Pyongyang busca redefinir os laços com Seul, viabilizando um eventual ataque nuclear

Regime de Kim Jong-un cogita classificar oficialmente a Coreia do Sul como um Estado inimigo, não como parte da mesma nação

Coreia do Norte está reformulando sua abordagem nas relações com a Coreia do Sul, implementando mudanças na política e nas organizações governamentais para tratar o Sul como um Estado separado e inimigo. Em última instância, essa medida poderia viabilizar um ataque nuclear de Pyongyang contra Seul, como informa a agência Reuters.

As mudanças devem resultar no Ministério das Relações Exteriores norte-coreano assumindo as relações com o Sul. Possivelmente, isso contribuiria para justificar o uso de armas nucleares contra Seul em um futuro conflito, afirmam analistas.

Desde o impasse na Guerra da Coreia nos anos 1950, ambas as nações adotaram políticas distintas para lidar uma com a outra em comparação com outros países. Em 1953, o conflito terminou após um cessar-fogo, mas até hoje não houve paz definitiva. Desde 1969, o governo de Seul tem um ministério cuja função é promover a noção de uma única Coreia.

Guardas de fronteira: Coreia do Norte à direita, Coreia do Sul à esquerda (Foto: Michael Day/Flickr)

As políticas distintas envolvem o uso de agências e ministérios especiais para relações intercoreanas, em vez de depender de seus ministérios de Relações Exteriores. Atualmente, também são adotadas políticas que visam uma reunificação pacífica no futuro, frequentemente considerando a possibilidade de um único Estado com dois sistemas.

No entanto, em comentários feitos durante uma reunião de final de ano na semana passada, isso parece estar mudando. O líder norte-coreano Kim Jong-un afirmou que a reunificação pacífica é impossível e anunciou uma “mudança decisiva” na política em relação ao “inimigo”. Ele também deu ordens para que as Forças Armadas estejam prontas para pacificar e ocupar o Sul em caso de crise.

Hong Min, um pesquisador do Instituto Coreano para a Unificação Nacional, em Seul, enfatiza que, se a Coreia do Norte abandonar a ideia de uma reunificação pacífica e passar a considerar o Sul como um inimigo hostil, sem relações diplomáticas, “a contradição de usar armas nucleares contra o mesmo povo seria eliminada.”

O próprio governo norte-coreano tocou nesta questão. A agência estatal KCNA chamou nesta quinta-feira (4) os EUA e o Japão, aliados de Seul, de “forças agressoras” que cooperam com o “fantoche sul-coreano”. E concluiu que “este ano será aquele com maior perigo de confronto”, com a perspectiva inclusive de “ataques nucleares”.

Ameaça nuclear

A escalada de tensão na Península Coreana não é recente e em boa parte se deve aos seguidos testes de mísseis pela Coreia do Norte, que levaram os EUA e seus aliados a realizarem manobras militares voltadas a intimidar o regime comunista, para assim conter sua beligerância.

Em dezembro, a ONU (Organização das Nações Unidas) fez um alerta à Coreia do Norte após mais um lançamento. No caso, o país testou um míssil balístico intercontinental (ICBM, na sigla em inglês) do tipo Hwasong-18, que voou uma distância de cerca de mil quilômetros e atingiu uma altitude de 6,5 mil quilômetros antes de cair no mar.

Foi o quinto lançamento de um ICBM neste ano, após um Hwasong-15 em fevereiro, um Hwasong-17 em março e mísseis de combustível sólido Hwasong-18 em abril e julho. Os sistemas do artefato testado mais recentemente seriam capazes de alcançar a maioria dos pontos da Terra, podendo assim atingir os EUA.

Também no fim do ano passado, a Agência Internacional de Energia Atómica (AIEA) disse ter detectado níveis crescentes de atividade em um reator nuclear do complexo de Yongbyon, indício de que o país trabalha para obter mais plutônio para armas nucleares.

Em comunicado, a AIEA disse que a movimentação em Yongbyon é “motivo de preocupação” e alertou que o desenvolvimento do programa nuclear norte-coreano “é uma violação das resoluções do Conselho de Segurança da ONU e é profundamente lamentável.”

Tags: