam cidadãos que usam flores para homenagear líder democrática de Mianmar

Na visão da junta, a “campanha de demonstração de flores” no aniversário de Aung San Suu Kyi é um sinal de rebelião

Cidadãos de Mianmar denunciaram mais um ação violenta da junta militar do país. Na segunda-feira (19), cerca de 130 pessoas foram presas, muitas delas agredidas, porque carregavam flores para homenagear a líder democrática presa Aung San Suu Kyi no dia do aniversário dela. As informações são da Rede Radio Free Asia (RFA).

Ativistas organizaram a manifestação para celebrar de forma discreta os 78 anos de Suu Kyi, que tem o hábito de usar flores nos cabelos. Para os militares, porém, a “campanha de demonstração de flores” é um sinal de rebelião, o que os levou a prender e agredir manifestantes. A rosa foi a flor mais visada na campanha repressiva, devido à associação com a líder democrática.

Segundo um birmanês que presenciou a ação das autoridades, mesmo pessoas que depositaram flores em templos budistas foram alvo da fúria dos militares. As redes sociais também foram monitoradas, e quem usou flores em suas postagens recebeu uma visita das forças de segurança.

Suu Kyi era conselheira de Estado durante o governo do partido NLD (Liga Nacional pela Democracia, da sigla em inglês), embora atuasse de fato como chefe de Estado. Foi presa após o golpe de 2021 e atualmente cumpre pena de 33 anos de prisão, baseada em uma série de acusações que os aliados classificam como “politicamente motivadas”.

Aung San Suu Kyi em encontro com a cúpula da UE em 2013 (Foto: WikiCommons/Claude Truond-Ngoc)

A perseguição aos cidadãos que usam flores como adereço é apenas mais uma das inúmeras ações violentas do governo militar birmanês. Recentemente, a junta foi acusada de ameaçar e prender pessoas que exibem fotos da líder democrática em suas casas.

A prisão de civis por possuírem fotos de Suu Kyi não é um fenômeno novo. Situação semelhante ocorreu em ditaduras militares anteriores, mas as fotos dela voltaram a aparecer nas casas dos birmaneses após o recente golpe. Tal prática reflete a persistente luta por liberdade e democracia que ocorre no país.

Por que isso importa?

Mianmar enfrenta “uma campanha de terror com força brutal”, segundo palavras da ONU (Organização das Nações Unidas). A repressão imposta pelo governo militar foi uma reação às eleições presidenciais de novembro de 2020.

Na ocasião, o NLD venceu as eleições com 82% dos votos, ainda mais do que havia obtido no pleito de 2015. Em fevereiro de 2021, então, a junta militar, que já havia impedido a sigla de assumir o poder antes, prendeu a líder democrática Aung San Suu Kyi, dando início a protestos respondidos com violência pelas forças de segurança nacionais.

As ações abusivas da junta levaram ao isolamento global de Mianmar, e em dezembro de 2022 o Conselho de Segurança da ONU aprovou uma resolução histórica que insta os militares a libertar Suu Kyi. A Resolução 2669 ainda exige “o fim imediato de todas as formas de violência” e pede que “todas as partes respeitem os direitos humanos, as liberdades fundamentais e o Estado de Direito”.

A proposta, feita pelo Reino Unido, foi aprovada no dia 21 de dezembro de 2022 com 12 votos a favor. Os membros permanentes China e Rússia se abstiveram, optando por não exercer vetos. A Índia também se absteve.

Beijing e Moscou, por sinal, estão entre os poucos governos do mundo que mantêm relações formais com Mianmar. Inicialmente, o golpe foi recebido com reprovação pela China, que vinha dialogando para firmar acordos comerciais com o governo eleito e perdeu bastante com a derrubada. Mas o cenário mudou desde então.

O governo chinês frequentemente se coloca ao lado da junta ao vetar resoluções que condenam a brutalidade dos atos contra opositores e a população civil em geral. A posição ficou evidente mais uma vez em dezembro de 2022, embora a China tenha optado por não vetar a resolução.

A China é um também dos principais fornecedores de armas para a juntar militar, desrespeitando um pedido de embargo global feito pela ONU para enfraquecer o regime birmanês. Entretanto, há indícios de que as forças locais seguem se equipando com novos armamentos chineses, tendo ainda como fornecedores complementares a Rússia e o Paquistão.

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