Moscou negocia com empresa chinesa a compra de drones kamikazes para usar na Ucrânia

Acordo prevê que, no futuro, Moscou receberia componentes e know-how necessários para fabricar seus próprios drones

O governo da Rússia vem negociando com uma empresa chinesa, a Xian Bingo Intelligent Aviation Technology, a compra de drones kamikazes para serem usados pelas forças armadas de Moscou na guerra da Ucrânia. A informação é da revista alemã Der Spiegel.

O acordo que vem sendo debatido entre russos e chineses prevê a produção de cem protótipos de drones modelo ZT-180, sendo que cada um deles pode carregar uma ogiva com até 50 quilos.

Segundo especialistas ouvidos pela publicação alemã, o ZT-180 se assemelha ao iraniano Shahed 136, um dos modelos que teriam sido vendidos por Teerã às forças armadas russas. Inclusive, Rússia e Irã teriam firmado um acordo para que Moscou passe a produzir, com base em projetos iranianos, seus próprios drones de ataque.

O contrato que agora vem sendo debatido com a China é semelhante. Futuramente, a Xian Bingo cederia os componentes e o know-how necessários para que os russos fabricassem seus próprios ZT-180, a um ritmo de cerca de cem drones produzidos por mês.

O antigo modelo 129 do drone iraniano Shahed (Foto: WikiCommons)

Os drones kamikazes vêm sendo usados por Moscou para atacar não apenas as tropas de Kiev, mas também a infraestrutura essencial ucraniana. O resultado é um país sem energia elétrica, água potável nas torneiras e gás para manter seus cidadãos aquecidos durante o inverno que se aproxima.

Até este momento, não há evidências de a China tenha cedido armas à Rússia, Porém, no começo deste mês, reportagem do Wall Street Journal (WSJ) disse que Beijing tem enviado itens não letais proibidos a empresas de defesa do Kremlin embargadas. Na lista estariam equipamentos de navegação, tecnologia de interferência e peças de caças.

Diante desse cenário, o secretário de Estado norte-americano, Antony Blinken, fez um alerta a Wang Yi, principal diplomata chinês. Os dois se encontraram durante uma conferência de segurança em Munique, e o representante dos EUA afirmou que o fornecimento de armas à Rússia por parte do governo chinês “teria sérias consequências” no já comprometido relacionamento entre Washington e Beijing.

“O que vemos nos últimos anos é, claro, algum apoio político e retórico, até mesmo algum apoio não letal. Mas estamos muito preocupados com o fato de a China estar considerando fornecer apoio letal à Rússia em sua agressão contra a Ucrânia”, disse Blinken à rede NBC, em entrevista cujo conteúdo foi reproduzido pelo Departamento de Estado.

Wang Wenbin, ministro das Relações Exteriores da China, disse que o governo desconhece o acordo entre a empresa de seu país e o Kremlin, segundo a agência Reuters. Segundo ele, existe “muita desinformação espalhada sobre a China” a respeito da relação entre os dois países.

“Também quero enfatizar que a China na exportação de produtos militares sempre manteve uma atitude cautelosa e responsável, não vendendo produtos militares para áreas de conflito ou partes em conflito”, declarou Wang.

Anteriormente, por ocasião da denúncia feita pelo WSJ, Liu Pengyu, porta-voz da embaixada chinesa nos EUA, havia dito que a acusação de que Beijing fornece ajuda militar às forças armadas da Rússia “não tem base factual” e é “puramente especulativa e deliberadamente exagerada”. 

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