Número de civis mortos em Mianmar passa de 2 mil desde o golpe militar em 2021

ONGs no sudeste da Ásia estimam um número real ainda maior após 16 meses de conflitos entre exército e forças pró-democracia

No poder desde o golpe de Estado do dia 1º de fevereiro de 2021, a junta militar de Mianmar é responsável pela morte de duas mil pessoas, segundo número estimado por uma ONG tailandesa que monitora de perto a repressão no país do sudeste da Ásia. As informações são da rede Radio Free Asia.

A estatística é fruto do trabalho da Associação de Assistência a Presos Políticos (AAPP). De acordo com a organização, a violenta marca foi alcançada na segunda-feira (20). E já está superada. Atualizando com as mortes registradas nos últimos dias em Sagaing e Magway, regiões pró-democracia que resistem ao regime liderado pelo general Min Aung Hlaing, o número pula para 2.007.

“Este é o número verificado pela AAPP. O número real de mortes provavelmente é muito maior”, disse a associação em nota.

Força de Defesa Nacional Karenni (KNDF), uma das maiores das várias milícias civis no país, resiste ao regime (Foto: Twitter/reprodução)

A violência contra o povo birmanês foi comentada nas missões diplomáticas dos Estados Unidos e da União Europeia (UE). Enquanto Washington cobrou punição aos responsáveis, o bloco econômico, manifestando condolências, publicou uma capa preta em sua página nas redes sociais.

“As atrocidades desumanas cometidas pelos militares contra o povo de Mianmar em todo o país são resultado da falta de responsabilidade entre os responsáveis ​​por parte dos militares. Isso destaca a necessidade urgente de prestação de contas”, disse a Embaixada dos EUA.

Há pouco mais de um mês, o think tank local Instituto de Estratégia e Política (ISP Myanmar, da sigla em inglês) apresentou um relatório ainda mais assustador: entre o golpe de 1º de fevereiro de 2021 até 10 de maio, seriam pelo menos 5.646 mortes de civis.

O levantamento do ISP inclui pessoas que perderam a vida durante protestos ou em confrontos entre militares e insurgentes pró-democracia ou exércitos étnicos, além de birmaneses mortos após serem detidos ou em ataques de vingança. Informantes sobre as ações da junta também não foram poupados.

Ainda de acordo com os dados do Instituto, 1.831 civis foram mortos a tiros, a maioria na região de Sagaing, devastada pela guerra. É nessa região onde as tropas do regime encontram as maiores dificuldades, abrindo fogo contra a resistência da Força de Defesa do Povo (PDF, da sigla em inglês), que estabeleceu grupos armados regionais, com operações de ataque e fuga em pequena escala.

A junta militar está em desacordo com os números estimados pelas ONGs. A imprensa controlada pelo exército disse no mês passado que 2.796 não-combatentes foram mortos entre o golpe e 15 de maio.

“Os militares fizeram prisões e detenções arbitrárias, torturaram e mataram manifestantes pacíficos”, disse um membro de um comitê de protesto de Yangon sob condição de anonimato. 

Por que isso importa?

Mianmar enfrenta “uma campanha de terror com força brutal”, segundo palavras da ONU (Organização das Nações Unidas). A repressão imposta pelo governo já causou a morte de ao menos 1,5 mil desde o golpe de 1º de fevereiro de 2021, que sucedeu as eleições presidenciais de novembro de 2020.

Na ocasião, o NLD venceu as eleições com 82% dos votos, ainda mais do que havia obtido no pleito de 2015. Em fevereiro, então, a junta militar, que já havia impedido o partido de assumir o poder antes, derrubou e prendeu a presidente eleita Aung San Suu Kyi.

O golpe deu início a protestos no país, respondidos com violência pelas forças de segurança nacionais. Cerca de 12 mil pessoas já foram presas, invariavelmente sem indiciamento ou julgamento prévio, e muitas famílias continuam à procura de parentes desaparecidos. Jornalistas e ativistas são atacados deliberadamente, e serviços de internet têm sido interrompidos.

No início de dezembro, tropas da junta militar foram acusadas de assassinar 11 pessoas em uma aldeia no noroeste do país. De acordo com uma testemunha, as vítimas, algumas delas adolescentes, teriam sido amarradas e queimadas na rua. Fotos e um vídeo chocantes que viralizaram nas redes sociais à época mostravam corpos carbonizados deitados em círculo no vilarejo de Done Taw, região de Sagaing.

A ação dos soldados seria uma retaliação a um ataque de rebeldes contra um comboio militar. Uma liderança local da oposição afirmou que os civis foram queimados vivos, evidenciando a brutalidade da repressão à população que tenta resistir ao golpe de Estado orquestrado em fevereiro deste ano.

Em meio à violenta repressão por parte do exército, alguns manifestantes fugiram para o exterior ou se juntaram a grupos armados em partes remotas do país. Conhecidos como Forças de Defesa do Povo, esses grupos estão amplamente alinhados com o governo civil deposto.

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