Números conservadores divulgados pela China escondem o verdadeiro investimento em suas Forças Armadas

analista projeta um gasto real até 35% maior que o oficialmente divulgado, mesmo com o país enfrentando problemas econômicos

Em 2023, o orçamento de defesa oficialmente divulgado pela China foi de 1,67 trilhão de yuans (R$ 1,17 trilhão), com uma projeção de aumento de 7,2% para este ano. Esses números, porém, não são fieis à realidade e escondem a verdadeira magnitude dos gastos militares chineses, que explodiram sob o governo do presidente Xi Jinping como parte de seu projeto para modernizar o Exército de Libertação Popular (ELP). É o que aponta uma análise feita pelo jornal Financial Times (FT).

Nan Tian, ​​que monitora os gastos militares chineses no Instituto Internacional de Investigação para a Paz de Estocolmo (Sipri, na sigla em inglês), diz que os gastos reais de Beijing com suas Forças Armadas tendem a ser entre 30% e 35% maiores que os números revelados oficialmente.

Para se ter ideia, o Sipri estima que a China tenha investido US$ 292 bilhões no ELP em 2022, enquanto os números oficiais do governo falam em um orçamento de 1,45 trilhão de yuans, que equivalem a US$ 230 bilhões. A diferença, de 26,9%, se aproxima da porcentagem sugerida por Nan.

Xi Jinping e as Forças Armadas da China: investimento crescente (Foto: Gov. Hong Kong/divulgação)

Por exemplo, o orçamento oficial projetado pelo Partido Comunista Chinês (PCC) não considera os investimentos em pesquisa e desenvolvimento e as compras de armas produzidas no exterior, de acordo com a agência Reuters.

Na comparação com o primeiro ano de Xi no poder, o salto no investimento militar é gigante. Segundo o Spiri, o gasto com defesa em 2022 foi 63% maior que em 2013, embora o aumento do orçamento venha sendo registrado anualmente, sem interrupção, desde ao menos 1989.

“Xi tem falado sobre a necessidade de acelerar a modernização da defesa e de pressionar por reformas que permitam à economia apoiar uma situação de guerra. Isso requer mais e não menos recursos”, disse ao FT Tai Ming Cheung, diretor do Instituto de Conflito e Cooperação Global da Universidade da Califórnia.

Atualmente, o investimento só não é maior devido aos problemas enfrentados pela economia chinesa, que não cresce no mesmo ritmo de anos anteriores. Em agosto de 2021, ainda durante a pandemia de Covid-19, o ELP advertiu a indústria chinesa sobre a “necessidade urgente de acelerar o desenvolvimento de equipamento militar de alta qualidade, alta eficiência, alta velocidade e baixo custo.”

Como a desaceleração econômica, a guerra da Ucrânia também forçou Beijing a mudar seu planejamento para a indústria de defesa. Segundo um analista chinês que pediu para ter a identidade preservada, a maior lição que o país tem tirado do conflito é que os estoques de munição, por maiores que sejam, parecem insuficientes. “Esta é uma experiência da qual devemos tirar lições”, disse ele.

De acordo com Roderick Lee, diretor de pesquisa do Instituto de Estudos Aeroespaciais da China na Air University, a China aprendeu as lições e se prepara para uma “expansão realmente extensa de sua base industrial.” A projeção para os próximos anos, segundo ele, é a de volumes “muito, muito elevados de mísseis de baixo custo e outros sistemas de baixo custo no futuro.” Se o exemplo da guerra da Ucrânia for válido daqui em diante, isso colocará Beijing em excelentes condições frente a seus adversários.

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