Perseguidos na China, tibetanos exilados vão às ruas na Índia protestar contra Beijing

Cerca de 300 pessoas protestaram contra o domínio chinês no Tibete e contaram com o aval do governo indiano, hoje rival da China

Centenas de tibetanos foram às ruas no domingo (10) para uma manifestação que marcou os 65 anos da Revolta de 1959 contra a China. A demonstração não ocorreu em nenhum cidade chinesa, sequer no Tibete, hipótese impensável devido à repressão estatal de Beijing. O palco foi Nova Délhi, na Índia, onde vivem exilados. As informações são da agência Associated Press (AP).

Os manifestantes, cerca de 300, se reuniram em frente ao Parlamento indiano com bandeiras tibetanas e fotos do Dalai Lama, o líder espiritual igualmente exilado, que a China considera um perigoso extremista.

Embora o próprio governo indiano classifique oficialmente o Tibete como parte da China, recebeu bem a manifestação conforme as relações entre os dois países vão declinando, sobretudo em função de uma disputa territorial na região da Caxemira. O governo indiano, nos últimos anos, passou a apoiar as demandas do Tibete por autonomia, o que enfurece Beijing.

Bandeira da China no Templo de Jokhang, em Lhasa, considerado o mais sagrado do Tibete, janeiro de 2009 (Foto: CreativeCommons/Penny Morlock)

No protesto de domingo, os manifestantes pediram que a China deixe o Tibete, gritando que “o Tibete nunca fez parte da China.” O evento foi organizado pela ONG Congresso da Juventude Tibetana, que acusa o governo chinês de usar a violência para reprimir os pedidos por autonomia desde a frustrada Revolta de 1959.

A ocupação chinesa no Tibete começou em 1950, quando o Exército de Libertação Popular (ELP) invadiu e assumiu o controle da região, episódio que Beijing classifica como uma “libertação pacífica”.

O domínio chinês gerou a Revolta de 1959, com a resistência tibetana esmagada pelas tropas chinesas, que executaram os guardas do líder espiritual e destruíram mosteiros de Lhasa. Diante do cenário de destruição, o 14º Dalai Lama, Tenzin Gyatso, fugiu para a Índia.

“Desde então, o regime chinês recorre a tácticas brutais que resultaram na morte de mais de um milhão de tibetanos que protestaram pacificamente contra o regime opressivo chinês”, afirmou a ONG tibetana em comunicado.

Cultura tibetana ameaçada

Uma das medidas adotadas por Beijing é a assimilação cultural, que passa pela substituição gradual de termos e símbolos tibetanos por elementos da cultura chinesa. Isso inclui a promoção ativa do uso da palavra “Xizang” em vez de Tibete em referências oficiais em inglês à região, parte de uma tentativa de redefinir a identidade tibetana de acordo com a perspectiva chinesa.

Além disso, o governo chinês implementa políticas linguísticas que incentivam o uso do mandarim em detrimento do tibetano. Essas medidas visam suprimir a língua local, que desempenha um papel crucial na preservação da identidade cultural.

Outra tática é o controle rígido sobre a educação, com ênfase na disseminação da narrativa oficial chinesa sobre a história e a cultura do Tibete. A imposição de internatos e a separação de crianças de suas famílias também são parte desse esforço para moldar a identidade das gerações mais jovens de acordo com a visão chinesa.

Essas políticas têm sido criticadas por organizações de direitos humanos e representantes do governo tibetano no exílio, que argumentam que tais medidas representam uma ameaça à preservação da cultura e identidade locais.

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