Os governos do Irã e da Rússia firmaram um acordo para que Moscou passe a produzir, com base em projetos iranianos, seus próprios drones de ataque, uma arma que tem sido bastante usada na guerra na Ucrânia. A informação foi revelada pela Inteligência de um país não identificado que monitora o programa de armas de Teerã, segundo o jornal The Washington Post.
Autoridades norte-americanas alegam que, nas últimas semanas, a forças armadas russas receberam centenas de UAVs (veículos aéreos não tripulados, da sigla em inglês) do aliado. Moscou teria usado cerca de 400 deles contra as tropas de Kiev e também contra a infraestrutura essencial ucraniana, sendo que a destruição causada pelo armamento privou a população local de energia elétrica, água e gás.
Inclusive, no início de novembro, a rede britânica Sky News publicou uma reportagem dizendo que aviões militares russos teriam levado a Teerã 140 milhões de euros em dinheiro e armamento ocidental apreendido na Ucrânia. A carga teria sido entregue ao governo iraniano em uma troca por drones.
Com o novo acordo, a Rússia passaria a produzir seus próprios drones, em vez de importá-los. Para isso, o Irã enviou projetos e componentes a Moscou, com a expectativa de que a produção comece em alguns meses e de que eles sejam usados já em 2023 contra as tropas ucranianas, no caso de a guerra continuar.
Segundo uma das fontes, o projeto russo “está avançando rapidamente da tomada de decisão para a implementação”.
O acerto supre as deficiências da Rússia para armar suas tropas, que têm se mostrado mal equipadas e despreparadas para enfrentar a Ucrânia. Pesam contra Moscou sobretudo as sanções ocidentais, que limitaram não apenas o acesso a itens de uso militar direto, mas também a artigos eletrônicos cruciais para a fabricação de armamento de última geração, como mísseis de cruzeiro de alta precisão.
Mesmo a China, aliada da Rússia e à primeira vista uma opção segura para fornecer artigos de uso militar, tem se recusado a negociar. Isso porque os EUA já deixaram claro que as empresas chinesas seriam punidas caso rompessem as sanções focadas na cadeia de suprimentos militares.
Por que isso importa?
Nos últimos meses, têm se acumulado evidências de que “drones suicidas” iranianos vêm sendo usados por Moscou para atacar não apenas as tropas de Kiev, mas também a infraestrutura essencial ucraniana. O resultado é um país sem energia elétrica, água potável nas torneiras e gás para manter seus cidadãos aquecidos durante o inverno que se aproxima.
Hossein Amirabdollahian, ministro das Relações Exteriores iraniano, comentou recentemente a denúncia de que seu país fornece inclusive mísseis balísticos a Moscou. “Os comentários sobre a parte dos mísseis estão completamente errados, e a parte dos drones está correta. Demos um número limitado de drones à Rússia meses antes da guerra na Ucrânia”, disse ele, segundo a agência Al Jazeera.
No fim de outubro, o governo dos EUA disse ter evidências de que o Irã enviou também especialistas para orientar as tropas russas sobre o funcionamento dos drones. John Kirby, porta-voz do Conselho de Segurança Nacional, declarou que um “número relativamente pequeno” de instrutores da Guarda Revolucionária Islâmica (IRGC, na sigla em inglês) está na Ucrânia.
Amirabdollahian não comentou a última denúncia, mas deu a entender que seu governo se opõe ao uso dos drones no conflito atual. “Enfatizamos às autoridades ucranianas que, se houver evidências sobre o uso de drones iranianos na guerra da Ucrânia pela Rússia, eles devem nos apresentar”, afirmou. “Se nos for provado que a Rússia usou drones iranianos na guerra da Ucrânia, não ficaremos indiferentes”.