As três ofertas lançadas em uma licitação para construir um cabo óptico submarino entre a Micronésia, Kiribati e Nauru estão invalidadas. O cancelamento seria uma tentativa de barrar a China, segundo apurou o jornal japonês Nikkei, na quinta (18).
O processo licitatório, iniciado ainda no ano passado, visa conectar as ilhas do Pacífico com um cabo óptico via consórcio de transportadoras dos três países. O Banco Mundial e ADB (Banco Asiático de Desenvolvimento) financiaram parte do projeto, estimado em US$ 72,6 milhões.
Ainda em maio, a empresa japonesa NEC, a francesa Alcatel Submarine e a chinesa Huawei Marine apresentaram suas propostas para dar início à construção da plataforma. A empresa chinesa apresentou valores até 20% inferiores que os rivais e logo tornou-se favorita para vencer a concorrência.
O destaque, porém, se transformou em “preocupação” para EUA, Austrália e Japão. Ao alertar que a China poderia “usar a infraestrutura para espionagem” caso a Huawei Marine ganhasse, o consórcio optou por desqualificar as três empresas no final de fevereiro.
“Os licitantes não atendem às condições exigidas”, disse o comunicado conjunto que anunciou uma nova licitação. Junto da SubCom, com sede nos EUA, a NEC e Alcatel dominam o fornecimento global de cabo óptico submarino, com 90% do mercado.
Desdobramentos
Washington, Camberra e Tóquio teriam pedido que os três países insulares e o Banco Mundial revisassem as propostas. Em setembro, legisladores dos EUA alertaram que a China “minaria a segurança” do projeto caso ganhasse a licitação, registrou a Reuters.
A Huawei Marine, antes da Huawei Technologies, foi transferida para o grupo China Hengtong. A fabricante chinesa é alvo de sanções dos EUA, em meio à intensa disputa comercial e tecnológica entre Washington e Beijing.
Além dos norte-americanos, o Reino Unido e a Austrália já proibiram a entrada da fabricante chinesa na instalação doméstica das redes 5G.
Os EUA são os principais responsáveis pela defesa da Micronésia. Kiribati, por sua vez, rompeu relações diplomáticas com Taiwan em setembro de 2019, voltando-se aos chineses. Já Nauru reconhece Taipé e sua política de território independente, alvo constante do governo chinês.
Nauru e Kiribati integram o pequeno grupo de países que ainda não estão conectados por cabos ópticos. Uma possibilidade, agora, é que os países abram um novo processo de licitação, mas pode haver uma condição de não-participação das empresas chinesas.
Em resposta ao Nikkei, a Huawei Marine lamentou a decisão. “Fomos oficialmente notificados deste lamentável cancelamento”, afirmou a corporação em nota. Um porta-voz do ADB afirmou que a organização trabalha com os governos e com o Banco Mundial para determinar os próximos passos do projeto.