Poema de jornalista chinês é excluído de rede social por presumida ofensa a Xi Jinping

Xuan Kejiong, repórter do veículo estatal Shanghai Media Group, escreveu versos sobre cigarras e suas “cabeças gordas e orelhas grandes” que viralizaram na internet

Xuan Kejiong, jornalista do Shanghai Media Group, rede estatal chinesa de rádio e TV, foi obrigado a remover um poema supostamente ofensivo ao presidente Xi Jinping de sua conta no Weibo (semelhante ao Twitter), onde tem 1,6 milhões de seguidores. As informações são do jornal britânico Evening Standard.

Os versos, que falavam sobre cigarras e suas “cabeças gordas e orelhas grandes”, segundo explicou o autor, na verdade, eram uma “ode ao verão”, inspirados em experiências próprias de correr no calor. Sem fazer qualquer referência ao líder chinês, garantiu ele.

Os problemas de Kejiong começaram quando seu poema viralizou na internet, com diversos usuários questionando o veículo que ele trabalha sobre “o que ele realmente quis dizer” com aquilo. Em resposta, o Shanghai Media Group emitiu uma nota dizendo que “criticou solenemente o repórter Xuan Kejiong, que reconheceu seu erro”.

Xi Jinping, presidente da China (Foto: Global Panorama/Flickr)

Xi Jinping tem trabalhado forte desde 2018 para impedir piadas relacionadas a sua aparência, que renderam a ele o apelido de “Ursinho Pooh”. Tanto que o filme ‘Christopher Robin – Um Reencontro Inesquecível’, que mostra o personagem da Disney e sua turma, chegou a ser banido na China para evitar comparações físicas entre o mandatário e o carismático urso.

Nesta semana, uma lista de censura vazada no Telegram, revelou o trabalho de moderadores chineses na internet, que agem em uma espécie de “campanha antimeme” para bloquear esses e outros apelidos, como “Adolf Xitler” e “CoronaXi”.

Beijing alega que os memes são “um esforço sério para minar a dignidade do escritório presidencial e do próprio Xi”.

Por que isso importa?

No “ranking da liberdade” da ONG Freedom House, com sede em Washington, a China está entre os últimos colocados, com base em 25 medidas de direitos políticos e liberdades civis. O país soma nove pontos de cem possíveis, acima apenas de outras 13 nações que têm pontuação ainda mais baixa.

Na China, o simples fato de citar a democracia leva à repressão do Estado. Algo que ficou claro nos protestos de 2019 em Hong Kong, que até hoje rendem prisões e denúncias contra seus organizadores e participantes. Segundo a ONG Hong Kong Watch, baseada no Reino Unido, até o dia 31 de janeiro deste ano, 10.294 pessoas foram presas por motivação política em Hong Kong, sendo que cerca de 2,3 mil foram posteriormente processadas pelo Estado.

A internet também deixa claro que os valores democráticos não têm vez na China, que bloqueia as redes sociais dos EUA e utiliza suas próprias versões, estas submetidas à censura do Partido Comunista Chinês (PCC). É o caso do Weibo. Lá, uma postagem do jornal estatal People’s Daily sobre o ataque do Ministério das Relações Exteriores à democracia norte-americana recebeu inicialmente cerca de 2,7 mil comentários. Depois de a censura começar a agir, restaram pouco mais de uma dúzia.

E a repressão imposta pela China a seus cidadãos já ultrapassa as próprias fronteiras. Artigo publicado pela revista Foreign Policy em outubro do ano passado mostra como o PCC, fazendo uso da lei de segurança nacional de Hong Kong, tem poder para calar críticos que vivem a milhares de quilômetros de distância.

Aconteceu, por exemplo, com o empresário britânico Bill Browder, alertado pelo Ministério das Relações Exteriores do Reino Unido a não viajar para países que honrem os tratados de extradição com Hong Kong. Ativista em defesa de sanções contra funcionários do governo britânico cúmplices de abusos dos direitos humanos, ele poderia ser preso e extraditado para o território controlado pela China por seu discurso crítico contra os abusos cometidos pelo PCC.

Isso porque a lei de segurança nacional prevê a acusação de qualquer pessoa, em qualquer lugar, por discurso considerado hostil aos interesses de segurança chineses. “Os ditames da China afetam os esportes, Hollywood, o mundo editorial, os meios de comunicação e o jornalismo, o ensino superior, as empresas de tecnologia e mídia social e muito mais”, diz o artigo.

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