O desenvolvimento de embarcações especializadas pela China, consideradas adequadas para operações anfíbias, desperta preocupação sobre a possibilidade de um ataque a Taiwan. A informação, revelada pela revista Newsweek, vem acompanhada de análises que comparam a situação às preparações do Dia D na Segunda Guerra Mundial, quando tropas aliadas desembarcaram na Normandia.
Nos últimos anos, Beijing intensificou a pressão sobre a ilha, com incursões aéreas quase diárias e exercícios militares simulando bloqueios. Apesar de Taiwan ser governada democraticamente, a China a considera parte de seu território e já afirmou que usará força militar, se necessário, para incorporá-la.
Entre as novas construções chinesas, ao menos três barcaças foram identificadas em um estaleiro na província de Guangdong. As embarcações, segundo fontes citadas pelo site Naval News, possuem pontes móveis de 120 metros que podem facilitar o transporte de veículos pesados diretamente para as estradas costeiras, contornando defesas naturais.

Embora a quantidade atual de barcaças — cinco ou seis, de acordo com analistas — seja insuficiente para uma invasão em larga escala, especialistas apontam que elas oferecem maior flexibilidade tática ao Exército de Libertação Popular. “Essas barcaças podem ter usos não militares, mas sua capacidade de implantação sobre praias pode neutralizar estratégias defensivas de Taiwan”, avaliou Raymond Kuo, do think tank RAND Corp.
A topografia de Taiwan representa um desafio considerável para uma invasão. Segundo Ian Easton, professor do U.S. Naval War College, o estreito de Taiwan possui condições climáticas favoráveis por apenas dois meses ao ano, e as praias utilizáveis são limitadas.
Para o ex-almirante James Stavridis, que se manifestou na rede X, antigo Twitter, as movimentações lembram as estratégias do Dia D. Já o ex-oficial de inteligência John Culver apontou que os avanços chineses podem indicar novos desenvolvimentos militares nos próximos dois anos.
Mesmo com esses avanços, o Pentágono avalia que a China ainda não está pronta para uma invasão bem-sucedida. “Eles estão tentando alcançar esse objetivo, mas não está claro se estão mais perto do que há alguns anos”, disse Ely Ratner, secretário assistente de Defesa para Assuntos de Segurança do Indo-Pacífico.
Enquanto isso, Taiwan continua se preparando. O país tem reforçado seus estoques de armamentos, incluindo sistemas de defesa adquiridos dos Estados Unidos e produzidos localmente. Contudo, enfrenta atrasos na entrega de aproximadamente US$ 20 bilhões em vendas de armas já aprovadas pelo Congresso norte-americano.
Por que isso importa?
Taiwan é uma questão territorial sensível para a China, e a queda de braço entre Beijing e o Ocidente por conta da pretensa autonomia da ilha gera um ambiente tenso, com a ameaça crescente de uma invasão pelas forças armadas chinesas a fim de anexar formalmente o território taiwanês.
Nações estrangeiras que tratem a ilha como nação autônoma estão, no entendimento de Beijing, em desacordo com o princípio “Uma Só China“, que também vê Hong Kong como parte da nação chinesa.
Embora não tenha relações diplomáticas formais com Taiwan, assim como a maioria dos demais países, os EUA são o mais importante financiador internacional e principal parceiro militar de Taipé. Tais circunstâncias levaram as relações entre Beijing e Washington a seu pior momento desde 1979, quando os dois países reataram os laços diplomáticos.
A China, em resposta à aproximação entre o rival e a ilha, endureceu a retórica e tem adotado uma postura belicista na tentativa de controlar a situação. Jatos militares chineses passaram a realizar exercícios militares nas regiões limítrofes com Taiwan e habitualmente invadem o espaço aéreo taiwanês, deixando claro que Beijing não aceitará a independência formal do território “sem uma guerra“.
O ápice da crise aconteceu em outubro de 2024, quando a China realizou um de seus maiores exercícios militares no entorno da ilha. O treinamento mostrou que Beijing tem condições de impor um bloqueio eficaz, impedindo tanto o transporte marítimo quanto a aviação no entorno da ilha.
Trata-se de uma hipótese que vem sendo levantada há tempos por analistas, pois permitira à China sufocar Taiwan sem necessariamente iniciar uma guerra. Se colocada em prática, a medida aceleraria o consumo de materiais essenciais e levaria Taiwan ao colapso, jogando para os aliados ocidentais a decisão de abrir fogo ou não.
Apesar das alternativas apresentadas nas recentes manobras militares, uma invasão militar segue no radar chinês. “Estamos dispostos a lutar pela perspectiva de reunificação pacífica com a máxima sinceridade e empenho”, disse Chen Binhua, porta-voz do Gabinete de Assuntos de Taiwan na China, citado pela agência Reuters. “Mas nunca nos comprometeremos a renunciar ao uso da força”, adicionou.