De saída do cargo, o presidente da Micronésia, David Panuelo, acusou a China de suborno, assédio e “guerra política”, em uma carta explosiva enviada nesta sexta-feira (10) ao Congresso do país do Pacífico. No documento, ele também defendeu o rompimento dos laços diplomáticos com Beijing. As informações são da agência Al Jazeera.
“Simplificando, estamos testemunhando uma guerra política em nosso país”, alertou Panuelo aos parlamentares, detalhando alegações de espionagem chinesa, coerção de funcionários do governo e “ameaças diretas” contra sua segurança pessoal como parte de uma tentativa de assumir o controle da região semiautônoma de Taiwan.
Na carta, de 13 páginas, que vazou em meio a uma crescente preocupação em relação às ambições de Beijing no Indo-Pacífico, Panuelo disse que a China está se preparando para invadir o território taiwanês e fez acusações sobre interferência política de Beijing para garantir que a Micronésia permaneça neutra em caso de guerra ou fique alinhada com o governo de Xi Jinping.
“Os impactos práticos, no entanto, do controle chinês sobre nossa infraestrutura de comunicações, nosso território oceânico e os recursos dentro deles, e nosso espaço de segurança, além dos impactos em nossa soberania, é que aumentam as chances de a China entrar em conflito com Austrália, Japão, Estados Unidos e Nova Zelândia no dia em que Beijing decidir invadir Taiwan”, disse Panuelo no documento.
O presidente, que perdeu as últimas eleições e deixará o cargo em maio, já havia expressado preocupações sobre a crescente influência de Beijing no Pacífico Sul, principalmente ao se opor a um acordo de segurança que poderia permitir o envio de tropas chinesas à região. O político, que é aliado de Washington, tem um histórico entre os líderes mundiais de ser um tanto quanto aberto e direto em sua análise do comportamento e das ações chinesas.
“A China demonstrou uma forte capacidade de minar nossa soberania, rejeita nossos valores e usa nossos eleitos e altos funcionários para seus próprios propósitos”, disse Panuelo.
Ele também disse que foi perseguido por “dois homens chineses” enquanto participava do Fórum das Ilhas do Pacífico em Fiji em julho do ano passado. O líder afirmou que ambos eram funcionários da embaixada e que um foi posteriormente identificado como um “oficial de inteligência” dos militares chineses.
Sobre o assédio, Panuelo relatou que teve que mudar seu número de telefone por causa de ligações “incessantes” do embaixador da China, que tentava persuadi-lo a aceitar vacinas chinesas contra a Covid-19.
Beijing condenou as acusações e acusou Panuelo de “difamações e acusações” que “não estão de acordo com os fatos”.
“A China sempre tratou todos os países, grandes ou pequenos, como iguais”, disse o porta-voz do Ministério das Relações Exteriores, Mao Ning. E acrescentou: “O lado chinês está sempre disposto, com base no princípio de “Uma Só China“, a defender os princípios de respeito mútuo, igualdade e benefício mútuo e impulsionar a cooperação amigável com a Micronésia”.