Otan afirma que ‘políticas coercitivas’ da China ‘desafiam interesses’ ocidentais

Aliança Atlântica baseou sua declaração na guerra da Rússia na Ucrânia e na crescente agressão de Beijing no Pacífico

Durante cúpula realizada em Madrid nesta semana, a Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte) afirmou que o poder crescente da China tornou-se um desafio para a aliança e que o alinhamento entre Beijing e Moscou está em desacordo com os interesses ocidentais. Foi a primeira declaração nesse tom que a Otan direcionou aos chineses. As informações são da rede Al Arabiya.

“As ambições declaradas e as políticas coercitivas da República Popular da China desafiam nossos interesses, segurança e valores. Ela se esforça para subverter a ordem internacional baseada em regras, inclusive nos domínios espacial, cibernético e marítimo”, disse a aliança, acusando Beijing de atacar autoridades em “operações híbridas e cibernéticas maliciosas e sua retórica de confronto”.

O recado do Ocidente não caiu bem junto ao governo chinês, que condenou as alegações da Otan. Em resposta, Beijing acusou as lideranças da aliança de exibirem “preconceitos ideológicos” com “mentalidade da Guerra Fria” a fim de promover “confronto e conflito”.

Secretário-geral da Otan, Jens Stoltenberg (Foto: NATO North Atlantic Treaty Organization/Flickr)

O porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da China, Zhao Lijian, foi mais contundente. “O chamado novo Conceito Estratégico da Otan ignora fatos, distorce a verdade, vilipendia a política externa da China, faz declarações irresponsáveis ​​sobre o desenvolvimento militar natural da China e sua política de defesa nacional”, disse ele, em fala repercutida pela mídia estatal russa.

O Conceito Estratégico citado pelo porta-voz chinês é o documento orientador da Otan, que durante a cúpula foi atualizado pela primeira vez desde 2010. Ele aponta Moscou como a “ameaça mais significativa e direta à segurança dos aliados” por conta da invasão à Ucrânia, enquanto a China foi incluída devido à crescente agressão de Beijing no Pacífico. 

“Não consideramos a China um adversário”, disse o secretário-geral da Otan, Jens Stoltenberg durante coletiva de imprensa antes do início da encontro na terça-feira (28). “Mas estamos desapontados com o fato de que a China não foi capaz de condenar a invasão russa à Ucrânia, espalhando muitas das narrativas falsas”, acrescentou.

Por que isso importa?

Criada em 1949 como uma resposta à União Soviética, a Otan tem como finalidade essencial proteger de eventuais agressões externas os Estados-Membros com poder militar reduzido. Atualmente, 30 países fazem parte da aliança, cuja convenção prevê em seu artigo 5º que um ataque contra qualquer um deles é um ataque contra todos eles.

Em meio à guerra na Ucrânia e com a crescente ameaça russa, essa cláusula de solidariedade militar levou Finlândia e Suécia a abandonarem décadas de neutralidade, solicitando o ingresso na aliança. Helsinque, por exemplo, compartilha com Moscou uma fronteira de 1,3 mil quilômetros e se diz ameaçada.

“Tudo mudou quando a Rússia atacou a Ucrânia. E eu, pessoalmente, acho que não podemos mais confiar que haverá um futuro pacífico ao lado da Rússia”, disse a primeira-ministra finlandesa Sanna Marin em abril, classificando a adesão como “um ato de paz, [para] que nunca mais haja guerra na Finlândia no futuro”.

A premiê sueca Magdalena Andersson também manifestou preocupação com a Rússia ao justificar a decisão. “Para garantir a segurança do povo sueco, o melhor caminho a seguir é se juntar à Otan, assim como a Finlândia”.

Moscou, por sua vez, usou a expansão da Otan rumo ao leste como uma das justificativas para a invasão da Ucrânia, devido ao fato de que está cercada de inimigos. E, em maio, deixou sua insatisfação clara novamente, diante da possibilidade de os escandinavos se juntarem à aliança.

“Finlândia, Suécia e outros países neutros participam há anos dos exercícios militares da Otan. A Otan levou em consideração seus territórios ao planejar seu movimento para o leste”, disse o porta-voz do Kremlin Dmitry Peskov.

O vice-ministro das Relações Exteriores Sergei Ryabkov reforçou a posição russa. “Será outro erro grosseiro com consequências de longo alcance. Mas, infelizmente, esse é o nível de sanidade daqueles que estão tomando decisões políticas nos países correspondentes”.

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